terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Mundo Errante da Casa Fugitiva de Kyong Park






Ultimamente ando muito ligado a pensar, devorar textos, ingerir imagens da tão misteriosa e surpreendente cidade de Detroit, capital do estado norte-americano do Michigan. Sendo assim, não se surpreendam se a partir de agora muitas coisas novas ligadas à isto aparecerem por aqui neste blog, até porque Detroit é tão instigante que não parece que vá parar de trazer à tona novas questões poéticas, estéticas, filosóficas e políticas.
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Pois bem, Detroit, para quem não está familizarizado, sempre foi a cidade referência, ou garota propaganda, da indústria automobilística nos Estados Unidos e, justamente por isso, refletia em cada uma das suas ruas as marcas dessa estreita relação. Quer dizer, a cidade ainda é reflexo daquela metrópole do passado que chegou a ter um milhão e meio de habitantes na primeira metade do século XX, sede da General Motors, só que hoje a única propaganda possível é de uma cidade que só faz encolher, com uma população majoritariamente negra e latina, centenas de casas abandonadas, edifícios vazios e um futuro incerto.
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Isso porque, com a diferenciação das estratégias de mercado e a fuga das indústrias para países do terceiro mundo de mão de obra menos qualificada e mais barata, a cidade de Detroit que era tão subordinada ao movimento de capitais vindos da indústria do automóvel perdeu sua maior fonte de investimento e também sua principal característica definidora - Detroit era a própria cidade do automóvel.
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Dentro de toda essa realidade de dependência e decadência, seja desta cidade ou da própria indústria automobilística, não esquecendo o impacto da bolha imobiliária recente ocorrida nos EUA para as cidades norte-americanas, um novo movimento tem buscado “voar com a bala” e encontrar as incríveis possibilidades que existem num campo de experimentação tão generoso quanto da cidade decadente, vazia e abandonada, que é resultado de um processo natural do sistema a que quase todas as cidades do planeta estão subordinadas.
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Há quem diga que as cidades do futuro serão, por conta dos movimentos de valorização e abandono promovidos pelo próprio capitalismo a partir da sua mudança de interesses, cidades abandonadas em detrimento da busca e valorização de outras até que estejam novamente no foco do interesse econômico. As cidades pólo que disponibilizarem as facilidades para o desenvolvimento do capital atrairão pessoas, dinheiro e vida, enquanto aquelas que já não disponibilizam mais estas facilidades serão abandonadas, num processo sem fim certo. Ou seja, o mundo verá, a partir desse viés, cidades vivas e outras mortas, dependendo das demandas do capital.
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Dentro deste novo panorama pressuposto, Kyong Park, arquiteto e artista sul-coreano radicado nos Estados Unidos, ironiza em uma de suas principais obras os processo de transformação dessa sociedade que se abandona, se perde e se esvazia em memória, que já não tem mais fronteiras e que se faz errante em si mesma. Em 24620: The Fugitive House, Park dá um CRTL+C em uma das centenas de casas abandonadas e vazias de Detroit, recortando literalmente a edificação do seu contexto, e a remonta em outras cidades mundo afora. Viajante como o próprio Park, que está sempre em trânsito, a casa não tem destino certo e parece compartilhar de um novo mundo onde os fluxos se intensificam e a velocidade é tamanha que nada mais parece familiar, estável ou seguro. A própria casa, símbolo da estabilidade, fixação e do enraizamento, já não se encontra mais em lugar algum. A casa viajante, fugitiva de seu contexto, já não se reconhece em lugar algum.
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Detroit é, sem sombra de dúvidas, um campo fértil.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Por que temos medo de viver na floresta? – Um píer e dois museus.












Sei que estou um pouco atrasado ao boom de notícias e comentários sobre a aparição do projeto do Calatrava para o Museu do Amanhã e também sobre a série de prometidas e vangloriadas transformações para a zona portuária do Rio de Janeiro, mas hoje vou me redimir. Como o Rio é a minha cidade, todas essas mudanças mexem muito comigo, principalmente porque vejo que a cidade esta enfim trazendo de volta o debate da arquitetura e as suas questões próprias para junto da população, o que traz também enormes e importantes potencialidades. Sendo assim, por mais que eu tenha demorado a escrever alguma coisa sobre o assunto, é certo que a cada nova notícia ou imagem fico mais curioso e com mais vontade de participar dessas discussões todas e, é claro, trazê-las para este blog e dividi-las com vocês.
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Desde que vi o projeto do Museu do Amanhã, a partir dos registros no youtube da palestra de Calatrava no Rio e do seu vídeo de apresentação (links no final da postagem), não consigo parar de pensar naquele outro projeto que um dia foi pensado para ser o baluarte das transformações dos bairros portuários cariocas e que saiu da jogada a partir de uma grande mobilização social e política. Estou falando do projeto do Guggenheim Rio, aquela polêmica empreitada patrocinada pela prefeitura do Rio que contratou o arquiteto Jean Nouvel para projetar a primeira filial do museu ao sul da linha do Equador. É evidente que concordo que pelos seus altos custos de implantação e manutenção com o uso de recursos públicos o Guggenheim se torna inviável, porém, não posso deixar de pensar que estamos hoje construindo uma outra arquitetura no mesmo lugar do extinto projeto e que estamos trazendo um novo discurso para a cidade.
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Sendo assim, gosto de pensar na força que existe nessas camadas de projetos que se fizeram para o Píer Mauá, primeiro o Guggenheim, depois um parque público e agora o Museu do Amanhã. Isso me faz acreditar numa coisa que valorizo muito, que é pensar que a idéia e o projeto, mesmo quando não são construídos e concretizados, como gostamos de falar, possuem uma força tamanha que também se afirma no espaço. Nesse caso, não consigo imaginar o novo Museu do Amanhã sem pensar em seus antecessores e, acredito eu, não conseguirei vivenciar esse espaço sem trazer um pedaço daqueles outros projetos que ficaram para trás.
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Digo isso porque o projeto de Nouvel teve grande impacto pra mim e para pensar a minha arquitetura e o meu jeito de entender arquitetura. Lembro muito bem o meu primeiro impacto ao ver a imagem do Guggenheim divulgada na primeira página do jornal O GLOBO, um adolescente bobalhão que sempre quis ser arquiteto chorando porque não havia entendido aquilo que se estava propondo para o porto. Naquela época eu nem estava na faculdade ainda, logo depois já havia me conquistado pelo projeto por conta d exposição que havia visto no Centro de Arquitetura e Urbanismo sobre o novo museu, mas só agora, anos mais tarde e já fazendo faculdade, me aproximei de verdade de verdade daquela arquitetura e da sua força.
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Dentro disso tudo, li outro dia aqui pela internet um comentário que comparava o projeto do Calatrava com o do Nouvel, focando especialmente no entendimento das obras com relação à paisagem carioca e, para meu desespero, desvalorizando o projeto do Nouvel. O moço dizia que o projeto do Guggenheim não compreendia a paisagem carioca, diferente do Museu do Amanhã que deixava claro que seu arquiteto havia entendido o que é o Rio. Para o rapaz, a prova maior disso era a floresta que o Nouvel havia planejado para o Guggenheim, uma prova de que não entende nada do Rio e que estaria reproduzindo uma imagem estereotipada do Brasil como um lugar de araras e banana. Adoro banana.
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Bom, ele não usou essas exatas palavras, pois eu já nem me lembro com muita exatidão daquilo que ele escreveu, fato é que imediatamente respondi aquele discurso todo e aquela minha resposta ficou ecoando na minha cabeça por um tempão até chegar aqui! Para mim a diferença entre os dois projetos, e nisso posso incluir o projeto intermediário a eles, o do parque público, falam muito dos destinos possíveis para as transformações da zona portuária, pois cada um dele traz consigo discursos distintos. Eu sei que isso é evidente, afinal são projetos diferentes, mas acho que, mais que isso, a diferença desses projetos pode trazer também uma importante discussão sobre o amanhã da nossa arquitetura, já que estamos falando aqui da construção efetiva de um museu que trata do amanhã. Por que não começamos agora?
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Para mim, quando Nouvel traz aquilo que quase sempre emoldura a paisagem carioca e está distante da realidade vivida pelas pessoas da cidade (com raras exceções), que é a floresta, traz também uma importante pergunta para que nós possamos discutir nossa cidade e sua relação com as pessoas e a arquitetura. Afinal, se estamos falando de um museu que pretendia ser mais visitado que o Cristo Redentor e que teria um acervo fabuloso, entre eles o do maior museu do mundo, o Hermitage da Rússia, qual o impacto de levar uma floresta para dentro dele? O que isso pode revelar da nossa experiência de cidade?
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Munido dessas perguntas, trago aqui a rica exposição ARQUITETURA BRASILEIRA Viver na Floresta, que esteve em cartaz no Tomie Ohtake de São Paulo até o final de julho, para alimentar a questão da nossa relação com o viver na floresta. Talvez eu nem me fizesse essa pergunta em relação ao Guggenheim não tivesse visto esta exposição, que traz um recorte histórico dos projetos de arquitetura brasileira que se relacionam com a nossa mata e o nosso ideal de floresta. Faço uma nova pergunta para se somar às outras: Como é o nosso viver na floresta?
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Juntando tudo isso, me encaminho para pensar que a floresta do Guggenheim trazia uma bela provocação para pensarmos na nossa relação em viver numa cidade como o Rio de Janeiro que possui a maior floresta urbana do mundo mas que, mesmo assim, mantém uma relação distanciada dela. Junto com isso me parece que Nouvel queria mais que um edifício de museu para o Guggenheim, nas próprias palavras do arquiteto para a Revista Época, ele "Queria também integrar a geografia e o relevo, que são excepcionais, a essa noção histórica. As promenades ao longo da água refletem a alma carioca, e meu projeto tem isso. Finalmente, ele se encaixa no contexto do porto, dialoga com as ilhas, com os barcos. O que propus foi um pequeno bairro portuário, com cinco ou seis unidades arquitetônicas que se parecem." (íntegra da entrevista no link no final da postagem).
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Assim, em sua proposta para um pequeno bairro portuário, da mesma forma como insere a experiência da floresta no museu, Nouvel parece estar interessado na vivência da atmosfera da zona portuária, do espírito carioca e de uma cidade apaixonada por sua grande floresta. Ou seja, para além de um grande ícone estilístico e um marco na paisagem, Nouvel estava interessado na experiência. Dessa forma, acho que o Guggenheim se opõe ao projeto do Museu do Amanhã, já que este, pelas próprias características do Calatrava, reivindica um lugar de destaque na paisagem e reafirma a assinatura do arquiteto.
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Saindo de um mérito sobre bom ou ruim, essas duas formas de pensar o maior ícone arquitetônico das transformações na zona portuária do Rio, sem dúvidas, nos indica como estamos pensando nossas relações com a arquitetura e qual norte estamos dando para essas transformações na cidade. Acho que o museu do amanhã, diferente do parquinho que estavam construindo, destrói definitivamente as chances do Guggenheim sair do papel. Isso é um fato, porém, pela existência e potência do projeto de Nouvel acredito que suas grandes qualidades de reivindicar uma arquitetura possível para o Rio devam reverberar em outros projetos para o porto e para a cidade como um todo. Não acredito, para finalizar, em mais um ícone postal de grande apelo para o olhar e nem mesmo em mais um museu sem acervo onde tudo passa pela imagem e a virtualização. Também não acredito numa plataforma espelho d’água sobre a baía de Guanabara, apenas essa for uma forma de mostrar o quanto queremos fugir da sua poluição das nossas águas e não lutamos contra ela. Não acredito, e agora sim termino, numa relação recreativa com a floresta pois acho que, assim como na provocação de Nouvel no Guggenheim, é possível pensar uma cidade em que a floresta está dentro do museu, dentro do estádio, dentro da casa de cada um, participando ativamente das nossas vidas. Por que temos tanto medo de viver na floresta?

Link vídeo de aprentação calatrava http://www.youtube.com/watch?v=pU2A9Fq3XQs












segunda-feira, 19 de julho de 2010

SESC Butantã. Respondendo ao comentário do Beto do último post!!!



















Bom, eu já estava até desanimado com o blog mas seu comentário na última postagem, Beto, me animou de novo! Eba! Esse blog foi criado com a intenção, antes de qualquer coisa, de que o projeto apresentado aqui pudesse sofrer infiltrações de pessoas de fora durante a construção dele. Nada feito! Porém, fiquei muito animado com a sua intervenção sobre o projeto, Beto, e lembrei que as infiltrações que vem de fora e que formam e interferem na arquitetura não acabam nunca. Obrigado por isso.
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Pois bem, li seu comentário e fiquei impressionado com tudo o que falou porque quase tudo fez parte de verdade da reflexão sobre a elaboração deste projeto. Inclusive a sua crítica mais discordante! Explico: quando falou do estranhamento em relação ao volume do teatro e a referência clara ao moderno carioca, você visualizou exatamente o que queríamos no projeto e praticamente descreveu tudo daquilo que desejávamos pra essa arquitetura.
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A nossa idéia foi copiar de forma idêntica o Teatro Popular do Reidy, em Marechal Hermes, no Rio, e replicá-lo ou colá-lo em um contexto novo. Neste caso no bairro do Butantã, em São Paulo, um bairro também períferico de um grande cidade brasileira. Dessa forma, estaríamos trabalhando mais uma vez nossas questões em relação à elementos exteriores que se infiltram em novos contextos, já que estávamos colando um outro projeto no nosso, como também traríamos mais uma vez a discussão em relação ao tempo, tão importante para nós. Afinal, qual seria o impacto de repdroduzir aquele teatro do século XX neste novo contexto? É cabível? Ele ainda é atual ou é facilmente reconhecível como algo ultrapassado? Enfim, muitas perguntas podem sair desse ato e nossa idéia era exatamente essa, num esforço não só de rememorar o teatro de Marechal Hermes como também de acusar seu esquecimento e degradação.
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Então, respondendo sua colocações, exatamente por isso ele está posicionado de forma tão alien no projeto, assim como as quadras abertas também estão, dando essa idéia de algo que veio de fora e se instalou e se apropriou cabendo do jeito que fosse. Acho que dá pra ver melhor nas planta e no corte que eu trouxe para o blog. Dá pra ver inclusive a praça do teatro, que se abre formando uma praça maior junto daquele espaço intermediário que você falou, o nosso centro de convivência. Aproveitei e trouxe aqui também o nosso organograma do programa obrigatório, nos baseamos nos ruídos emitidos por cada uma das necessidades de programa e colocamos cada um deles num espaço do terreno compatível com o índice de ruído do lugar. Tentamos fugir, assim, da divisão do programa entre esporte e cultura, como quase todos estávam seguindo, para pensar a partir da experiência sensorial que tivemos ao visitar o terreno.
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Bom, é isso. Espero ter trazido coisas novas para o blog e ter continuado um pouco as questões que você trouxe para cá. Obrigado mais uma vez pelo comentário, ele realmente me reativou a vontade de prosseguir com o blog e colocar aqui mais desejos, pensamentos e projetos. Espero sua visita e seus comentários sempre, são muito bem vindos. Assim como o de todos que quiserem participar nessa discussão! Ficarei muito feliz em responder e continuá-las!
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Um grande abraço para todos! Comentários sobre a planta, o corte e o organograma?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

SESC Butantã. Av.Vital Brasil, Butantã. São Paulo.











SESC Butantã. Av. Vital Brasil, Butantã. São Paulo.




Projeto VII Conrado Vivacqua e Flavia Santana. Orientador. Marcos Acayaba.








Bom, aí está o resultado em maquete do projeto. Não consegui, definitivamente, colocar aqui as plantas. Quem sabe depois?
Abraços!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Enquanto monto a primeira prancha...referências.




Bom, acho que já deu pra perceber que este blog veio pra falar um pouco do processo de construção do projeto VII que estou fazendo em grupo na FAUUSP. Espero que acompanhem, critiquem, me ajudem e (vou torcer muito pra isso) gostem do que vai estar em processo aqui. Enquanto não monto a primeira prancha e divulgo pra vocês, vou escrevendo e conversando sobre as referências que tenho encontrado. É tão incrível quando parece que tudo se encaixa e quanto mais se procura menos se perde e mais se acha. Estou empolgado!rs
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As fotos aí em cima são uma nova aquisição. A segunda eu descobri em um site muito bacana chamado SãoPauloAbandonada.com, vale uma visita. Já a primeira foi encontrada a esmo numa busca quase sem rumo pelo google. Acho que as duas se encontram e vão muito no sentido daquilo escrito na última postagem sobre a infiltração do MAMSP na Marquise do Ibirapuera.
Para quem não conhece as fotos, a primeira é uma imagem da Favela do Esqueleto na década de 60, antes de desaparecer por completo e dar lugar ao conjunto de edifícios da UERJ, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
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Vindo de São Paulo para o Rio, neste feriadão, eu passei por uma favela na Avenida Brasil, na altura de Bunsucesso, Zona Norte do Rio, que se emaranhava e crescia junto ao esqueleto de um edifício que não foi concluido. Cheguei em casa e resolvi procurar pela favela no google mas, sorte a minha, me deparei com a história da favela do esqueleto. As duas se parecem muito, pois nos dois casos o terreno abandonado e o abrigo proporcionado pela antiga estrutura do edifício incompleto respaldaram o surgimento de pequenos casebres autoconstruidos. O mesmo aconteceu com o MAM de São Paulo que se abrigou provisoriamente embaixo da Marquise do Ibirapuera até se incorporar à ele por completo. O bonito dos dois casos, e o que mais me atrai neles é que, embora diferentes em suas origens, ambos tiveram uma trajetória parecida de mutação do espaço construido abaixo das estruturas que os abrigam. O MAM começou como um prisma simples e depois de duas intervenções, a última feita pela Lina Bo Bardi, está como é hoje - consolidado (ou não). As duas favelas, como já é próprio delas, também permanecem em constante modificação e acréscimos abaixo do esqueleto que as alberga.
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Acho que o ímpeto para o projeto passa por aí. Pensar nessas nossas cidades de prédios incompletos, de abandonos, de tempos que se sobrepõe. Uma construção nova não se acaba e parece em pouco tempo mais velha que um edifício construido muitos anos antes dela. Quais são nossas ruínas? Quantos tempos distintos existem na cidade? Construir é garantia de permanência no tempo? O que é um prédio incompleto? Ou melhor, o que é uma arquitetura completa?
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Talvez o primeiro passo ou a primeira vontade seja de construir uma arquitetura incompleta, uma arquitetura abandonada. É possível? Uma arquitetura esqueleto, esquelética em que outras possam se abrigar e se infiltrar como congumelos e plantas que se albergam num tronco morto no meio da mata. Quantos tempos distintos existem num tronco desses? Nasce um fungo, cresce uma planta, morre um inseto e camadas de vidas se sobrepõe ao mesmo passo em que camadas distintas do tempo se cruzam. Quantos tempos pode abrigar uma mesma arquitetura?

domingo, 28 de março de 2010

Construindo referências...procurando caminhos para o Projeto VII.


É bem provável que este blog seja mais um encontro comigo mesmo do que uma plataforma de discussões e troca de idéias como eu tanto gostaria. Não sei porque insisto em tentar fazer dele um espaço maior do que pode ser, ou do que deve ser. Afinal, qual o problema em ser apenas o meu diário seguro para discutir coisas tão bobas e inúteis quanto pode ser qualquer coisas que passe pela minha cabeça? Ok, também não é tão terrível e dramático assim. Porém, talvez tenha chegado a hora de transformar este espaço num lugar verdadeiramente meu, onde eu possa colocar tudo aquilo que me passa pela cabeça e que por algum motivo estranho eu considere que vale a pena dividir com seja lá quem for. É o que eu farei.


Não fui hoje cedo, como havia me comprometido com meu grupo, fazer o levantamento dos gabaritos da nossa área de intervenção de Projeto VII. Era domingo e chovia, assim pensei na hora, então preferi ficar em casa e ir atrás das imagens e referências arquitetônicas para colocar no nosso cartaz de apresentação do seminário de projeto. Resolvi começar pelo MAM de São Paulo, ele já estava entranhado em mim como referência mas só ontem conversamos sobre ele para o trabalho.

Ano passado, durante uma orientação do professor Milton Braga que mais se parecia com uma boa conversa, falávamos do MAM de São Paulo e sua interferência no conjunto construido por Niemeyer para o Ibirapuera. O edifício do MAM não fazia parte do conjunto original e sua construção não foi discutida com o famoso arquiteto, gerando um contraste delicioso para boa sdiscussões. Milton dizia que o museu corta a lógica de circulação da marquise ao se tornar uma grande barreira que interrompe a passagem de quem está indo em direção ao edifício de Bienal e eu não concordei. Não concordei que sua intromissão no conjunto fosse algo ruim, como ele sustentava o tempo todo. Intuitivamente, antes de qualquer coisa, eu achava o museu fantástico. Ele me dizia que era uma barreira que não entendia o conjunto, e eu dizia que era a sua curva de vidro que me fazia ter vontade de ir até o prédio da bienal, como alguém que pega carona na marolinha de uma onda. Fechamos o papo aí, mas as reverberações desta conversa continuaram para mim.
Hoje, pensando no que absorvo do museu como referência para o projeto VII, entendo que grande parte daquela discussão se desenvolveu. Continuo achando que a barreira visual do MAM diante do conjunto de Niemeyer (sim, concordo que é uma barreira visual) não é uma barreira que impede a circulação dos visitantes do Ibirapuera pela marquise. Pelo contrário, continuo a achar que a onda de vidro carrega as pessoas até o prédio da bienal, com o auxilio luxuoso do jardim de esculturas pensado por Burle Marx. Uma barreira visual não necessariamente impede a circulação de pessoas, pelo contrário, pode ser examente aquilo que atrai e impulsiona as pessoas ao passeio ou à travessia.

Mas o que mais me atrai nisso tudo não é a barreira diante do fluxo, mas sim sua infiltração no conjunto. Me parece que o museu, assim como uma planta menor que se agarra à uma grande árvore para dividir benefícios, se inflitra na marquise para se nutrir de visitantes do parque e se proteger do sol. O MAM ali debaixo, no meio do caminho, pareceu buscar o ponto fácil para conseguir se aproveitar de tudo que precisa, parasita daquele sistema. Um parasita que, por fim, parece hoje já ser parte integrante deste organismo, para parar por aqui com as alusões à biologia. O edifício do MAM tem a beleza de encontrar o seu lugar e parecer que nenhum outro lugar seria melhor do que aquele.
É esta nossa referência de projeto baseada no MAM. A capacidade de um edifício, ou parte dele, de se infiltrar num conjunto e fazer parte de um sistema maior. Em nossa conversa, no grupo, trouxemos outros exemplos desta mesma lógica mas não sei se tão significativos ou tão belos quanto o MAM. O caso do museu das telecomunicações, dentro do Oi Futuro ( Ex-Centro Cultural Telemar), no Rio, também se assemelha à esta nossa busca. O projeto, fruto de um concurso no qual o Oficina de Arquitetos saiu vitorioso, constrói o diálogo entre dois blocos que representam duas arquitetus de dois tempos. Estes dois blocos são costurados por uma grande escada, o grande chamariz do projeto, que ziguezagueia amarrando os dois tempos. Dentro de um dos blocos, como um organismo outro, está o museu das telecomunicações. O museu ocupa todo o quinto andar do centro cultural, tem uma entrada e uma saída e possui certa independência dentro do conjunto. Não é uma edificação dentro de outra, mas traz este caráter de parasita dentro de outro organismo. Da mesma maneira como o novo bistrô da Casa França-Brasil, também no Rio de Janeiro, que é um prisma alienígena ao conjunto e independente da arquitetura que o abriga.

Para finalizar esta conversa, outro exemplo valioso e referencial no sentido de arquitetura infiltrada, porém com um caráter mais estético e com a força da imagem, é a Cidade da Música do Rio de Janeiro, do arquiteto Cristian de Portzamparc. Prismas espelhados com programas bem definidos se acoplam e se agarram a grande estrutura, fazendo delas interferências claras dentro da lógica do conjunto que fortalecem a facilidade de identificação àqueles que precisam apenas acessá-las.

Por enquanto é isso. Espero que continuem acompanhando nosso processo de desenvolvimento do projeto. Logo em breve trago mais discussões, referência e imagens do projeto. Vou escanear alguns desenhos para divulgar aqui, embora sejam só os primeiros esboços do que imaginamos pra edificação.


Até a próxima, obrigado pela paciência na leitura.

Grande Abraço!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Um começo depois de um tropeço.

Ok...ok. É errando que se aprende, não é mesmo? E depois de um terrível (embora importante) período de aprendizado, inauguro eu aqui um novo blog. TRANBORDARQUITETURA! Que transbordemos!

Vamos começar falando do passado? Acho que meu principal erro no outro blog foi acreditar numa impessoalidade impossível! É claro que um blog não ocupará um lugar semelhante a um grande veículo de comunicação e, mais que isso, é óbvio que o papel de comunicação dos blogs está bem definido. E eu, muito tolo, investi numa terceira pessoa que romperia com o padrão normal dos blogs, normalmente diários pessoais, e tranformaria ele numa plataforma de comunicação e discussões semelhante aos jornais e revistas. Erro grave! Blogs são sim um importante veículo de comunicação, mas com características próprias e um discurso pessoal que nada tem de errado ou ruím. Que bom que possamos, cada um de nós, lançar plataformas pessoais de comunicação para darmos nossas opiniões e fazemos nossas críticas e comentários. Tão legítima quanto a mídia da terceira pessoa, esta coluna democrática e cibernética nos traz o melhor da comunicação em primeira pessoa. E lá vou eu! Sim, neste blog quem estará escrevendo, errando, falando besteira e dando opinião onde deve e onde não deveria sou eu: Conrado.

E para quem quiser conhecer a tosca tentativa de ser um ser impessoal num blog, oferto o link: http://www.arquiteturaemidia.blogspot.com/

Bem vindos ao meu novo blog e ao nosso mais novo fórum de discussões e idéias. Até a próxima e um grande abraço!