terça-feira, 13 de setembro de 2011

NOVA GALERIA LEME de PAULO MENDES DA ROCHA (?)

     Em julho, noticiamos aqui no transbordarquitetura! a demolição da galeria Leme, projeto recente de Paulo Mendes da Rocha com o escritório Metro, em São Paulo. O objetivo da demolição seria dar lugar a mais um grande projeto imobiliário na marginal do rio Pinheiros e, como especulado na época, a compensação apresentada pela Odebrecht (empresa construtora responsável pelo novo edifício que ocupará o lugar da galeria) seria reconstruir o projeto da edificação demolida em um terreno próximo ao original. Dito e feito. Já estão avançadas as obras da Nova Galeria Leme e em breve, quando estiver concluída a nova edificação, o antigo projeto será destruído.



Imagens da nova obra retiradas há pouco mais de uma semana atrás. Mais ao alto, o novo anexo, e logo acima, os fundos do novo edifício principal da galeria. Pode-se notar as aberturas que serão conectadas pela nossa passarela.

     Se há alguns meses nós já discutíamos aqui os desdobramentos de se copiar um projeto em outro terreno e em outra situação com a cidade, como é o caso da Nova Galeria Leme, agora, com a obra em andamento e o novo edifício levantado, fica mais evidente o impacto das diferenças dos dois projetos. Embora tenha sido feito um esforço grande para associar a demolição da Galeria Leme com a construção de um uma cópia sua no mesmo bairro, reduzindo assim as possíveis polêmicas sobre a destruição de um projeto daquele que é reconhecido como um dos maiores arquitetos brasileiros e prêmio Pritzker, Paulo Mendes da Rocha, o que vemos ali é um projeto novo. 

     É claro que há algo da antiga galeria que foi respeitado, pois não se abandonou seu feitio original, porém, por conta da nova implantação de esquina, do novo edifício anexo e de algumas significativas pequenas alterações, não há como negar que não se trata de uma simples cópia ou reconstrução do desenho que havia sido feito pra Galeria que logo logo será destruída. Se antes tínhamos uma tímida edificação que, por entre sisudas e altas paredes de concreto, abria pequenos recortes para a cidade, agora temos duas grandes massas edificadas, relacionadas com grande perspectiva para a cidade e que apresentam como grande ícone a nova ponte projetada para ligar a galeria e o seu anexo. Ou seja, um projeto diferente do original que, além de tudo, tem sua orientação solar modificada.




Imagens do novo projeto para a Galeria Leme.

     Assim, conhecido o novo projeto e sabendo-se das diferenças notórias que apresenta com o desenho original, fica a dúvida do porque se propagar a estranhíssima idéia de que haveria replicação do projeto que será demolido. Se alguém acreditava mesmo que esta seria uma forma positiva de se compensar a perda que a cidade terá em destruir um trabalho de um dos maiores arquitetos brasileiros para dar lugar a banais torres de escritórios, o que vemos é uma total transformação do que parecia ter sido proposto. Se era para fazer um novo projeto, por que não partir realmente para uma edificação nova projetada desde o seu início, respeitando-se o novo terreno e a nova implantação? O próprio Paulo Mendes deveria ser convidado para isso, e o escritório Metro junto com ele, para aí sim começarmos a pensar em uma compensação real para a cidade com a demolição da Galeria Leme original.

     Estamos abrindo espaço mais uma vez para uma promiscuidade sem fim de interesses que desrespeitam as nossas cidades e que passam por cima da nossa cultura e arquitetura brasileiras. A demolição da Galeria Leme é um caso esquizóide de tentativa de compensação através da cópia, que acabou não se revelando tão idêntica assim, e que em nada contribui verdadeiramente para pensarmos na cidade em transformação. Paulo Mendes comentou para o Diário de São Paulo a respeito do caso que “a modernidade está fazendo com que imóveis virem móveis”, porém, mais que isso, me parece que neste caso há um total desrespeito com o trabalho de um dos nossos mais geniais arquitetos e uma visão estranhíssima sobre a memória na arquitetura e sua permanência na cidade. Mais uma vez uma brutal incongruência entre aqueles que pensam e respeitam a cidade, com os interesses obscuros de um capital de transformação da cidade que tem muito pouco a nos acrescentar em termos de beleza e qualidade de vida.

Para conhecer nossa primeira postagem sobre a demolição da Galeria Leme, acesse:

Imagem da edificação que será demolida.


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