terça-feira, 26 de julho de 2011

Com potencial para fazer uma importante revolução Brasil afora, Praças do PAC propõem restaurar o encontro da cidade com a cidadania através de equipamentos de Cultura e Esporte nas periferias e cidades médias do país.


Porém, distantes do fato, arquitetos parecem ainda não terem acordado para sua fundamental participação como provocadores e fomentadores de idéias e críticas junto a esta importante proposta do Ministério da Cultura e do Governo Federal.

Exemplo de praça de 3.000m²


         À semelhança do grande impacto de projetos de equipamentos de esporte, lazer e cultura que são emblemáticos casos de sucesso, como as unidades do SESC (Serviço Social do Comércio) e os complexos educacionais dos CEUs(Centros Educacionais Unificados), o Governo Federal lançou, via proposta do Ministério da Cultura, seu projeto de Praças do PAC, ou, como estão preferindo chamar agora, Praças de Esporte e Cultura - PEC. Ao todo estão previstas 800 praças a serem construídas nas principais cidades médias e regiões periféricas metropolitanas de todas as regiões do país, incluindo assim cidades que sempre foram massiçamente negligenciadas quando o assunto era a criação de tão importantes agentes de transformação social como são os aparelhos de cultura e esporte do Estado. Se formos levar em conta o número mínimo de teatros, cinemas, museus e bibliotecas que podemos encontrar fora das capitais no Brasil, as praças do PAC propõem uma ação quase de ineditismo no país.
          Para concretizar isso, o MinC lança mão de três modelos de projetos de praças do PAC a serem adotados pelas municipalidades, que terão de arcar com o desenvolvimento e manutenção futura do projeto escolhido para seu respectivo município. Estão disponíveis propostas para terrenos regulares com 700m², 3000m² e 7000m², sendo a primeira metragem referente a um pequeno edifício de 4 pavimentos. Se a qualidade das especificações dos projetos propostos pelo MinC demonstram uma gigantesca vontade de realizar um projeto potente e transformador, com obrigação do uso de estruturas para reciclagem, bicicletários e espaços de atendimento social, por outro lado ficamos com a velha problemática da replicação de projetos base em um país de escala continental e diferenças culturais e ambientais completamente diversas à uma proposta universal. Além disso, terrenos ideais como os propostos, planos e com formas regulares básicas, podem até ser encontrados nas áreas de intervenção propostas, mas não são necessariamente os locais ideais para aplicação do projeto com as melhores situações de proximidades com as linhas de transporte público da cidade, por exemplo.


Exemplo de praça de 700m²

          Nesse sentido, me parece que aqui o arquiteto é fundamental para o desenvolvimento correto e verdadeiramente potente desta proposta de praças do PAC, pois seu trabalho criativo pode ir além das propostas base advindas do ministério, refletindo situações de terreno, clima e cultura diversas, e atuar na melhor aplicação das propostas sugeridas sem perder a essência do seu programa proposto. O próprio MinC não fechou seus modelos como as únicas formas de aplicação do projeto, apenas os cita como referência a serem seguidas. O que, no Brasil, pela inércia, preguiça e má vontade de grande parte dos dirigentes municipais, significa não ir além do óbvio e aplicar o que já está pronto, infelizmente.

          Desta maneira, acredito que aqui entra a vontade dos arquitetos e suas instituições e federações em embarcar nesse projeto, chamando para si as responsabilidades de fazer dele uma proposta bem sucedida e realmente transformadora para a realidade muitas vezes limitada dos moradores das periferias e cidades médias brasileiras. IAB e outras instituições precisam abrir laços de comunicação e discussão de sua participação neste projeto, buscando maneiras de fomentar concursos públicos de idéias ou de estimular a participação dos escritórios de arquitetura nesta empreitada, a exemplo de tantas outras iniciativas. A pluralidade de arquiteturas (e boas arquiteturas) das unidades SESC de São Paulo é só mais uma estímulo para pensarmos quão promissora pode ser a intervenção daqueles que estudam arquitetura na promoção de criativas, diversas e plurais novas propostas para as praças do PAC. Além do que, para nós arquitetos, pode se abrir mais um importante campo de atuação profissional e estímulo da nossa profissão em todo o território nacional, servindo assim de importante fonte de troca entre arquitetos de todo o país.

         Sem dúvida, uma iniciativa promissora que não podemos deixar passar ou repetir velhos erros do passado, em que precisamos estar todos juntos nessa! Oba!

         Para mais informações, visite o site http://pracas.cultura.gov.br/index.html



domingo, 24 de julho de 2011

Obra de Paulo Mendes da Rocha em São Paulo, Galeria Leme será destruída para dar lugar a um edifício de escritórios.

O mais curioso: por conta da possível repercussão de sua demolição, será reconstruída uma cópia quase idêntica sua nas redondezas do projeto original.




          Passo quase todos os dias por uma misteriosa obra na marginal do Rio Pinheiros, Zona Oeste da capital de São Paulo, que por conta do tamanho do seu terreno (fruto de demolições) e seu gigantesco canteiro de obras provavelmente abrirá caminho para mais um projeto arquitetônico de grandes proporções na cidade. Como não poderia deixar de ser, fiquei muito curioso por saber do que se tratava o projeto por detrás daqueles tapumes da Odebrecht, principalmente por estarem colados a pequena e justamente por isso tão bem concebida Galeria Leme, obra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Resolvi então fazer uma rápida pesquisa na internet para tentar saciar minha curiosidade.

          Qual não foi minha surpresa quando, mais importante do que conhecer o projeto deste novo grande empreendimento imobiliário, soube que não teríamos naquele terreno um vizinho da Galeria Leme, mas sim o motivador da sua futura demolição! Esta pequena jóia da arquitetura brasileira será destruída para dar lugar a um colossal edifício de escritórios, em mais uma pouco criteriosa ação de transformação da cidade. Surpresas à parte, é evidente que aqueles que idealizaram o novo majestoso projeto já previam toda a repercussão originada pela demolição de uma obra de um prêmio Pritzker brasileiro e se anteviram a isso. Como compensação à demolição, propuseram a estranha reconstrução da galeria de arte em outro terreno próximo ao do projeto original, a cargo dos seus mesmos arquitetos originalmente responsáveis e com algumas mínimas adaptações. Ou seja, teremos em breve uma nova antiga Galeria Leme, ou como a reportagem do Diário de São Paulo preferiu chamar: um clone. 

 (matéria vinculada no jornal Diário de S. Paulo em 06\06\2011 em: http://www.diariosp.com.br/_conteudo/2011/06/86881-conheca+primeiro+predio+clonado+em+sao+paulo.html)

 
          Se a compensação pareceu satisfatória para o proprietário da Galeria Leme, que prefere vê-la reconstruída ali perto a torná-la passado ou fruto de um novo projeto para o novo terreno, para nós, arquitetos, ela precisa ser objeto de alguma desconfiança e de muita discussão. Se sua demolição já parece inevitável, (eu nem mesmo sabia que ela corria este risco, e olha que não sou tão desinformado assim!) ao menos precisamos acompanhar seu processo de demolição e fazer deste um precioso objeto de estudo para futuras ações coletivas que respondam a este movimento de transformações da cidade em que os arquitetos estão longe de serem protagonistas e passam ao largo das decisões tomadas.



          Afinal, não é nova a idéia para a arquitetura de se reconstruir uma consagrada obra arquitetônica em outro tempo ou terreno, a própria reportagem do jornal paulistano lembrou alguns casos emblemáticos, como o do Pavilhão Barcelona de Mies Van der Rohe. Porém, o que vemos no caso paulistano é que a reconstrução parece ser apenas um pretexto para se permitir o uso indiscriminado da cidade para os interesses oblíquos de um mercado especulativo. Os interesses da sociedade, da cultura e da arquitetura, objetos do trabalho e da ação dos arquitetos, estão longe de fazerem parte desta reconstrução.

         Nós mesmos aqui no blog já chegamos a propor uma reconstrução fora do tempo que coincidentemente interviria em uma quadra bem próxima a Galeria Leme. Tratava-se do SESC Butantã, postado aqui em 2010. Porém, no nosso caso, a provocação de se reconstruir o teatro de Marechal Hermes, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, de autoria do arquiteto carioca Affonso Eduardo Reidy, nos parecia uma maneira de repensar em que condições se encontravam naquele momento da história o teatro original e de como restaurar a potência e genialidade do traço simples de Reidy para aquele projeto. Em nenhum momento a reconstrução foi um pretexto para outra grande obra, construindo um discurso vazio que apenas reconsidera o valor da obra arquitetônica por conta da repercussão da opinião pública em cima do caso.


          Enfim, precisamos ficar atentos e continuar repercutindo o caso. Se “a modernidade está fazendo com que os imóveis se tornem móveis”, como declarou Paulo Mendes sobre a reconstrução da sua obra em depoimento dado à reportagem do Diário de São Paulo, nos basta discutir quais caminhos nos parecem pertinentes a serem seguidos dentro desta modernidade e qual a validade de alguns discursos para a manutenção das nossas cidades e arquitetura. Afinal de contas, a modernidade é fruto de nossas ações presentes que, atualmente, parecem fazer da cidade refém da ausência de arquitetos e urbanistas como mediadores de suas transformações.

p.s. Para conhecer mais da Galeria Leme recomendo as bacaníssimas maquetes com cortes esquemáticos, de um aluno da PUC-RIO expostas em seu blog em http://arquitetura-e-arte.blogspot.com/2010/06/maquetes-da-galeria-leme.html 


terça-feira, 19 de julho de 2011

Peter Zumthor Serpentine Pavillion 2

     No comecinho de Maio, especulamos e discutimos aqui no blog sobre o novo pavilhão de verão do Serpentine Gallery de Londres, projetado este ano pelo arquiteto suíço Peter Zumthor. Sendo assim, nada mais natural do que voltarmos agora, passada uma estação, para divulgarmos o resultado daquilo que ainda era apenas projeto e algumas poucas imagens distribuidas pela mídia. Compartilho com vocês aqui um breve passeio que Peter Zumthor fez apresentando seu pavilhão para o site TheTelegraph e uma generosa conversa para o TheGuardian:






     É claro que da mesma maneira como discutimos em Maio sobre a impossibilidade das imagens 3D em conseguirem expressar e representar toda a potência da arquitetura de Zumthor, as câmeras de video também não conseguem ser tão fidedignas à experiência daquela arquitetura ali proposta , ainda mais nesse pavilhão de cheiros, texturas e diferenças de temperatura. Porém, diferente da frieza estranha do 3D, mesmo que distantes, através da câmera podemos bisbilhotar interações espontâneas, olhinhos curiosos, insetos festivos por entre as plantas e, mais que isso, o sorriso de felicidade declarada do arquiteto. Para mim, que não visitei o pavilhão pessoalmente, os videos revalidaram todas aquelas especulações que fizemos aqui no começo do ano!

Arquiteto, insetinhos e blogueiro felizes com o resultado. E vocês, o que acharam?

        Para quem não leu a postagem de Maio e não conhece as imagens renderizadas do projeto, tão fortemente criticadas nas redes sociais Brasil afora, aqui vai o link: http://transbordarquitetura.blogspot.com/2011/05/peter-zumthor-serpentine-pavillion.html