domingo, 5 de fevereiro de 2012

A paisagem é um acontecimento!

A paisagem é um acontecimento que nem sempre podemos controlar. Resultante de transformações constantes, a paisagem nos convida a pensar a impermanência a que estamos sujeitos a todo o tempo, nos confrontando com os indomáveis efeitos de suas adaptações e alterações de toda ordem. A finitude, o incontrolável e toda uma coletânea de palavras que nos perseguem e nos assustam por toda uma vida cabem e se manifestam ali, seja nas grandes tempestades que modelam novos cursos de rio ou nas ações persistentes de uma natureza que cria formas surpreendentes como as do Pão de Açúcar.

Caminhando uma vez pela rua do Matão, uma via cercada por um grande bosque dentro da cidade universitária da USP, percebi que logo em cima de mim um robusto galho de árvore ameaçava cair. Cairia, não fosse pelo tênue equilibro que se estabeleceu entre ele e outros pequenos galhos de duas árvores. Parado imóvel por alguns poucos segundos, senti o quão frágil e estúpida pode ser uma morte, ou uma vida, e sabia que não haveria poda de galhos suficiente que pudesse impedir isso.

A dinâmica da paisagem pode ser assustadora se não entramos em um acordo com ela. No avesso deste entendimento, por medo, acabamos optando por ignorá-la, buscando uma blindagem para qualquer acontecimento novo que fuja do nosso controle e manifeste uma ameaça. Os jardins de nossas casas e cidades, amordaçados e estáveis, são um sinal perverso desse controle. Porém, esses pequenos segundos de falta de controle são exatamente aqueles que dão origem a uma dupla possibilidade: o desastre ou o belo. Pois quem duvida que a forma estonteante da Pedra da Gávea ou a apoteose das quedas do Iguaçú surgiram de um terrível momento de descontrole de nós sobre a natureza? Não, essa não é uma apologia à paisagem de riscos eminentes, mas um sincero apelo pela desmistificação da nossa relação com a natureza através do medo.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Árvore do Museu (ou Viva Elvira de Almeida!)






          A paisagem é um acontecimento. É poça nova de um dia depois da chuva, é planta que surge da fresta de uma calçada torta, é fruta que cai de madura, é raio, é chuva, é pisada de havaiana na terra molhada, é folha seca que faz barulho pelo caminho. Na paisagem tudo é fruto de uma ação, de um ato, de uma transformação.

         Outro dia, passeando pelos Jardins do Museu da República, no Rio, me deparei com esse lindo tronco de árvore estirado no gramado. Contorcido e em pedaços, o tronco parecia chamar para a brincadeira de uma criança ou para a contemplação de um visitante curioso. Resultado do tempo, que a fez envelhecer, ou da tempestade, que a fez ruir, a árvore que ali estava já havia tomado um outro lugar naquele jardim. 





     Cara a cara com o playground de brinquedos de plástico do Museu, logo lembrei das esculturas lúdicas da Elvira de Almeida e de um dos seus trabalhos que mais gosto: A Árvore da FAU. Elvira, que foi professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, levou uma árvore inteira que havia tombado em frente à faculdade para o Parque do Ibirapuera, planejando para aquele tronco de árvore um destino mais alegre que o apodrecimento ou a lixeira.

        Assim fez um incrível brinquedo tão simples e tão lúdico como nenhum daqueles de plástico que eu estava vendo poderiam ser. Nossa alienação em relação à natureza, suas transformações e mudanças, não precisaria ser tanta se pudéssemos incluir estes pequenos acontecimentos da paisagem no nosso cotidiano. Fosse para a brincadeira de uma criança, para a criação de um playground, para a construção de uma cidade ou até mesmo para a realização de uma nova maneira de construir um planeta. Viva Elvira de Almeida! 

p.s. ARTE LÚDICA, o livro sobre a obra de Elvira editado pela EDUSP, está em falta nas livrarias. É um daqueles livros que precisam ser reeditados mais que urgentemente para continuar fazendo reverberar os incríveis trabalhos de geniais artistas como Elvira de Almeida!


E, por fim, meus bobos croquis muito mal escaneados de uma Árvore do Museu:








domingo, 15 de janeiro de 2012

2012!

     
     Navegar com este blog aqui não é fácil. Mesmo depois de dois anos, ou quase isso, de tentativas, escritas e outras coisinhas mais, ainda não consegui achar um tom ou fim para que ele realmente represente um espaço interessante para mim. Tenho achado que venho aqui muito mascarado, acobertado por um tom pseudo-jornalístico que, não tenham dúvidas, não é meu! Mas como não temer a criação de um espaço ao mesmo tempo íntimo e compartilhado, finalidade ímpar de um bom blog? Não sei. Não sei ao certo. Tentativas e erros quantos forem possíveis!

     Só sei que preciso ser mais sucinto, rápido, certeiro. Vamos ver se consigo, pois a prolixidade tem sido o meu forte há anos. Exercitemos então....