domingo, 5 de fevereiro de 2012

A paisagem é um acontecimento!

A paisagem é um acontecimento que nem sempre podemos controlar. Resultante de transformações constantes, a paisagem nos convida a pensar a impermanência a que estamos sujeitos a todo o tempo, nos confrontando com os indomáveis efeitos de suas adaptações e alterações de toda ordem. A finitude, o incontrolável e toda uma coletânea de palavras que nos perseguem e nos assustam por toda uma vida cabem e se manifestam ali, seja nas grandes tempestades que modelam novos cursos de rio ou nas ações persistentes de uma natureza que cria formas surpreendentes como as do Pão de Açúcar.

Caminhando uma vez pela rua do Matão, uma via cercada por um grande bosque dentro da cidade universitária da USP, percebi que logo em cima de mim um robusto galho de árvore ameaçava cair. Cairia, não fosse pelo tênue equilibro que se estabeleceu entre ele e outros pequenos galhos de duas árvores. Parado imóvel por alguns poucos segundos, senti o quão frágil e estúpida pode ser uma morte, ou uma vida, e sabia que não haveria poda de galhos suficiente que pudesse impedir isso.

A dinâmica da paisagem pode ser assustadora se não entramos em um acordo com ela. No avesso deste entendimento, por medo, acabamos optando por ignorá-la, buscando uma blindagem para qualquer acontecimento novo que fuja do nosso controle e manifeste uma ameaça. Os jardins de nossas casas e cidades, amordaçados e estáveis, são um sinal perverso desse controle. Porém, esses pequenos segundos de falta de controle são exatamente aqueles que dão origem a uma dupla possibilidade: o desastre ou o belo. Pois quem duvida que a forma estonteante da Pedra da Gávea ou a apoteose das quedas do Iguaçú surgiram de um terrível momento de descontrole de nós sobre a natureza? Não, essa não é uma apologia à paisagem de riscos eminentes, mas um sincero apelo pela desmistificação da nossa relação com a natureza através do medo.