quarta-feira, 1 de junho de 2011

Conversando com Cezar sobre a questão da profundidade imperceptível na arquitetura.

Olá, Cezar.

Você se incomoda se eu responder diretamente às suas postagens do blog (http://realidadeimprovavel.wordpress.com/) por aqui? Desculpe criar uma postagem que mais parece um e-mail, mas esta me parece ser a forma mais bacana de corresponder às suas respostas para a minha publicação sobre a profundidade imperceptível na arquitetura. Muito obrigado por continuar aquele papo!

Bem, só conhecia o Lotto-Turm do Lars Behrendt de vista, pois tinha apenas as imagens do projeto na memória. Gostei bastante das suas reflexões sobre ele e fiquei imaginando alguma célula daquelas, potente e incubadora de idéias novas, agitando as transformações da região portuária do Rio. Uma ótima provocação para um projeto PORTO MARAVILHA que parece apenas ser um veículo de especulação mercadológica da cidade.

Amei também sua citação da Gabriela Pires Machado, pois acho que as “inúmeras espacialidades suspensas” descritas por ela, que se “ ancoram na experiência sensível” de cada um de nós, se assemelham de maneira clara com minhas reflexões sobre a profundidade imperceptível na arquitetura. Gabriela é sua colega, sua amiga, possui um blog? De onde você retirou o fragmento que citou? Fiquei realmente muito curioso em saber mais!

Lendo suas três postagens, ficou uma vontade imensa de registrar aqui e compartilhar uns pensamentos que andam martelando na minha cabeça. Sabe daquelas frases que não têm contexto exato, mas que você precisa registrar para que elas não se percam? Então, é por aí...

Queria muita dizer e dividir que me interessa, sinceramente, muito mais a escala do beijo do que a escala do colosso ou do monumento. Acho que o beijo reflete muito daquilo que estávamos discutindo sobre a perda de uma espacialidade mensurável tecnicamente e também sobre a redescoberta de dimensões infinitas do espaço, assim como de novas formas de medi-lo. Às vezes me parece que aprendemos arquitetura em nossas faculdades como se ela fosse algo realmente visível o tempo todo e como se estivessem todos atentos à ela de uma maneira objetiva sempre. Pensar na arquitetura medida pelo beijo ou onde fica a arquitetura no momento do beijo, se some ou coexiste, parece constituir um caminho mais interessante para mim do que apenas fazer dela o resultado de números e formatos.

Imaginar que a arquitetura é sentida e experimentada por pessoas que beijam, transam, comem, dançam, dormem e sonham me parece ainda um caminho grande e difícil de redescoberta do sentido da própria arquitetura. A arquitetura para mim é esta entidade que compartilha o tempo todo conosco estas experiências de vida e exatamente por isso precisa refletir nossos sentidos e experimentações nela e na forma como é concebida. Grande desafio, né?

Enfim, não vou colocar ponto final nesta nossa discussão, pois ela ainda tem muito o que dizer. Continuamos nosso papo, então. Grande abraço!