quarta-feira, 31 de março de 2010

Enquanto monto a primeira prancha...referências.




Bom, acho que já deu pra perceber que este blog veio pra falar um pouco do processo de construção do projeto VII que estou fazendo em grupo na FAUUSP. Espero que acompanhem, critiquem, me ajudem e (vou torcer muito pra isso) gostem do que vai estar em processo aqui. Enquanto não monto a primeira prancha e divulgo pra vocês, vou escrevendo e conversando sobre as referências que tenho encontrado. É tão incrível quando parece que tudo se encaixa e quanto mais se procura menos se perde e mais se acha. Estou empolgado!rs
..............................

As fotos aí em cima são uma nova aquisição. A segunda eu descobri em um site muito bacana chamado SãoPauloAbandonada.com, vale uma visita. Já a primeira foi encontrada a esmo numa busca quase sem rumo pelo google. Acho que as duas se encontram e vão muito no sentido daquilo escrito na última postagem sobre a infiltração do MAMSP na Marquise do Ibirapuera.
Para quem não conhece as fotos, a primeira é uma imagem da Favela do Esqueleto na década de 60, antes de desaparecer por completo e dar lugar ao conjunto de edifícios da UERJ, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
...................................
Vindo de São Paulo para o Rio, neste feriadão, eu passei por uma favela na Avenida Brasil, na altura de Bunsucesso, Zona Norte do Rio, que se emaranhava e crescia junto ao esqueleto de um edifício que não foi concluido. Cheguei em casa e resolvi procurar pela favela no google mas, sorte a minha, me deparei com a história da favela do esqueleto. As duas se parecem muito, pois nos dois casos o terreno abandonado e o abrigo proporcionado pela antiga estrutura do edifício incompleto respaldaram o surgimento de pequenos casebres autoconstruidos. O mesmo aconteceu com o MAM de São Paulo que se abrigou provisoriamente embaixo da Marquise do Ibirapuera até se incorporar à ele por completo. O bonito dos dois casos, e o que mais me atrai neles é que, embora diferentes em suas origens, ambos tiveram uma trajetória parecida de mutação do espaço construido abaixo das estruturas que os abrigam. O MAM começou como um prisma simples e depois de duas intervenções, a última feita pela Lina Bo Bardi, está como é hoje - consolidado (ou não). As duas favelas, como já é próprio delas, também permanecem em constante modificação e acréscimos abaixo do esqueleto que as alberga.
......................................
Acho que o ímpeto para o projeto passa por aí. Pensar nessas nossas cidades de prédios incompletos, de abandonos, de tempos que se sobrepõe. Uma construção nova não se acaba e parece em pouco tempo mais velha que um edifício construido muitos anos antes dela. Quais são nossas ruínas? Quantos tempos distintos existem na cidade? Construir é garantia de permanência no tempo? O que é um prédio incompleto? Ou melhor, o que é uma arquitetura completa?
.....................................
Talvez o primeiro passo ou a primeira vontade seja de construir uma arquitetura incompleta, uma arquitetura abandonada. É possível? Uma arquitetura esqueleto, esquelética em que outras possam se abrigar e se infiltrar como congumelos e plantas que se albergam num tronco morto no meio da mata. Quantos tempos distintos existem num tronco desses? Nasce um fungo, cresce uma planta, morre um inseto e camadas de vidas se sobrepõe ao mesmo passo em que camadas distintas do tempo se cruzam. Quantos tempos pode abrigar uma mesma arquitetura?

domingo, 28 de março de 2010

Construindo referências...procurando caminhos para o Projeto VII.


É bem provável que este blog seja mais um encontro comigo mesmo do que uma plataforma de discussões e troca de idéias como eu tanto gostaria. Não sei porque insisto em tentar fazer dele um espaço maior do que pode ser, ou do que deve ser. Afinal, qual o problema em ser apenas o meu diário seguro para discutir coisas tão bobas e inúteis quanto pode ser qualquer coisas que passe pela minha cabeça? Ok, também não é tão terrível e dramático assim. Porém, talvez tenha chegado a hora de transformar este espaço num lugar verdadeiramente meu, onde eu possa colocar tudo aquilo que me passa pela cabeça e que por algum motivo estranho eu considere que vale a pena dividir com seja lá quem for. É o que eu farei.


Não fui hoje cedo, como havia me comprometido com meu grupo, fazer o levantamento dos gabaritos da nossa área de intervenção de Projeto VII. Era domingo e chovia, assim pensei na hora, então preferi ficar em casa e ir atrás das imagens e referências arquitetônicas para colocar no nosso cartaz de apresentação do seminário de projeto. Resolvi começar pelo MAM de São Paulo, ele já estava entranhado em mim como referência mas só ontem conversamos sobre ele para o trabalho.

Ano passado, durante uma orientação do professor Milton Braga que mais se parecia com uma boa conversa, falávamos do MAM de São Paulo e sua interferência no conjunto construido por Niemeyer para o Ibirapuera. O edifício do MAM não fazia parte do conjunto original e sua construção não foi discutida com o famoso arquiteto, gerando um contraste delicioso para boa sdiscussões. Milton dizia que o museu corta a lógica de circulação da marquise ao se tornar uma grande barreira que interrompe a passagem de quem está indo em direção ao edifício de Bienal e eu não concordei. Não concordei que sua intromissão no conjunto fosse algo ruim, como ele sustentava o tempo todo. Intuitivamente, antes de qualquer coisa, eu achava o museu fantástico. Ele me dizia que era uma barreira que não entendia o conjunto, e eu dizia que era a sua curva de vidro que me fazia ter vontade de ir até o prédio da bienal, como alguém que pega carona na marolinha de uma onda. Fechamos o papo aí, mas as reverberações desta conversa continuaram para mim.
Hoje, pensando no que absorvo do museu como referência para o projeto VII, entendo que grande parte daquela discussão se desenvolveu. Continuo achando que a barreira visual do MAM diante do conjunto de Niemeyer (sim, concordo que é uma barreira visual) não é uma barreira que impede a circulação dos visitantes do Ibirapuera pela marquise. Pelo contrário, continuo a achar que a onda de vidro carrega as pessoas até o prédio da bienal, com o auxilio luxuoso do jardim de esculturas pensado por Burle Marx. Uma barreira visual não necessariamente impede a circulação de pessoas, pelo contrário, pode ser examente aquilo que atrai e impulsiona as pessoas ao passeio ou à travessia.

Mas o que mais me atrai nisso tudo não é a barreira diante do fluxo, mas sim sua infiltração no conjunto. Me parece que o museu, assim como uma planta menor que se agarra à uma grande árvore para dividir benefícios, se inflitra na marquise para se nutrir de visitantes do parque e se proteger do sol. O MAM ali debaixo, no meio do caminho, pareceu buscar o ponto fácil para conseguir se aproveitar de tudo que precisa, parasita daquele sistema. Um parasita que, por fim, parece hoje já ser parte integrante deste organismo, para parar por aqui com as alusões à biologia. O edifício do MAM tem a beleza de encontrar o seu lugar e parecer que nenhum outro lugar seria melhor do que aquele.
É esta nossa referência de projeto baseada no MAM. A capacidade de um edifício, ou parte dele, de se infiltrar num conjunto e fazer parte de um sistema maior. Em nossa conversa, no grupo, trouxemos outros exemplos desta mesma lógica mas não sei se tão significativos ou tão belos quanto o MAM. O caso do museu das telecomunicações, dentro do Oi Futuro ( Ex-Centro Cultural Telemar), no Rio, também se assemelha à esta nossa busca. O projeto, fruto de um concurso no qual o Oficina de Arquitetos saiu vitorioso, constrói o diálogo entre dois blocos que representam duas arquitetus de dois tempos. Estes dois blocos são costurados por uma grande escada, o grande chamariz do projeto, que ziguezagueia amarrando os dois tempos. Dentro de um dos blocos, como um organismo outro, está o museu das telecomunicações. O museu ocupa todo o quinto andar do centro cultural, tem uma entrada e uma saída e possui certa independência dentro do conjunto. Não é uma edificação dentro de outra, mas traz este caráter de parasita dentro de outro organismo. Da mesma maneira como o novo bistrô da Casa França-Brasil, também no Rio de Janeiro, que é um prisma alienígena ao conjunto e independente da arquitetura que o abriga.

Para finalizar esta conversa, outro exemplo valioso e referencial no sentido de arquitetura infiltrada, porém com um caráter mais estético e com a força da imagem, é a Cidade da Música do Rio de Janeiro, do arquiteto Cristian de Portzamparc. Prismas espelhados com programas bem definidos se acoplam e se agarram a grande estrutura, fazendo delas interferências claras dentro da lógica do conjunto que fortalecem a facilidade de identificação àqueles que precisam apenas acessá-las.

Por enquanto é isso. Espero que continuem acompanhando nosso processo de desenvolvimento do projeto. Logo em breve trago mais discussões, referência e imagens do projeto. Vou escanear alguns desenhos para divulgar aqui, embora sejam só os primeiros esboços do que imaginamos pra edificação.


Até a próxima, obrigado pela paciência na leitura.

Grande Abraço!