Continuando a alimentar a ponte que começamos a estabelecer entre o transbordarquitetura! e o ComoVer, gostaria de dividir aqui algumas questões que há algum tempo pairam sobre a minha cabeça e que a respeito delas me interessa conhecer a opinião dos meus amigos de “blogagem”. Nesta semana visitei a exposição de trabalhos que concorreram aos concursos do parque olímpico do Rio de Janeiro e do Porto Olímpico, todos expostos na sede carioca do Instituto dos Arquitetos do Brasil. A exposição acaba de deixar o IAB-RJ mas traz para mim uma velha questão sobre a solidificação de uma cultura de concursos de arquitetura no Brasil que, embora importantíssima do ponto de vista de estímulo ao fortalecimento e atuação dos escritórios e arquitetos brasileiros, me parece fazer parte da construção de uma arquitetura de viés mais competitivo do que cooperativo.
Explico. É claro que não tenho dúvidas sobre os benefícios de uma cultura de concursos de idéias de arquitetura que, além de promoverem publicamente os objetos de concurso e a própria arquitetura, estimulam a troca de idéias e fazem escritórios e arquitetos conhecerem seus pares. Porém, vejo nessa construção de um ideário de concursos públicos a replicação de um padrão internacional de disputas que não respeita outros aspectos da arquitetura como o tempo, a aprendizagem ao longo do trabalho ou a cooperação. Se não caio na provocativa dicotomia insinuada no título desta postagem, pois não acho que se deva optar por competição ou cooperação, também não concordo que nos esqueçamos de construir junto à uma cultura forte e bacana de concursos públicos de arquitetura um espaço rico de cooperação entre arquitetos e projetos de arquitetura.
Digo isso porque vejo que a competição de projetos, assim como a competição entre cidades sedes de olimpíadas ou por aquelas com mais turistas ou com o melhor branding de sucesso, parece fazer parte de um mundo corporativo que se constrói pela ocupação do espaço de um no lugar do outro. Não acredito sinceramente que os concursos sejam um espaço de democratização da arquitetura só porque permitem que todos participem com igual capacidade de vitória. Pelo contrário, pela necessidade de um padrão único e rápido de apresentação e divulgação da idéia, já que em concursos a beleza fácil e a publicização do trabalho são tão fundamentais quanto aspectos mais filosóficos da arquitetura, me parece que na maioria das vezes eles nos servem para engessas aspectos e criar fetiches estéticos, permitindo que só hajam alguns vencedores óbvios. Há um diferença clara e que todos reconhecem entre se fazer um projeto para vencer um concurso e um projeto para ser excepcional e doador de qualidade para a cidade.
Frank Lloyd Wright já dizia que os vencedores de concurso não eram nem os melhores nem os piores, mas sempre os medianos, e que por isso não fazia questão de ganhar nada. Outros tantos arquitetos argumentam isso e não é de hoje a visão de que concursos e competições de arquitetura são um estímulo ingênuo à boa arquitetura e ao fomento da criatividade de arquitetos. No mesmo caminho têm rumado as discussões sobre editais de cultura que promovem a competição entre projetos culturais e ações artísticas, pois há uma percepção geral de que elescerceiam a capacidade criativa ao padronizarem exigências e prazos. A arquitetura compartilha nesse sentido dos mesmos dilemas que as outras artes.
Então, que outros caminhos são possíveis para se conseguir os mesmos resultados esperados pelos concursos? Se são louváveis as iniciativas de instituições de arquitetura em promoverem concursos para tentar fortalecer o trabalho dos arquitetos e tentar trazer qualidade aos novos empreendimentos a serem divulgados e trabalhados, como ir além da mera competição quando o assunto é pensar uma boa arquitetura? Não tenho as respostas e talvez seja um tanto tola esta minha questão, mas sinto que falta ainda um caminho cooperativo em que arquitetos possam se ajudar mutuamente e compartilhar as questões que envolvem seus trabalhos diários. Escritórios parecem viver isolados na cidade e apenas têm a oportunidade de se encontrarem ou se olharem quando estão em competição plena para ver quem apresenta o melhor resultado. A academia e os trabalhos de faculdade estão seguindo o mesmo caminho , pois se baseiam no mercado e no que acontece com os grandes escritórios, reproduzindo em sala de aula a competição e a escolha pelo melhor trabalho.
Não acredito em melhores trabalhos assim e ia adorar que os próprios selecionados em concursos pudessem votar pelo trabalho que mais gostaram ou pelo arquiteto que acharam mais bem sucedidos na competição. Isso ao menos forçaria que todos tivessem uma troca mais efetiva e generosa. Um exemplo maravilhoso da nossa arquitetura brasileira e que eu acho que tem tudo a ver com esta discussão é o Palácio Gustavo Capanema, o prédio do MESP do Rio de Janeiro, grande baluarte da arquitetura moderna. Se a competição e o concurso promovidos para a escolha do projeto foram implodidos, esquecendo-se o vencedor Arquimedes Memória e dando lugar ao grandioso Lucio Costa pela amizade que tinha com membros do ministério, Lúcio nos deu uma lição sobre cooperação ao chamar vários dos seus colegas modernos de concurso para trabalharem no novo projeto. Foi assim nasceu Niemeyer, assim encontramos com Corbusier e assim formamos o Brasil, com misturas e danças de roda. Precisamos encontrar mais espaços de cooperação na arquitetura e, nesse sentido, faço desta vontade uma forma de agradecer aos meus amigos do blog ComoVer por estarem compartilhando aqui comigo suas visões e vontades sobre arquitetura.
Deixo então a pergunta, meus amigos: isso tudo faz algum sentido para vocês?
Para visitar o ComoVer sempre: http://www.comover-arq.blogspot.com/
É, realmente Conrado. Faz bastante sentido a questão que você coloca. Concordamos que se estamos realmente dando importantes passos com a cultura de concursos em nosso país, por outro lado ainda falta a divulgação dos debates que, temos certeza, ocorrem entre os arquitetos e urbanistas. Não vamos nos esquecer de quão prolífico foi o debate pós divulgação do vencedor do concurso para o Pavilhão do Brasil na Expo '92 de Sevilha (com o polêmico projeto de Bucci, Puntoni e Vilela). Já pensou que legal seria promoverem palestras e debates abertos ao público antes e depois dos resultados dos concursos? Afinal não é essa a proposta dos concursos? Promover debates saudáveis sobre um determinado tema, quebrar paradigmas, elevar o repertório? Ótimo post Conrado! Se cuide.
ResponderExcluir