terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Dez anos sem...

Nossa silenciosa homenagem ao grande arquiteto no dia em que se completam dez anos de sua morte.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Prestes a chegar a sua décima edição, qual o futuro que queremos para a Bienal de Arquitetura de São Paulo?

         No início desta semana chegou ao fim a 9ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, maior evento de arquitetura do país que esteve aberto ao público no pavilhão da OCA entre os dias 2 de Novembro e 4 de Dezembro. Marcada por controvérsias e dificuldades, que vão desde a impossibilidade de continuar realizando o evento no Pavilhão da Bienal (1) até a divulgação de uma polêmica carta-protesto de importantes escritórios de arquitetura (2), a NonaBia, como assim foi carinhosamente chamada pelos seus organizadores, termina com as atenções já voltadas para a próxima Bienal, a ser realizada em 2013. Afinal, daqui a dois anos a Bienal de Arquitetura de São Paulo completará dez edições do evento e terá que enfrentar o desafio de comemorar esta data retomando o seu prestígio e público perdidos.

        Nesse sentido, não há momento mais significativo do que este para se fazer um balanço das edições anteriores e se pensar o futuro das próximas bienais. No modelo atual da Bienal de Arquitetura, como vimos claramente neste ano, predominam os stands das representações de países estrangeiros e as mostras com trabalhos de arquitetura enviados de todo o país, apresentados principalmente através de maquetes e pranchas. No caso das representações estrangeiras suas instituições e colegiados de arquitetura são chamados a contribuir com a Bienal brasileira enviando seus stands e também cuidando da sua manutenção durante todo o evento. Além disso, dependendo do perfil de cada ano, ainda podemos encontrar stands de governos e da iniciativa privada.

        Na NonaBia houve um avanço importante, porém ainda discreto, especialmente no que diz respeito ao modelo de apresentação dos trabalhos. Ao lado de cavaletes com materiais impressos e suas respectivas maquetes, computadores disponibilizavam para os visitantes um banco digital de projetos com um número maior do que aqueles que se encontravam ali no papel. Se por um lado houve reclamações por parte daqueles arquitetos que tiveram suas obras expostas apenas nas telinhas, por outro a possibilidade de se abarcar o maior número possível de projetos parece ser a maneira mais inteligente de divulgar e trocar informações. Hoje em dia, com toda a facilidade que temos na circulação de imagens e informações de projetos de arquitetura por meios virtuais, se torna quase injustificável a função inicial da Bienal de servir apenas como plataforma para conhecermos projetos novos. Sendo assim, mais do que selecionar e apresentar projetos de arquitetura, a Bienal precisa assumir cada vez mais seu papel mediador e se afastar do modelo desgastado de exposição de trabalhos que na maioria das vezes já são amplamente conhecidos.

        Neste ponto, tratando da capacidade do evento de mobilizar arquitetos de todo o mundo e chamá-los para um encontro comum de diálogo, a Bienal de Arquitetura de São Paulo, mesmo com a baixa freqüência do último evento, continua demonstrando grande vitalidade, tanto que nenhum outro evento de arquitetura no país conseguiu substituí-la. Pensando assim, talvez valha à pena avaliarmos, jogando os olhos pro passado e repensando o que queremos para as próximas edições do evento, o quanto não se estava abrindo mão de um foco mais robusto na característica brasileira de promover eventos em que o principal é a pessoa, o encontro e a festa. Mesmo que a homenageada especial seja a arquitetura!

        À exemplo da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, em que a literatura é posta em festa, com bate-papos, música e saraus, talvez seja uma vocação da Bienal de Arquitetura e da própria cidade de São Paulo agregar pessoas de diferentes partes do país e do mundo para dialogarem juntas sobre arquitetura com um olhar mais leve em que haja mais espaço para o intercâmbio do que para os produtos em si da arquitetura. Desta maneira, como já acontecem em outras bienais espalhadas pelo mundo que possuem características tão emblemáticas, como a de Veneza, consolidaríamos um caráter próprio para a Bienal de Arquitetura de São Paulo e valorizaríamos algo que há anos já se mostra mais forte e mais significativo de todas as mostras: o valor do encontro.

       Sendo assim, diferente do que possa parecer, não seria necessário abrir mão de características do modelo tradicional para se chegar a uma nova Bienal. Pelo contrário, seria apenas necessário um movimento de valorizar o que está dando certo e buscar novas soluções para o que já parece desgastado e sem sentido. Um exemplo bacana vem da exposição BAUKULTUR “Made in Germany”, em que os trabalhos da representação alemã na Bienal de Arquitetura foram expostos fora da OCA em mostra paralela no Centro Cultural São Paulo. Ficou clara a possibilidade de se fragmentar mais pelos espaços da cidade aqueles stands das representações estrangeiras e aproximar o evento de todas as instituições culturais de São Paulo. Afinal, não há como realizar eventos como a Bienal abrindo mão de instituições tão fortes de intercâmbio cultural e expressão em suas ações na cidade de São Paulo como a Fundação Japão ou o Instituto Cervantes. No caso da BAUKULTUR, diretamente envolvido com o Instituto Goethe, isso fica evidente.

       Desta maneira, a Bienal se aproximaria em grande parte do modelo da MIRA – Mostra Internacional Rio Arquitetura, em que as exposições ficavam espalhadas por museus e instituições da cidade do Rio de Janeiro. Esse pode ser um caminho mais interessante de democratizar a discussão da arquitetura com todos, tema da NonaBia, do que apenas passear com o material da Bienal pelos SESCs do Estado de São Paulo ou utilizar estações de metrô para exposições, como vimos este ano. Outras exposições itinerantes mundiais, aliás, que muitas vezes não vemos expostas no Brasil, como a de Rogelio Salmona, poderiam ser planejadas para acontecer paralelamente à Bienal de Arquitetura como um evento a ser agregado definitivamente pelo calendário de eventos da cidade. E isso envolveria inclusive um apoio mais vigoroso da prefeitura de São Paulo, que sempre apresenta seu stand neste evento.

       Enfim, é claro que não faltam outros modelos para estudarmos e trabalharmos juntos na conclusão do que nos parece mais interessante para o futuro da Bienal de Arquitetura de São Paulo. Fato é que terminada a 9º edição do evento já é hora de se pensar na próxima, pois não podemos abrir mão de um valioso tempo que foi determinante para que o evento deste ano ficasse tão aquém do que gostaríamos. É preciso que todos possam participar desta discussão e que ela não fique apenas restrita ao IAB, com realização de fóruns e discussões com as instituições de arquitetura, faculdades, estudantes, profissionais e todos aqueles que já participaram e possam contribuir com o futuro da Bienal de Arquitetura. Esse desejo ficou claro na carta dos escritórios de arquitetura e parece ser justo para a construção da Bienal que queremos. Vamos começar esta discussão conjunta?


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CONCURSO para transformação de bases militares desativadas em espaços de uso civil.

   
  O site ArchitectureforHumanity.org está lançando uma competição para profissionais e estudantes de arquitetura sobre a transformação de bases militares desativadas em áreas públicas para uso civil!  A vantagem para quem mora em países em desenvolvimento, como o Brasil, é que a taxa de inscrição nestes casos é gratuita. Para conhecer mais do projeto e saber como fazer para se inscrever, o link é: http://openarchitecturenetwork.org/competitions/challenge/2011 .

     O calendário básico para quem quiser participar é este aqui:

     18.10.2011 Lançamento do Desafio!

     31.03.2012 Fim das Inscrições

     01.05.2012 Prazo final de envio dos trabalhos

     01.06.2012 Anúncio dos Semi-Finalistas!

     29.06.2012 Anúncio dos Vencedores e Finalistas da Competição!


     Para quem se interessou, também é possível repensar a ocupação de bases ainda em funcionamento, como Guantánamo, que teve seu fechamento declarado por Obama mas que até hoje encontra-se em ampla atividade. Uma oportunidade interessante de manifestarmos em competições de arquitetura a força política de nossas ações como arquitetos, não é mesmo? 

     Oportunidade também de trazermos para o Brasil iniciativas parecidas, pois há um campo fértil para isso! No Rio de Janeiro, como uma nova maneira de repensar a política de segurança e a relação entre a população e os policiais, existe um projeto do Governo do Estado do Rio para a transformação dos seus batalhões militares em áreas de lazer e esportes abertas ao público geral. Infelizmente, como divulgado no blog da vereadora Sonia Rabelo (http://soniarabello.blogspot.com/2011/11/adeus-batalhoes-militares.html), do PV, muito embora a iniciativa seja excelente, sua execução parece abrir mão da qualidade arquitetônica destes espaços e da preservação do patrimônio destas contruções históricas da cidade. O caso do projeto-piloto a ser implantado no 6º Batalhão da Polícia Militar, na Tijuca, é emblemático pois, além de não ter sido amplamente discutido com a sociedade, aposta na demolição geral de sua estrutura e na contrução de outra de qualidade duvidosa.



     A exemplo do concuso promovido pela ArchitectureforHumanity.com, em que a arquitetura foi convocada para o desafio de transformar bases militares em espaços civis, não é possível pensar a transformação dos batalhões cariocas sem a participação ampla de arquitetos, órgãos do patrimônio, comunidade do entorno e outros agentes culturais e esportivos envolvidos. Não seria o caso de um concurso público, por exemplo, já que se trata de um projeto atrelado a eventos de grande visibilidade como a Copa e as Olimpíadas?    

domingo, 27 de novembro de 2011

DEBATE Mobilidade Urbana, Rio de Janeiro 30/11/11


* "O VoluntáRIOs, grupo formado a partir das 2 últimas campanhas de Fernando Gabeira, promoverá um ciclo de debates sobre problemas da cidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de apresentar propostas aos Planos de Governo dos candidatos à Prefeito do Rio de Janeiro pelos partidos da oposição."

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Concurso Estudantil Ibero-Americano de Arquitetura Bioclimática

VII BIENAL JOSÉ MIGUEL AROZTEGUI: Concurso Estudantil Ibero-Americano de Arquitetura Bioclimática 2011

VILA CONTEMPORÂNEA António Alcântara Machado
Brás, São Paulo

Equipe
Conrado Vivacqua
Flávia Santana
Marina La Torraca
Zilah Marcelino





Nosso projeto ficou entre os 30 primeiros colocados no concurso. Para conhecer o projeto vencedor acesse:  http://www.revistaau.com.br/emrede/estudante/doisb/vertical-alpendre-15840.asp

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Carta-Sugestão sobre possível adesão das instituições brasileiras de arquitetura ao Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável.

Carta-Sugestão sobre possível adesão das instituições brasileiras de arquitetura ao Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável. (enviada no dia 26/10/2011)

Aos senhores representantes das instituições de arquitetura do Brasil, caros:

Gilson José Paranhos, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil IAB
Jeferson Salazar, presidente da Federação Nacional dos Arquitetos Urbanistas FNA
Jonathas Magalhães, presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas ABAP
José Antonio Lanchoti, presidente da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo ABEA
Ronaldo Rezende, presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura AsBEA

     Antes de mais nada, gostaria de agradecê-los por receberem minha mensagem e por manterem tão importantes e democráticos canais de comunicação com este aqui, pelo qual, como sabemos, nos é proposto o debate e a construção conjunta de caminhos para a nossa arquitetura brasileira. Muito obrigado!
    
     Sou estudante de arquitetura e com enorme preocupação tenho acompanhado os desdobramentos não menos perigosos da alteração do Código Florestal Brasileiro pelo Congresso Nacional. Nestes últimos meses, pudemos observar o enorme debate em torno de tais alterações e uma vigorosa polarização entre alas ruralista e ambientalista (com uma expressiva desvantagem para estes últimos) que culminou na aprovação de um Novo Código Florestal pela Câmara dos Deputados. Agora, o Novo Código está tramitando no Senado brasileiro e poderá ser modificado pelos nossos senadores a fim de garantir que o desvantajoso texto aprovado pela Câmara estabeleça uma melhor relação entre a manutenção e defesa de nossas florestas, o desenvolvimento sustentável de nosso país e a produção agropecuária brasileira.
    
     Nesse sentido, diversas instituições de enorme representatividade e das mais variadas atividades, como OAB, ABI, CNBB, entre tantas outras, estão se reunindo para cobrar de nossos senadores alterações que garantam um Novo Código Florestal mais justo como almejamos. Assim, foi criado o Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, “coalizão formada por 163 organizações da sociedade civil brasileira contrárias ao PLC 30/2011 aprovado pela Câmara dos Deputados”*. Junto com elas outras instituições estão abraçando este movimento e participando desta causa através do apoio ao seu principal manifesto disponível no site do Comitê: http://www.florestafazadiferenca.org.br/manifesto/

     Não encontrei, entre as diversas instituições que fazem parte desta coalizão, nenhuma de nossas principais organizações representantes da arquitetura brasileira. Será que alguma está envolvida com o Comitê? Como estamos em tempo de fortalecer este movimento e ampliar a gama de personagens envolvidos para pressionar o Senado a fazer alterações condizentes com o que queremos para um Novo Código Florestal, gostaria de convidá-los, representantes de nossas instituições, a conhecer o trabalho e pensar sobre uma possível participação ou apoio ao Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável. Como estudante de arquitetura sem nenhum vínculo direto com o Comitê ou sua organização, admirador de tais iniciativas coletivas da sociedade civil em prol de um uma país mais harmônico e justo, gostaria de ver na participação de nossas instituições de arquitetura à este movimento a representação de todos aqueles arquitetos, paisagistas e urbanistas que tanto nos inspiram e admiramos e que por tantos anos trabalharam pela proteção das nossas florestas e pela equalização de uma sociedade mais sustentável e igualitária.
    
 Gostaria de agradecer mais uma vez pela atenção e também pela leitura da minha mensagem. Obrigado por receberem esta minha sugestão e espero, sinceramente, que possam analisar com carinho a proposta de adesão e fortalecimento ao grupo de instituições que apóiam o Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável (http://www.florestafazadiferenca.org.br/home/).

 
Um abraço cordial,
Conrado Vivacqua
Estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
FLORESTA FAZ A DIFERENÇA!

p.s. Por acreditar na construção de uma discussão coletiva deste assunto, publicarei esta carta-sugestão em meu blog: http://transbordarquitetura.blogspot.com/

 
*este fragmento foi retirado do site: http://www.florestafazadiferenca.org.br/quem-somos/

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Seminários sobre a Implantação das Praças de Esporte e Cultura do MinC

     Até o final deste ano, o MinC estará realizando uma série de seminários em várias capitais do país para discutir a mobilização social das comunidades que receberão o programa de Praças de Esporte e Cultura - PECs.

     Os eventos das regiões Sul e Sudeste já aconteceram, mas ainda ocorrerão nos dias 17 e 18 de Outubro em Salvador ; 20 e 21 de Outubro em Recife; 24 e 25 de Outubro em Fortaleza; 27 e 28 de Outubro em Belém; e em 8 e 9 de novembro em Brasília. Gestores públicos e representantes dos municípios interessados, se inscrevam!

     O endereço eletrônico para as inscrições é gestaopracas@cultura.gov.br
    

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

ZANINE CALDAS - Arquitetura de Morar

     Daqui a aproximadamente três meses, no próximo dia 20 de Dezembro, se completarão 10 anos da morte do grande arquiteto José Zanine Caldas (1919-2001). Para começarmos a pensar nessa data em que perdemos o extraordinário mestre da madeira, humanista e principal personagem da arquitetura brasileira no que diz respeito ao pensamento sustentável e à defesa ambiental, nada mais significativo do que compartilharmos aqui no blog, no primeiro dia da primavera, o curta-metragem Arquitetura de Morar (1975) sobre sua obra. É um das raras oportunidades de nos encontrarmos com a delicadeza do seu trabalho em um registro cinematográfico tão precioso como o de Antônio Carlos Fontoura. Vale à pena conferir!



Para conhecer outras obras de Antônio Carlos Fontoura sobre personalidades como Gal Costa e Heitor dos Prazeres, recomendo: http://vimeo.com/cantoclaro

terça-feira, 20 de setembro de 2011

NELSON LEIRNER – Intervenção na FAU e Retrospectiva no SESI

Imagem da intervenção de Nelson Leirner na FAU, 1970.
    
     Em obscuros anos de 1970, Nelson Leirner ocupou o mais monumental e democrático espaço da FAUUSP, o Salão Caramelo, com uma incisiva instalação de imensos plásticos pretos e estruturas tubulares metálicas. Numa comunicação direta com a arquitetura e com aquela instituição que no momento parecia ser a melhor interlocutora do seu trabalho e pensamento político, Leirner propôs um “impedimento simbólico” que podia ser visto por todo o edifício e que se pretendia participativo e propositivo. Significativamente, no dia seguinte à montagem da instalação, todo o trabalho foi encontrado destruído, segundo o site do artista, por ação de alunos, professores e funcionários da FAU.

     Esta obra, entre tantas outras geniais e provocativas ações, pode ser conhecida na retrospectiva Nelson Leirner 2011 – 1961 = 50 anos, em exposição na generosa galeria de arte do SESI, na Avenida Paulista, em São Paulo. Se todo o trabalho de Leirner vale uma profunda reflexão sobre a cômica ambivalência das coisas no mundo, principalmente nossas ações e valores, no que diz respeito especialmente à arquitetura sua intervenção na FAU traz grande contribuição. Leirner e sua ocupação de sacos pretos reativaram o caráter de praça pública do Salão Caramelo, palco de discussões e debate de idéias, fato que não é menos significativo em um Estado de exceção como o daqueles tempos. Se o trabalho de Leirner foi capaz de evocar o valor do discurso da arquitetura presente no edifício da FAU, inserindo-se nela para fazê-la reencontrar-se com sua intenção de projeto, e até gerando reações furiosas, não se pode negar a notória importância da comunicação entre arquitetura e as outras artes, como acontece neste caso.


Imagem do trabalho destruído.

     No catálogo sobre este trabalho de Leirner na FAU, de mais de quarenta anos trás e presente nesta exposição, Paulo Mendes da Rocha salienta a importância de se reconhecer a potência que existe na profícua troca entre os diversos campos das artes e a arquitetura. Fica aqui a vontade de ver a FAU como um espaço não apenas lembrado por sua arquitetura genial, mas também como palco para intervenções e ações como esta que estamos rememorando aqui no blog. Fecundar é uma palavra muito usada por Agnaldo Farias, professor da FAU e curador da exposição Nelson Leirner 2011 – 1961 = 50 anos, para se referir ao trabalho de Leirner, mas poderia também ser aquela palavra que mais se aproxima da vocação da arquitetura: um receptáculo para as ações e humores da vida.

     Quem sabe não possamos fazer da FAU um espaço de discussão oficial para os diálogos entre arte e arquitetura, propondo uma curadoria e a inserção dela no circuito de cultura da cidade e do campus? Seria lindo ver como artistas contemporâneos conversam com o edifício de Vilanova Artigas, como Lucia Koch, Ernesto Neto e tantos outros que já fazem um trabalho relacional com a arquitetura. Quem sabe esta não seja, como vimos com a obra de Leirner, uma vocação do edifício da FAU? Quem sabe?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

NOVA GALERIA LEME de PAULO MENDES DA ROCHA (?)

     Em julho, noticiamos aqui no transbordarquitetura! a demolição da galeria Leme, projeto recente de Paulo Mendes da Rocha com o escritório Metro, em São Paulo. O objetivo da demolição seria dar lugar a mais um grande projeto imobiliário na marginal do rio Pinheiros e, como especulado na época, a compensação apresentada pela Odebrecht (empresa construtora responsável pelo novo edifício que ocupará o lugar da galeria) seria reconstruir o projeto da edificação demolida em um terreno próximo ao original. Dito e feito. Já estão avançadas as obras da Nova Galeria Leme e em breve, quando estiver concluída a nova edificação, o antigo projeto será destruído.



Imagens da nova obra retiradas há pouco mais de uma semana atrás. Mais ao alto, o novo anexo, e logo acima, os fundos do novo edifício principal da galeria. Pode-se notar as aberturas que serão conectadas pela nossa passarela.

     Se há alguns meses nós já discutíamos aqui os desdobramentos de se copiar um projeto em outro terreno e em outra situação com a cidade, como é o caso da Nova Galeria Leme, agora, com a obra em andamento e o novo edifício levantado, fica mais evidente o impacto das diferenças dos dois projetos. Embora tenha sido feito um esforço grande para associar a demolição da Galeria Leme com a construção de um uma cópia sua no mesmo bairro, reduzindo assim as possíveis polêmicas sobre a destruição de um projeto daquele que é reconhecido como um dos maiores arquitetos brasileiros e prêmio Pritzker, Paulo Mendes da Rocha, o que vemos ali é um projeto novo. 

     É claro que há algo da antiga galeria que foi respeitado, pois não se abandonou seu feitio original, porém, por conta da nova implantação de esquina, do novo edifício anexo e de algumas significativas pequenas alterações, não há como negar que não se trata de uma simples cópia ou reconstrução do desenho que havia sido feito pra Galeria que logo logo será destruída. Se antes tínhamos uma tímida edificação que, por entre sisudas e altas paredes de concreto, abria pequenos recortes para a cidade, agora temos duas grandes massas edificadas, relacionadas com grande perspectiva para a cidade e que apresentam como grande ícone a nova ponte projetada para ligar a galeria e o seu anexo. Ou seja, um projeto diferente do original que, além de tudo, tem sua orientação solar modificada.




Imagens do novo projeto para a Galeria Leme.

     Assim, conhecido o novo projeto e sabendo-se das diferenças notórias que apresenta com o desenho original, fica a dúvida do porque se propagar a estranhíssima idéia de que haveria replicação do projeto que será demolido. Se alguém acreditava mesmo que esta seria uma forma positiva de se compensar a perda que a cidade terá em destruir um trabalho de um dos maiores arquitetos brasileiros para dar lugar a banais torres de escritórios, o que vemos é uma total transformação do que parecia ter sido proposto. Se era para fazer um novo projeto, por que não partir realmente para uma edificação nova projetada desde o seu início, respeitando-se o novo terreno e a nova implantação? O próprio Paulo Mendes deveria ser convidado para isso, e o escritório Metro junto com ele, para aí sim começarmos a pensar em uma compensação real para a cidade com a demolição da Galeria Leme original.

     Estamos abrindo espaço mais uma vez para uma promiscuidade sem fim de interesses que desrespeitam as nossas cidades e que passam por cima da nossa cultura e arquitetura brasileiras. A demolição da Galeria Leme é um caso esquizóide de tentativa de compensação através da cópia, que acabou não se revelando tão idêntica assim, e que em nada contribui verdadeiramente para pensarmos na cidade em transformação. Paulo Mendes comentou para o Diário de São Paulo a respeito do caso que “a modernidade está fazendo com que imóveis virem móveis”, porém, mais que isso, me parece que neste caso há um total desrespeito com o trabalho de um dos nossos mais geniais arquitetos e uma visão estranhíssima sobre a memória na arquitetura e sua permanência na cidade. Mais uma vez uma brutal incongruência entre aqueles que pensam e respeitam a cidade, com os interesses obscuros de um capital de transformação da cidade que tem muito pouco a nos acrescentar em termos de beleza e qualidade de vida.

Para conhecer nossa primeira postagem sobre a demolição da Galeria Leme, acesse:

Imagem da edificação que será demolida.


RENZO PIANO transborda!

    
     Ontem encontrei um pequeno fragmento de um texto do Renzo Piano que tem tudo a ver com o espírito que tentamos dar a este blog e, como não poderia deixar de ser, venho aqui para compartilhar ele com vocês! Renzo consegue em poucas e objetivas palavras sobre sua experiência profissional traduzir um pouco do que tentamos construir aqui, um caminho em que a arquitetura testa seus limites e em certa medida se confunde com aqueles outros campos de conhecimento que a subsidiam ou com os quais está em permanente contato e troca. Nessas intersecções, para usar um termo geométrico tão caro à arquitetura, estou cada vez mais convicto que se revelam a riqueza e a potência de uma arquitetura plural e humanista. As palavras de Renzo, que cito aqui abaixo, são bastante excitantes e animadoras para quem acredita nisso:

“Pertenço a uma geração de pessoas que manteve uma abordagem experimental durante toda a vida, explorando campos diversos, profanando limites entre disciplinas, misturando papéis, assumindo riscos e cometendo erros. E isso em vários terrenos. Do teatro à pintura, do cinema à literatura e à música.”

Emocionante, não? Sem dúvida, a arquitetura de Renzo Piano transborda. Profanar limites entre disciplinas...  transbordarquitetura!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

COLEÇÃO FOLHA GRANDES ARQUITETOS – Percepções e primeiros comentários

     Ontem, no Domingo, chegaram às bancas os dois primeiros livros da Coleção FOLHA Grandes Arquitetos e, é claro, corri logo cedo para conhecer o material que nós havíamos divulgado aqui em uma postagem da semana passada. Incrivelmente, pois eu não esperava, esta é uma das nossas discussões mais acessadas do blog nesses últimos tempos e, justamente por isso, parece ser aquela em que melhor podemos contribuir para um debate que faça jus ao nome desta plataforma virtual: transbordarquitetura! Afinal, o grande número de pessoas interessadas sobre a coleção que visitaram o blog e que, como pude verificar na minha banca de jornal, compraram os seus primeiros volumes, nos mostra um interessante movimento que rompe com a solidez de um campo tão auto-centrado e distante dos outros interlocutores da cultura, inclusive no que diz respeito à mídia geral, como é a arquitetura. Um caminho fértil então para discutirmos algumas possibilidades de comunicação e troca entre arquitetos e não-arquitetos.

     Frank Lloyd Wright e Renzo Piano foram os grandes nomes escolhidos para a estréia da coleção e, nesse sentido, acredito que começarmos a pensar as intenções envolvidas na escolha desta dupla como estratégia para a compra da coleção pode, em muito, contribuir para entendermos melhor como se dá o alcance da arquitetura com o público geral. Afinal, não sem porque esta dupla foi escolhida para atrair leitores-consumidores, cada um deles apresenta um perfil distinto que, considerando a presença temporal e a inserção de suas obras, pode atingir distintos públicos. Ao que me parece, e gostaria de colocar isso como uma hipótese a ser discutida com vocês, Wright foi escolhido por ser um nome bastante conhecido de todos e que atrairia aquela parcela do público que conhece o que é notório da arquitetura, seus antigos e grandes arquitetos, enquanto Piano reforça a qualidade do time de arquitetos contemporâneos e chama aqueles que já conhecem bastante da arquitetura, como estudantes, para a compra dos livros.

     Não à toa também, Oscar Niemeyer foi escolhido para ser o grande chamariz da primeira edição a ser vendida com o preço original, R$16,90 por volume, a sair na semana que vem, uma escolha que revela a notoriedade do arquiteto brasileiro entre aqueles que podem se interessar tanto por Wright quanto por Piano como também por aqueles que perderam os primeiros livros e que encontram no nome mais conhecido de arquitetura no Brasil a oportunidade para começar a coleção. Nesse caminho, fica pra mim a vontade de conhecer realmente daqueles que trabalharam na estratégia de vendas da coleção as intenções por trás da escolha de cada nome elegido para dar cara a cada número da coleção, pois poderíamos ter informações que nos alimentariam para outros vários caminhos de discussão. Assim como seria muito interessante ter os números de vendas e saber quais foram aqueles arquitetos mais procurados, o que também daria para nós um perfil interessante do público que procurou os livros.

     Enfim, acho que temos muito ainda o que garimpar dos primeiros resultados e daqueles que ainda virão com a venda desta coleção de livros pelo jornal de maior circulação do país, a Folha de São Paulo. É uma oportunidade muito boa para enfim aproximarmos arquitetos das discussões da sociedade, da mídia não especializada em arquitetura e do cotidiano cultural dos brasileiros. Li no jornal que a procura por livros da Clarice Lispector aumentou consideravelmente depois que uma personagem da novela Malhação, da Rede Globo, começou a ler seus livros, e me senti surpreso (olha que tonto!) em ver que a mídia tem cumprido um papel que sempre foi da escola. É ainda distante o sonho de ver arquitetura sendo pensada e discutida nas escolas do nosso país, pois não alcança nem as rodas de papo da maior parte da nossa elite cultural, mas quem sabe possamos aproveitar esta porta que se abriu com a divulgação desta coleção de livros para alcançar vôos maiores? Parece, pelo menos foi o que me disse meu jornaleiro, que a coleção que antecedeu a dos Grandes Arquitetos, sobre ópera, teve uma imensa procura principalmente de um público bem jovem. Vamos aproveitar isso?

E vocês, compraram os livros? Ainda vão comprar? O que acharam dos primeiros volumes?

sábado, 10 de setembro de 2011

ARQUITETURA: Competição ou Cooperação?

     Continuando a alimentar a ponte que começamos a estabelecer entre o transbordarquitetura! e o ComoVer, gostaria de dividir aqui algumas questões que há algum tempo pairam sobre a minha cabeça e que a respeito delas me interessa conhecer a opinião dos meus amigos de “blogagem”. Nesta semana visitei a exposição de trabalhos que concorreram aos concursos do parque olímpico do Rio de Janeiro e do Porto Olímpico, todos expostos na sede carioca do Instituto dos Arquitetos do Brasil. A exposição acaba de deixar o IAB-RJ mas traz para mim uma velha questão sobre a solidificação de uma cultura de concursos de arquitetura no Brasil que, embora importantíssima do ponto de vista de estímulo ao fortalecimento e atuação dos escritórios e arquitetos brasileiros, me parece fazer parte da construção de uma arquitetura de viés mais competitivo do que cooperativo.

     Explico. É claro que não tenho dúvidas sobre os benefícios de uma cultura de concursos de idéias de arquitetura que, além de promoverem publicamente os objetos de concurso e a própria arquitetura, estimulam a troca de idéias e fazem escritórios e arquitetos conhecerem seus pares. Porém, vejo nessa construção de um ideário de concursos públicos a replicação de um padrão internacional de disputas que não respeita outros aspectos da arquitetura como o tempo, a aprendizagem ao longo do trabalho ou a cooperação. Se não caio na provocativa dicotomia insinuada no título desta postagem, pois não acho que se deva optar por competição ou cooperação, também não concordo que nos esqueçamos de construir junto à uma cultura forte e bacana de concursos públicos de arquitetura um espaço rico de cooperação entre arquitetos e projetos de arquitetura.

     Digo isso porque vejo que a competição de projetos, assim como a competição entre cidades sedes de olimpíadas ou por aquelas com mais turistas ou com o melhor branding de sucesso, parece fazer parte de um mundo corporativo que se constrói pela ocupação do espaço de um no lugar do outro. Não acredito sinceramente que os concursos sejam um espaço de democratização da arquitetura só porque permitem que todos participem com igual capacidade de vitória. Pelo contrário, pela necessidade de um padrão único e rápido de apresentação e divulgação da idéia, já que em concursos a beleza fácil e a publicização do trabalho são tão fundamentais quanto aspectos mais filosóficos da arquitetura, me parece que na maioria das vezes eles nos servem para engessas aspectos e criar fetiches estéticos, permitindo que só hajam alguns vencedores óbvios. Há um diferença clara e que todos reconhecem entre se fazer um projeto para vencer um concurso e um projeto para ser excepcional e doador de qualidade para a cidade.

     Frank Lloyd Wright já dizia que os vencedores de concurso não eram nem os melhores nem os piores, mas sempre os medianos, e que por isso não fazia questão de ganhar nada. Outros tantos arquitetos argumentam isso e não é de hoje a visão de que concursos e competições de arquitetura são um estímulo ingênuo à boa arquitetura e ao fomento da criatividade de arquitetos. No mesmo caminho têm rumado as discussões sobre editais de cultura que promovem a competição entre projetos culturais e ações artísticas, pois há uma percepção geral de que elescerceiam a capacidade criativa ao padronizarem exigências e prazos. A arquitetura compartilha nesse sentido dos mesmos dilemas que as outras artes.

     Então, que outros caminhos são possíveis para se conseguir os mesmos resultados esperados pelos concursos? Se são louváveis as iniciativas de instituições de arquitetura em promoverem concursos para tentar fortalecer o trabalho dos arquitetos e tentar trazer qualidade aos novos empreendimentos a serem divulgados e trabalhados, como ir além da mera competição quando o assunto é pensar uma boa arquitetura? Não tenho as respostas e talvez seja um tanto tola esta minha questão, mas sinto que falta ainda um caminho cooperativo em que arquitetos possam se ajudar mutuamente e compartilhar as questões que envolvem seus trabalhos diários. Escritórios parecem viver isolados na cidade e apenas têm a oportunidade de se encontrarem ou se olharem quando estão em competição plena para ver quem apresenta o melhor resultado. A academia e os trabalhos de faculdade estão seguindo o mesmo caminho , pois se baseiam no mercado e no que acontece com os grandes escritórios, reproduzindo em sala de aula a competição e a escolha pelo melhor trabalho.

     Não acredito em melhores trabalhos assim e ia adorar que os próprios selecionados em concursos pudessem votar pelo trabalho que mais gostaram ou pelo arquiteto que acharam mais bem sucedidos na competição. Isso ao menos forçaria que todos tivessem uma troca mais efetiva e generosa. Um exemplo maravilhoso da nossa arquitetura brasileira e que eu acho que tem tudo a ver com esta discussão é o Palácio Gustavo Capanema, o prédio do MESP do Rio de Janeiro, grande baluarte da arquitetura moderna. Se a competição e o concurso promovidos para a escolha do projeto foram implodidos, esquecendo-se o vencedor Arquimedes Memória e dando lugar ao grandioso Lucio Costa pela amizade que tinha com membros do ministério, Lúcio nos deu uma lição sobre cooperação ao chamar vários dos seus colegas modernos de concurso para trabalharem no novo projeto. Foi assim nasceu Niemeyer, assim encontramos com Corbusier e assim formamos o Brasil, com misturas e danças de roda. Precisamos encontrar mais espaços de cooperação na arquitetura e, nesse sentido, faço desta vontade uma forma de agradecer aos meus amigos do blog ComoVer por estarem compartilhando aqui comigo suas visões e vontades sobre arquitetura.

     Deixo então a pergunta, meus amigos: isso tudo faz algum sentido para vocês?

Para visitar o ComoVer sempre: http://www.comover-arq.blogspot.com/

domingo, 4 de setembro de 2011

Coleção de livros FOLHA GRANDES ARQUITETOS chega às bancas, a partir do dia 11, com edições especiais sobre as obras de grandes figuras da arquitetura mundial.

Com presença flutuante sobre os assuntos que interessam ao mundo da arquitetura, inclusive no que diz respeito aos seus cadernos culturais, coleção de livros apresenta uma vigorosa investida de aproximação da mídia impressa não especializada em arquitetura com a produção e discussão dos trabalhos de grandes arquitetos de várias gerações.




     Desde a última sexta-feira, dia 5, começou a circular na TV a bacaninha peça publicitária de divulgação da coleção de livros FOLHA Grandes Arquitetos, do jornal Folha de São Paulo, que trará todo domingo uma edição especial sobre a obra de um grande arquiteto mundial. Idealizada pela agência África, a propaganda brinca com a influência da coleção na vida de um menininho que, ao ser instigado na praia pelo seu pai a fazer um castelinho, refaz a Sagrada Familia de Gaudí em areia. Ao desespero dos já surpresos pais quando uma onda chega e destrói todo o trabalho do menininho, ele os despreocupa e diz que recomeçará tudo fazendo desta vez o congresso de Brasília do Niemeyer.

     Para além do bom resultado da propaganda, não é nenhuma surpresa o desprestígio da arquitetura quando se trata da sua presença em veículos de grande comunicação em massa e na bagagem cultural dos brasileiros. Diferente da música, das artes visuais e do teatro, por exemplo, que por menor espaço que tenham já conseguem alcançar um variado público e tem seus grandes artistas no imaginário coletivo do país, a arquitetura ainda é pouco conhecida e muito pouco representada por grande parte da nossa mídia impressa e audiovisual. No imaginário das crianças então é desprestigiadíssima.



     Nesse sentido, talvez seja possível reconhecer na nova coleção que chega às bancas um precioso passo para a aproximação do público geral com o trabalho de grandes nomes da arquitetura que vão além do consagrado Niemeyer. Só as imagens publicitárias que estão sendo difundidas já são um estímulo incrível de encontro do público com o melhor da arquitetura, que se ainda não encontrou um espaço forte de discussão dentro dos cadernos de cultura e com a periodicidade devida, terá grande destaque nos próximos meses com o material vendido junto à Folha de São Paulo.

     Desta maneira, quem sabe, aqueles que ainda não conheciam os nomes e as obras de arquitetos contemporâneos como Renzo Piano, Jean Nouvel, Norman Foster, Steven Holl ou até mesmo dos consagrados Frank Lloyd Wright e Alvar Aalto, se vejam defrontados todo domingo com a imagenzinha deles na banca de jornal ou no capacho da porta dos seus apartamentos. Uma oportunidade para que professores e pessoas interessadas em arte e arquitetura, que nunca tiveram uma chance tão oportuna e fácil de aproximação, se vejam instigados a conhecer mais da produção arquitetônica mundial. Também será uma ótima oportunidade para que bibliotecas possam adquirir com facilidade livros sobre arquitetura que pouco chegam às escolas ou espaços culturais, despertando talvez a curiosidade de alguém que não teria outra chance de conhecer uma obra como a Sagrada Família de Gaudí. E quem sabe esse alguém possa vir a ser um pequeno menino que queira, agora sim na realidade, brincar de fazer mais do que castelinhos nas areias da praia.

     Se a nova coleção servir para estimular crianças sobre o universo da arquitetura e formar novos arquitetos no futuro, ótimo! Porém, mais importante que isso, é possível ver na difusão da arquitetura com a nova coleção da Folha um estímulo importante à construção de uma cultura arquitetônica forte em nosso país que permita que nossas cidades sejam mais do que meros cenários para a especulação imobiliária e a reprodução burra de estereótipos estrangeiros. E isso só será possível com a presença da arquitetura no cotidiano de todos nós, arquitetos ou não.

sábado, 3 de setembro de 2011

SAUL STEINBERG na Pinacoteca do Estado de São Paulo - de 3/9 a 6/11

Depois de passar pelo Instituto Moreira Salles do Rio, a exposição SAUL STEINBERG - AS AVENTURAS DA LINHA começa hoje temporada paulistana na Pinacoteca.

     Uma oportunidade única para se conhecer de perto o desenho crítico e irônico do grande cartunista da New Yorker que, como comentado aqui no blog por ocasião da temporada carioca, levou consigo muito da sua formação como arquiteto e é personagem chave quando se trata de pensar as fronteiras criativas da arquitetura. Sem dúvida uma exposição que transborda os conceitos conhecidos da arquitetura, se valendo deles a todo o tempo para reorientá-los, e amplia as possibilidades de pensamentos sobre a cidade e sobre muito daquilo que ela é constituída: suas coisas, seus personagens, fluxos e ações.

Imperdível!


     Para conhecer nossos comentários e pensamentos sobre a exposição quando esteve no Rio de Janeiro, o link para o post SAUL STEINBERG - CRÔNICAS DA LINHA DE UM ARQUITETO é http://transbordarquitetura.blogspot.com/2011/08/saul-steinberg-cronicas-da-linha-de-um.html

Bom final de semana!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Exercícios de liberdade – diálogos com o blog ComoVer Arq

     As investigações do tema da liberdade na arquitetura são, sem dúvida, daquelas que mais me impulsionam e me sensibilizam. Quando Fernando Gobbo e Larissa França, do blog ComoVer Arq, comentaram na última postagem sobre a minha colocação da Casa de Vidro do Morumbi como um exercício de liberdade, discordando dela, me deixaram bem animado em poder construir junto com eles um debate sobre este tema que tanto me fascina. Aqui no blog, no primeiro semestre, tentamos iniciar alguns caminhos de diálogo com este tema através da entrevista com o professor Wilson Jorge sobre o exercício de projeto na arquitetura prisional.

     Pois bem, ao argumento de Fernando e Larissa sobre a planta da Casa de Vidro manter um desenho espacial que reproduz o discurso da “Casa Grande e Senzala” quando, nas divisões internas, reproduz a hierarquia social dos seus cômodos, resolvi logo recorrer a uma nova olhada no desenho de planta do projeto de Lina Bo. Sem dúvida, para quem analisa esta planta, fica muito evidente a forte divisão que há entre o espaço dos empregados e a área dos donos da casa, sendo a cozinha a responsável pela intermediação entre esses dois blocos da residência. Ao constatar isso e concordar com meus colegas de blog, duas idéias me vêm à mente: a primeira diz respeito às contradições que me parecem residir no casal Bardi e que sempre me causaram difícil entendimento. A casa de vidro é a casa da nossa maravilhosa Lina, mas também é, mesmo que diferente das outras, uma casa da elite branca da cidade de São Paulo da década de 50.



     O outro ponto que me surge é um possível paralelo entre o discurso de liberdade presente na Casa de Vidro do Morumbi com aquele proferido pelas formas de Brasília. Se entendermos a liberdade formal na arquitetura como a possibilidade de dar plenos direitos de movimentação e visão aos homens, pilotis e fachadas de vidro são os elementos que mais diretamente podem trazer para a forma o ideal de liberdade. Nesse sentido Brasília e a Casa de Vidro são notórias experiências de liberdade. Porém, quando pensamos em Brasília, logo nos chega a imagem de uma cidade dupla: uma de palácios e cartões postais, onde é possível correr e andar sem interrupções por debaixo dos pilotis livremente; e outra de precariedade e falta de planejamento, representada pela pobreza da maioria das cidades satélites ao plano piloto. Ou seja, para além do sonho projetivo de Lúcio e Oscar, Brasília é uma cidade como qualquer uma das outras cidades do nosso país: essencialmente desigual, uma reprodução da nossa estrutura social e política. Brasília é uma cidade, quer se queira ou não, brasileira.

     Então, como pode haver liberdade formal se há uma estrutura social aprisionadora? A forma dá conta de expressar o que pleiteamos como liberdade? Se a Casa de Vidro do Morumbi fosse um Loft e nela não houvesse paredes e alas de empregados, a experiência projetiva ali poderia ser considerada mais libertária no que diz respeito à forma? Mesmo que já existisse Paraisópolis, a maior comunidade pobre próxima ao bairro em que fica a Casa de Vidro, o Morumbi, para sustentar, da mesma forma que acontece em Brasília, a dicotomia desigual da sociedade brasileira?

     A necessidade faz o ladrão, como diz o ditado, e a dispensa de mantimentos sumiu da planta das casas brasileiras quando os supermercados se tornaram mais comuns. Assim como talvez um dia sumam os quartos de empregada, mas talvez não seja um sinal de grandes mudanças sociais. A forma esconde e não é invencível. Ambientes abertos e fluxos fluidos não revelam em si movimentos libertários. Somos tão arquitetos quanto agentes políticos e a arquitetura da liberdade só encontrará lugar quando uma profunda transformação de hábitos e lugares sociais acontecer.

Para conhecer meus amigos do ComoVer Arq visite: http://comover-arq.blogspot.com/
Para ver a entrevista sobre arquitetura prisional com o prof. Wilson Jorge: http://transbordarquitetura.blogspot.com/2011/04/entrevista-com-o-prof-wilson-jorge.html

Nunca nos encontramos tanto!

Olá, pessoal!

Terminar um mês de agosto como o último que passou, com mais de 1000 acessos no mês, é motivo de grande comemoração aqui no transbordarquitetura!. No ano passado, neste mesmo Agosto, foram pouco mais de 100 acessos, uma mudança assustadora mas que me deixa muito alegre e confiante sobre a potencialidade desse nosso espaço de discussão. Só posso agradecer a todos vocês pela troca que temos tido, sempre muito animadora e verdadeira, que faz do blog a cada dia uma plataforma mais vigorosa para debatermos sobre arquiteturas.

Obrigado pelo carinho, pelas mensagens e visitas ao blog.
Continuem acompanhando e vindo comigo nessa empreitada!
Viva!
Um grande e afetuoso abraço a todos!




sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Koolhaas em São Paulo outra vez, agora por ocasião do lançamento de exposição internacional na Casa de Vidro do Morumbi.

Evento social lotou o mítico teatro do SESC Pompéia e reuniu um público ávido pela legitimação da arquitetura brasileira dentro do cenário internacional.


         A foto aí acima não me deixa mentir, faltou lugar no teatro do SESC Pompéia para tantas pessoas interessadas em ver de perto a conversa entre o curador Hans-Ulrich Obrist, o arquiteto Rem Koolhaas e a designer Petra Blaisse, que aconteceu ontem, dia 25. A maior parte delas interessada em ver outra vez o arquiteto holandês Rem Koolhaas, prêmio pritzker do ano 2000, que já havia estado em São Paulo em 2002 por ocasião do evento ARTE CIDADE, para o qual propôs uma intervenção para o já destruído edifício São Vito. Com uma maioria esmagadora de estudantes e interessados em arquitetura, a celebração do projeto do projeto para a Casa de Vidro do Morumbi, grande motivação para o evento de ontem, pareceu ficar em segundo plano com a saída de grande parte da platéia depois da fala de Koolhaas.

        É claro que reunir tanta gente pouco depois das 11h da manhã de uma quinta-feira, principalmente quando o assunto é arte e arquitetura, já é motivo de grande emoção e comemoração. Porém, para minha surpresa, a escolha de um elenco internacional de debatedores e a presença opressiva da língua inglesa em uma platéia maciçamente composta por brasileiros parecia revelar uma forte necessidade de internacionalização e legitimação da nossa produção artística e arquitetônica por nossos pares estrangeiros. Nada contra a nossa vontade de fazer parte de um cenário global, em que devemos sim atuar e pelo qual é importante construir pontes de comunicação, mas não acredito, com sinceridade, que “pedir a bênção” a consagrados artistas internacionais vá conseguir trazer a sustentabilidade da nossa presença no cenário global da grande produção de arte e arquitetura.

        Talvez estejamos tentando fazer um caminho que já conhecemos, pois a arquitetura moderna brasileira ganhou grande destaque a partir da exposição Brazil Builds, no MoMA, e pela vinda de figuras estrangeiras que divulgaram nossa produção nacional, como Max Bill, Le Corbusier, Yves Bruand, para não citar outros. Difícil, porém, é acreditar que só isso seja suficiente para reafirmarmos, principalmente para nós mesmos, que nossa produção é consistente e passível de conquistar outras terras e reverberar lá fora. Será que acreditamos mesmo nisso? Então por que a necessidade de aprovação a todo o tempo? As perguntas feitas à Koolhaas ontem, que foram constrangedoramente mais do que aquelas dirigidas à Petra Blaissa, sem motivo aparente, revelavam precárias tentativas de ter nas respostas do arquiteto holandês a legitimação de nossas cidades, arquitetura e artistas num cenário internacional. Porém, somente um ar de frustração se formou depois das falas de Koolhaas, felizmente talvez.

        Com a frustração da não aprovação, ou ao sermos colocados, segundo a resposta de Koolhaas sobre o lugar de São Paulo no mundo, ao lado de cidades como Lagos, na Nigéria, talvez consigamos olhar para nós mesmos e assim então construirmos uma produção sólida que por si só já se represente em outros países. Afinal, maturidade se alcança, não se solicita.

        Ao mesmo tempo em que vejo nossa ingenuidade, ou complexo de vira-lata, nas perguntas proferidas à Koolhaas, é difícil não pensar o quanto o projeto de internacionalização da Casa de Vidro do Morumbi precisa ser questionado sobre também não ser apenas parte dessa vontade de legitimação exterior da qual estamos falando aqui. Lembro muito bem da dificuldade que tive nesses 3 anos morando em São Paulo, como estudante de arquitetura, para tentar conhecer de perto a casa projetada e que por muito tempo morou nossa querida Lina Bo e seu marido Pietro M. Bardi. Foram muitos e-mails e telefonemas e uma série de negativas, sendo que para visitantes estrangeiros as respostas não pareciam ser as mesmas.

        Quando vejo este encontro para celebrarmos a nova fase da Casa de Vidro do Morumbi representado por uma conversa apenas em inglês com três figuras européias de destaque internacional, e nenhum brasileiro, fica difícil acreditar que a potência real da obra de Lina Bo vá encontrar lugar nessa proposta de internacionalização. A fala final e atrasada do diretor do SESC, Danilo Miranda, em português, como foi salientado por ele, revelaram aquilo que Lina e suas obras tinham de melhor: a capacidade de tocar todos os públicos, principalmente os não iniciados em arquitetura ou nas artes formais.

        Mais do que uma casa conhecida internacionalmente ou um trabalho exposto no exterior, acho que a Casa de Vidro precisa ser conhecida por nós mesmos como processo de aprendizado sobre nossa história e nossas vocações. Me interessa menos que visitantes estrangeiros conheçam a Casa para legitimá-la lá fora, e muito mais me importa que estudantes brasileiros tomem conhecimento dela, de sua beleza e discurso pleno de liberdade projetiva e estética. Estudantes de arquitetura e dos ensinos fundamental e médio, principalmente público! Imagino que para uma criança de escola pública, moradora de comunidades carentes ou favelas, que provavelmente vive em uma casa apertada e muito pouco privilegiada em termos de cidade e arquitetura, conhecer a casa de vidro seja uma oportunidade de entender pela experiência vivida que é possível se ter liberdade no seu dia-a-dia. Quero um projeto de nacionalização da nossa arquitetura e um projeto de nacionalização da Casa de Vidro, porque ela ainda não é nossa. Não podemos deixar que a casa de Lina vire, como já aconteceu com o MASP, uma desvirtualização do seu potente discurso para fins mercadológicos de sua produção. Este é o nosso papel nessa nova fase da Casa de Vidro do Morumbi.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O encontro dos rios Solimões e Negro, que forma o grande rio Amazonas, está correndo sério risco de ser desfigurado pela construção de um novo terminal portuário para a Zona Franca de Manaus.

Tombamento de 2010 do IPHAN, que avaliou a fundamental importância do encontro dos rios como patrimônio de todos os brasileiros, foi revogado pela justiça do Amazonas nesse início de Agosto e aponta ameaça sobre a preservação paisagística do monumento natural.



         A proteção e estudo da paisagem é, sem dúvida, um dos campos de investigação da arquitetura. Quando formados, depois de um mínimo de 5 anos de estudo na faculdade, podemos nos habilitar também como paisagistas ou arquitetos da paisagem. Porém, desde os assustadores debates no Congresso sobre o Novo Código Florestal Brasileiro, no começo desde ano de 2011, não me restam dúvidas de que nós arquitetos, assim como nossas instituições, estamos falhando em uma batalha que só se anuncia em um novo milênio de grandes demandas ambientais e paisagísticas, principalmente em um contexto de grande desenvolvimento em nosso país. Não estamos fazendo jus a nossa formação como paisagistas!

        Quando o Congresso chegou à beira de ratificar um Novo Código Florestal que desvirtuava décadas de luta pela preservação dos nossos ecossistemas e pelo patrimônio paisagístico brasileiro, influenciado quase que exclusivamente pelo setor agropecuário, enviei para a ABAP (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas) e publiquei aqui no blog uma carta que pedia uma manifestação pública da instituição sobre sua posição a respeito da desastrosa movimentação do nosso Congresso. Nada me responderam e não soube de nenhuma manifestação pública sobre o novo código. (Para reler a carta, o link é http://transbordarquitetura.blogspot.com/2011/04/mensagem-para-abap-sobre-o-novo-codigo.html ).

        Felizmente outras forças, principalmente representadas por ambientalistas e estudiosos das biologias, conseguiram estender o prazo da votação, com ajuda do Governo, adiando um pouco mais a turbulenta discussão. Enquanto não voltamos ativamente à briga sobre as alterações do novo código, outra grande demanda ambiental e paisagística aparece de forma urgente pela ameaça da preservação do encontro dos rios Solimões e Negro por conta da iniciativa da construção de um novo terminal portuária para a Zona Franca de Manaus. O IPHAN, tendo em vista a ameaça possível, tombou em 2010 o monumento natural. Contudo, neste mês de Agosto, a justiça do Amazonas revogou o tombamento alegando falta de audiências públicas. Segundo o IPHAN o tombamento não carece deste tipo de consulta popular, porém parece que temos aqui uma questão de notória necessidade do posicionamento das instituições da sociedade civil sobre sua avaliação a respeito da construção deste porto e a possível desfiguração do encontro dos rios, como fator de legitimação da ação do IPHAN.



        Assim, me parece que ABAP, IABs e outras instituições de arquitetura, como nossas escolas, deveriam se posicionar e promover uma carta pública sobre seu apoio à preservação do encontro dos rios e ao tombamento promovido pelo IPHAN. O conselho do instituto, que toma as decisões de tombamento, já é formado por membros do IAB, mas isso não impede manifestações públicas isoladas de cada instituição a fim de aproximar a sociedade e os arquitetos das decisões tomadas nos salões dos palácios, fazendo do posicionamento da instituição um ato de apoio a promoção de discussões dentro da sociedade. Senão as decisões viram atos isolados, distantes da realidade profissional de cada um, nos afastando destas importantes discussões que, sem dúvida, queremos participar.

        Não sou contra a construção de infra-estrutura para o desenvolvimento industrial da região do Amazonas, porém não acredito nesse desenvolvimento predatório que aniquila os verdadeiros valores que precisamos preservar e que verdadeiramente podem fazer deste um país com maior grau de desenvolvimento social. Precisamos encontrar um caminho seguro de construção de um terminal portuário que respeite a paisagem e afete o menos possível o ecossistema amazônico. Manaus é um grande campo de pesquisa para arquitetos, engenheiros e toda sorte de profissionais que queiram pensar no desenvolvimento das cidades dentro de um contexto de preservação dos ecossistemas naturais. Espero que a necessidade deste novo porto consiga servir de estopim para uma nova maneira de pensarmos o desenvolvimento de nossas cidades amazônicas, unindo todos aqueles que querem promover o desenvolvimento com responsabilidade e ganhos sociais e ambientais para estas cidades.

        Não podemos abrir mão da preservação total do encontro dos rios Solimões e Negro! Como disse em entrevista à folha o presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, você permitira que construíssem arranha-céus na Urca transformando a paisagem do Pão de Açúcar? Nosso grande Lúcio Costa se manifestou em carta pública sobre a construção de um edifício que até hoje afeta a paisagem do grande monumento natural, porém agora ele está tombado e preservado. O que será do encontro dos rios no Amazonas?

Link para a Entrevista de Luiz Fernando de Almeida, presidente do IPHAN: http://www.culturaemercado.com.br/gestao/presidente-do-iphan-fala-sobre-polemica-do-encontro-das-aguas/

Link para a carta protesto de Lucio Costa sobre o edifício alto no Pão de Açúcar: http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/4075



domingo, 21 de agosto de 2011

SAUL STEINBERG – Crônicas da linha de um arquiteto.

Exposição SAUL STEINBERG – AS AVENTURAS DA LINHA se despede hoje do IMS, no Rio de Janeiro, e entra em cartaz em São Paulo, no próximo dia 3, na Pinacoteca.


          É claro que seria impossível para mim, como estudante de arquitetura, visitar a exposição SAUL STEINBERG – AS AVENTURAS DA LINHA , que fui ver no Rio e que pretendo ir de novo em Sampa, sem olhar o incrível e cômico trabalho do grande cartunista da NEW YORKER como sendo também uma obra de um arquiteto de formação. Steinberg se formou em arquitetura em 1940, pela Politécnica de Milão, e leva para seus famosos desenhos, crônicas da vida moderna, especialmente da americana, traços mais que perceptíveis de sua passagem pelas cadeiras da faculdade em arquitetura.

          Fica difícil então, visitando sala a sala da exposição, não procurar na memória a lembrança daquelas aulas de desenho de observação, a turma de recém ingressados na faculdade sentados em alguma esquina da cidade, tentando, mais do que copiar a arquitetura ali exposta, aprender sobre o jeito próprio que cada um tem para captar as imagens da cidade. Steinberg parece reiterar com sua obra genial a importância daquelas aulas e da busca da percepção através do desenho como forma de apreender a cidade e suas arquiteturas. Uma obra que é também uma aula sobre um dos mais fundamentais instrumentos da arquitetura: o desenho.



         Talvez por isso eu tenha ficado tão feliz ao ver uma turma de estudantes de arquitetura visitando a exposição no Rio, orientados por uma professora atenta à importância do conhecimento da obra de Steinberg como uma forma de, em tempos de instrumentos digitais, renovar os votos sobre a crença no desenho como importante ator no desenvolvimento de um arquiteto em formação. Espero encontrar também em São Paulo, cidade com o maior número de escolas de arquitetura, a partir do dia 3 de Setembro, muitas turmas interessadas no destino desse arquiteto que virou um dos maiores cartunistas da História.


 
     Vendo seus trabalhos e a qualidade do seu desenho, fica difícil não ter vontade de ver uma exposição só sobre os desenhos de arquitetos, novos e antigos. Como será o traço de Paulo Mendes, por exemplo? Se os desenhos de Niemeyer já estão imortalizados na nossa memória, como seriam os de outros arquitetos, como Lucio Costa, Reidy, Artigas, Peter Zumthor, Jean Nouvel? Zaha desenha à mão? A proximidade de Steinberg de Lina Bo Bardi, que assim como ele também estudou na Itália, em Roma, e que esteve muito próxima dele quando trabalhava em Milão, nos faz logo pensar na qualidade do desenho de Lina como parte fundamental da sua arquitetura - Steinberg no auge do seu trabalho expôs no MASP, quando Pietro Maria Bardi, marido de Lina, ainda era diretor da instituição. A arquitetura de Lina, como de tantos outros, não existiria e nem seria a mesma sem seus trabalhos especulativos no desenho. Não no desenho técnico, que se facilitou com instrumentos digitais como o AutoCad, mas no desenho livre, aquele que mais se conecta com nossa imaginação e que melhor representa a ponte entre os nossos desejos e a realidade.

         Fica para nós a vontade de uma exposição sobre o desenho na arquitetura, mas por enquanto ficamos muito bem com Saul Steinberg – a Aventura da Linha, logo logo em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Oba!

domingo, 14 de agosto de 2011

ABEL VENTOSO nas fronteiras da arquitetura

         

         Folheando uma revista especializada em artes visuais há algumas semanas atrás, me surpreendi especialmente com uma imagem, dentre toda a abundância de informações visuais que pouco pude digerir numa rápida folheada, sem a qual não poderia começar a conhecer o vigoroso trabalho do artista argentino Abel Ventoso. Memorizei seu nome e fui buscar na rede mais informações sobre sua obra e sua biografia. Desde a primeira imagem foi difícil não comparar seus atuais planos de relevo com trabalhos dos anos 60 e 70 do nosso Sérgio Camargo, com pesquisa muito parecida as do jovem artista argentino. A comparação se tornou ainda mais inevitável depois que conheci em seu site mais alguns de seus trabalhos.

          Tenho particular paixão pela aproximação do trabalho de Sérgio Camargo com a arquitetura moderna brasileira, em meados do século passado, e não à toa o tema central deste blog flutua ao redor das fronteiras possíveis e ilimitadas da arquitetura. Qual então não foi minha surpresa ao saber que, além de muito próximo ao trabalho de Camargo, Ventoso também tinha uma formação acadêmica em arquitetura, o que só viria a somar minha curiosidade por conhecer mais de sua obra.




          Trabalhos como S55, de 2011, trazem consigo a inevitável capacidade de resgatar a imagem de trabalhos com resultado estético muito semelhante aos que tanto nos acostumamos a conhecer dos nossos Sérgio Camargo e Athos Bulcão. Uma prova de que as obras desses lendários artistas brasileiros continuam latentes e propulsoras de novos movimentos e investigações, assim como geometria e construtivismo, temas de investigação plástica comuns a todos eles e que possuem grande apelo e facilidade em produzir interfaces com a arquitetura.

                           
                        Trabalhos de Athos Bulcão e Sérgio Camargo. fontes: http://www.bolsadearte.com/cotacoes/camargo_sergio.htm e http://www.fundathos.org.br/galeriavirtual
 
          O site oficial de Abel Ventoso vale uma boa e minuciosa visita: www.abelventoso.com . Sem dúvida, um trabalho para se conhecer e acompanhar.