sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Koolhaas em São Paulo outra vez, agora por ocasião do lançamento de exposição internacional na Casa de Vidro do Morumbi.

Evento social lotou o mítico teatro do SESC Pompéia e reuniu um público ávido pela legitimação da arquitetura brasileira dentro do cenário internacional.


         A foto aí acima não me deixa mentir, faltou lugar no teatro do SESC Pompéia para tantas pessoas interessadas em ver de perto a conversa entre o curador Hans-Ulrich Obrist, o arquiteto Rem Koolhaas e a designer Petra Blaisse, que aconteceu ontem, dia 25. A maior parte delas interessada em ver outra vez o arquiteto holandês Rem Koolhaas, prêmio pritzker do ano 2000, que já havia estado em São Paulo em 2002 por ocasião do evento ARTE CIDADE, para o qual propôs uma intervenção para o já destruído edifício São Vito. Com uma maioria esmagadora de estudantes e interessados em arquitetura, a celebração do projeto do projeto para a Casa de Vidro do Morumbi, grande motivação para o evento de ontem, pareceu ficar em segundo plano com a saída de grande parte da platéia depois da fala de Koolhaas.

        É claro que reunir tanta gente pouco depois das 11h da manhã de uma quinta-feira, principalmente quando o assunto é arte e arquitetura, já é motivo de grande emoção e comemoração. Porém, para minha surpresa, a escolha de um elenco internacional de debatedores e a presença opressiva da língua inglesa em uma platéia maciçamente composta por brasileiros parecia revelar uma forte necessidade de internacionalização e legitimação da nossa produção artística e arquitetônica por nossos pares estrangeiros. Nada contra a nossa vontade de fazer parte de um cenário global, em que devemos sim atuar e pelo qual é importante construir pontes de comunicação, mas não acredito, com sinceridade, que “pedir a bênção” a consagrados artistas internacionais vá conseguir trazer a sustentabilidade da nossa presença no cenário global da grande produção de arte e arquitetura.

        Talvez estejamos tentando fazer um caminho que já conhecemos, pois a arquitetura moderna brasileira ganhou grande destaque a partir da exposição Brazil Builds, no MoMA, e pela vinda de figuras estrangeiras que divulgaram nossa produção nacional, como Max Bill, Le Corbusier, Yves Bruand, para não citar outros. Difícil, porém, é acreditar que só isso seja suficiente para reafirmarmos, principalmente para nós mesmos, que nossa produção é consistente e passível de conquistar outras terras e reverberar lá fora. Será que acreditamos mesmo nisso? Então por que a necessidade de aprovação a todo o tempo? As perguntas feitas à Koolhaas ontem, que foram constrangedoramente mais do que aquelas dirigidas à Petra Blaissa, sem motivo aparente, revelavam precárias tentativas de ter nas respostas do arquiteto holandês a legitimação de nossas cidades, arquitetura e artistas num cenário internacional. Porém, somente um ar de frustração se formou depois das falas de Koolhaas, felizmente talvez.

        Com a frustração da não aprovação, ou ao sermos colocados, segundo a resposta de Koolhaas sobre o lugar de São Paulo no mundo, ao lado de cidades como Lagos, na Nigéria, talvez consigamos olhar para nós mesmos e assim então construirmos uma produção sólida que por si só já se represente em outros países. Afinal, maturidade se alcança, não se solicita.

        Ao mesmo tempo em que vejo nossa ingenuidade, ou complexo de vira-lata, nas perguntas proferidas à Koolhaas, é difícil não pensar o quanto o projeto de internacionalização da Casa de Vidro do Morumbi precisa ser questionado sobre também não ser apenas parte dessa vontade de legitimação exterior da qual estamos falando aqui. Lembro muito bem da dificuldade que tive nesses 3 anos morando em São Paulo, como estudante de arquitetura, para tentar conhecer de perto a casa projetada e que por muito tempo morou nossa querida Lina Bo e seu marido Pietro M. Bardi. Foram muitos e-mails e telefonemas e uma série de negativas, sendo que para visitantes estrangeiros as respostas não pareciam ser as mesmas.

        Quando vejo este encontro para celebrarmos a nova fase da Casa de Vidro do Morumbi representado por uma conversa apenas em inglês com três figuras européias de destaque internacional, e nenhum brasileiro, fica difícil acreditar que a potência real da obra de Lina Bo vá encontrar lugar nessa proposta de internacionalização. A fala final e atrasada do diretor do SESC, Danilo Miranda, em português, como foi salientado por ele, revelaram aquilo que Lina e suas obras tinham de melhor: a capacidade de tocar todos os públicos, principalmente os não iniciados em arquitetura ou nas artes formais.

        Mais do que uma casa conhecida internacionalmente ou um trabalho exposto no exterior, acho que a Casa de Vidro precisa ser conhecida por nós mesmos como processo de aprendizado sobre nossa história e nossas vocações. Me interessa menos que visitantes estrangeiros conheçam a Casa para legitimá-la lá fora, e muito mais me importa que estudantes brasileiros tomem conhecimento dela, de sua beleza e discurso pleno de liberdade projetiva e estética. Estudantes de arquitetura e dos ensinos fundamental e médio, principalmente público! Imagino que para uma criança de escola pública, moradora de comunidades carentes ou favelas, que provavelmente vive em uma casa apertada e muito pouco privilegiada em termos de cidade e arquitetura, conhecer a casa de vidro seja uma oportunidade de entender pela experiência vivida que é possível se ter liberdade no seu dia-a-dia. Quero um projeto de nacionalização da nossa arquitetura e um projeto de nacionalização da Casa de Vidro, porque ela ainda não é nossa. Não podemos deixar que a casa de Lina vire, como já aconteceu com o MASP, uma desvirtualização do seu potente discurso para fins mercadológicos de sua produção. Este é o nosso papel nessa nova fase da Casa de Vidro do Morumbi.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O encontro dos rios Solimões e Negro, que forma o grande rio Amazonas, está correndo sério risco de ser desfigurado pela construção de um novo terminal portuário para a Zona Franca de Manaus.

Tombamento de 2010 do IPHAN, que avaliou a fundamental importância do encontro dos rios como patrimônio de todos os brasileiros, foi revogado pela justiça do Amazonas nesse início de Agosto e aponta ameaça sobre a preservação paisagística do monumento natural.



         A proteção e estudo da paisagem é, sem dúvida, um dos campos de investigação da arquitetura. Quando formados, depois de um mínimo de 5 anos de estudo na faculdade, podemos nos habilitar também como paisagistas ou arquitetos da paisagem. Porém, desde os assustadores debates no Congresso sobre o Novo Código Florestal Brasileiro, no começo desde ano de 2011, não me restam dúvidas de que nós arquitetos, assim como nossas instituições, estamos falhando em uma batalha que só se anuncia em um novo milênio de grandes demandas ambientais e paisagísticas, principalmente em um contexto de grande desenvolvimento em nosso país. Não estamos fazendo jus a nossa formação como paisagistas!

        Quando o Congresso chegou à beira de ratificar um Novo Código Florestal que desvirtuava décadas de luta pela preservação dos nossos ecossistemas e pelo patrimônio paisagístico brasileiro, influenciado quase que exclusivamente pelo setor agropecuário, enviei para a ABAP (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas) e publiquei aqui no blog uma carta que pedia uma manifestação pública da instituição sobre sua posição a respeito da desastrosa movimentação do nosso Congresso. Nada me responderam e não soube de nenhuma manifestação pública sobre o novo código. (Para reler a carta, o link é http://transbordarquitetura.blogspot.com/2011/04/mensagem-para-abap-sobre-o-novo-codigo.html ).

        Felizmente outras forças, principalmente representadas por ambientalistas e estudiosos das biologias, conseguiram estender o prazo da votação, com ajuda do Governo, adiando um pouco mais a turbulenta discussão. Enquanto não voltamos ativamente à briga sobre as alterações do novo código, outra grande demanda ambiental e paisagística aparece de forma urgente pela ameaça da preservação do encontro dos rios Solimões e Negro por conta da iniciativa da construção de um novo terminal portuária para a Zona Franca de Manaus. O IPHAN, tendo em vista a ameaça possível, tombou em 2010 o monumento natural. Contudo, neste mês de Agosto, a justiça do Amazonas revogou o tombamento alegando falta de audiências públicas. Segundo o IPHAN o tombamento não carece deste tipo de consulta popular, porém parece que temos aqui uma questão de notória necessidade do posicionamento das instituições da sociedade civil sobre sua avaliação a respeito da construção deste porto e a possível desfiguração do encontro dos rios, como fator de legitimação da ação do IPHAN.



        Assim, me parece que ABAP, IABs e outras instituições de arquitetura, como nossas escolas, deveriam se posicionar e promover uma carta pública sobre seu apoio à preservação do encontro dos rios e ao tombamento promovido pelo IPHAN. O conselho do instituto, que toma as decisões de tombamento, já é formado por membros do IAB, mas isso não impede manifestações públicas isoladas de cada instituição a fim de aproximar a sociedade e os arquitetos das decisões tomadas nos salões dos palácios, fazendo do posicionamento da instituição um ato de apoio a promoção de discussões dentro da sociedade. Senão as decisões viram atos isolados, distantes da realidade profissional de cada um, nos afastando destas importantes discussões que, sem dúvida, queremos participar.

        Não sou contra a construção de infra-estrutura para o desenvolvimento industrial da região do Amazonas, porém não acredito nesse desenvolvimento predatório que aniquila os verdadeiros valores que precisamos preservar e que verdadeiramente podem fazer deste um país com maior grau de desenvolvimento social. Precisamos encontrar um caminho seguro de construção de um terminal portuário que respeite a paisagem e afete o menos possível o ecossistema amazônico. Manaus é um grande campo de pesquisa para arquitetos, engenheiros e toda sorte de profissionais que queiram pensar no desenvolvimento das cidades dentro de um contexto de preservação dos ecossistemas naturais. Espero que a necessidade deste novo porto consiga servir de estopim para uma nova maneira de pensarmos o desenvolvimento de nossas cidades amazônicas, unindo todos aqueles que querem promover o desenvolvimento com responsabilidade e ganhos sociais e ambientais para estas cidades.

        Não podemos abrir mão da preservação total do encontro dos rios Solimões e Negro! Como disse em entrevista à folha o presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, você permitira que construíssem arranha-céus na Urca transformando a paisagem do Pão de Açúcar? Nosso grande Lúcio Costa se manifestou em carta pública sobre a construção de um edifício que até hoje afeta a paisagem do grande monumento natural, porém agora ele está tombado e preservado. O que será do encontro dos rios no Amazonas?

Link para a Entrevista de Luiz Fernando de Almeida, presidente do IPHAN: http://www.culturaemercado.com.br/gestao/presidente-do-iphan-fala-sobre-polemica-do-encontro-das-aguas/

Link para a carta protesto de Lucio Costa sobre o edifício alto no Pão de Açúcar: http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/4075



domingo, 21 de agosto de 2011

SAUL STEINBERG – Crônicas da linha de um arquiteto.

Exposição SAUL STEINBERG – AS AVENTURAS DA LINHA se despede hoje do IMS, no Rio de Janeiro, e entra em cartaz em São Paulo, no próximo dia 3, na Pinacoteca.


          É claro que seria impossível para mim, como estudante de arquitetura, visitar a exposição SAUL STEINBERG – AS AVENTURAS DA LINHA , que fui ver no Rio e que pretendo ir de novo em Sampa, sem olhar o incrível e cômico trabalho do grande cartunista da NEW YORKER como sendo também uma obra de um arquiteto de formação. Steinberg se formou em arquitetura em 1940, pela Politécnica de Milão, e leva para seus famosos desenhos, crônicas da vida moderna, especialmente da americana, traços mais que perceptíveis de sua passagem pelas cadeiras da faculdade em arquitetura.

          Fica difícil então, visitando sala a sala da exposição, não procurar na memória a lembrança daquelas aulas de desenho de observação, a turma de recém ingressados na faculdade sentados em alguma esquina da cidade, tentando, mais do que copiar a arquitetura ali exposta, aprender sobre o jeito próprio que cada um tem para captar as imagens da cidade. Steinberg parece reiterar com sua obra genial a importância daquelas aulas e da busca da percepção através do desenho como forma de apreender a cidade e suas arquiteturas. Uma obra que é também uma aula sobre um dos mais fundamentais instrumentos da arquitetura: o desenho.



         Talvez por isso eu tenha ficado tão feliz ao ver uma turma de estudantes de arquitetura visitando a exposição no Rio, orientados por uma professora atenta à importância do conhecimento da obra de Steinberg como uma forma de, em tempos de instrumentos digitais, renovar os votos sobre a crença no desenho como importante ator no desenvolvimento de um arquiteto em formação. Espero encontrar também em São Paulo, cidade com o maior número de escolas de arquitetura, a partir do dia 3 de Setembro, muitas turmas interessadas no destino desse arquiteto que virou um dos maiores cartunistas da História.


 
     Vendo seus trabalhos e a qualidade do seu desenho, fica difícil não ter vontade de ver uma exposição só sobre os desenhos de arquitetos, novos e antigos. Como será o traço de Paulo Mendes, por exemplo? Se os desenhos de Niemeyer já estão imortalizados na nossa memória, como seriam os de outros arquitetos, como Lucio Costa, Reidy, Artigas, Peter Zumthor, Jean Nouvel? Zaha desenha à mão? A proximidade de Steinberg de Lina Bo Bardi, que assim como ele também estudou na Itália, em Roma, e que esteve muito próxima dele quando trabalhava em Milão, nos faz logo pensar na qualidade do desenho de Lina como parte fundamental da sua arquitetura - Steinberg no auge do seu trabalho expôs no MASP, quando Pietro Maria Bardi, marido de Lina, ainda era diretor da instituição. A arquitetura de Lina, como de tantos outros, não existiria e nem seria a mesma sem seus trabalhos especulativos no desenho. Não no desenho técnico, que se facilitou com instrumentos digitais como o AutoCad, mas no desenho livre, aquele que mais se conecta com nossa imaginação e que melhor representa a ponte entre os nossos desejos e a realidade.

         Fica para nós a vontade de uma exposição sobre o desenho na arquitetura, mas por enquanto ficamos muito bem com Saul Steinberg – a Aventura da Linha, logo logo em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Oba!

domingo, 14 de agosto de 2011

ABEL VENTOSO nas fronteiras da arquitetura

         

         Folheando uma revista especializada em artes visuais há algumas semanas atrás, me surpreendi especialmente com uma imagem, dentre toda a abundância de informações visuais que pouco pude digerir numa rápida folheada, sem a qual não poderia começar a conhecer o vigoroso trabalho do artista argentino Abel Ventoso. Memorizei seu nome e fui buscar na rede mais informações sobre sua obra e sua biografia. Desde a primeira imagem foi difícil não comparar seus atuais planos de relevo com trabalhos dos anos 60 e 70 do nosso Sérgio Camargo, com pesquisa muito parecida as do jovem artista argentino. A comparação se tornou ainda mais inevitável depois que conheci em seu site mais alguns de seus trabalhos.

          Tenho particular paixão pela aproximação do trabalho de Sérgio Camargo com a arquitetura moderna brasileira, em meados do século passado, e não à toa o tema central deste blog flutua ao redor das fronteiras possíveis e ilimitadas da arquitetura. Qual então não foi minha surpresa ao saber que, além de muito próximo ao trabalho de Camargo, Ventoso também tinha uma formação acadêmica em arquitetura, o que só viria a somar minha curiosidade por conhecer mais de sua obra.




          Trabalhos como S55, de 2011, trazem consigo a inevitável capacidade de resgatar a imagem de trabalhos com resultado estético muito semelhante aos que tanto nos acostumamos a conhecer dos nossos Sérgio Camargo e Athos Bulcão. Uma prova de que as obras desses lendários artistas brasileiros continuam latentes e propulsoras de novos movimentos e investigações, assim como geometria e construtivismo, temas de investigação plástica comuns a todos eles e que possuem grande apelo e facilidade em produzir interfaces com a arquitetura.

                           
                        Trabalhos de Athos Bulcão e Sérgio Camargo. fontes: http://www.bolsadearte.com/cotacoes/camargo_sergio.htm e http://www.fundathos.org.br/galeriavirtual
 
          O site oficial de Abel Ventoso vale uma boa e minuciosa visita: www.abelventoso.com . Sem dúvida, um trabalho para se conhecer e acompanhar.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

ENTREVISTA com o Arq. Cid Blanco sobre as PRAÇAS DO PAC

CID BLANCO é arquiteto, formado pela faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Atualmente é diretor especial de programas de infraestrutura cultural da secretaria executiva do Ministério da Cultura.

AS PRAÇAS DE ESPORTE E CULTURA - PRAÇAS DO PAC

1PADRONIZAÇÃO VERSUS DIVERSIDADE CULTURAL

transbordarquitetura!: A recente iniciativa das praças do PAC traz consigo o enorme desafio de se construir em diferentes partes de um país de dimensões continentais equipamentos de esporte e cultura com um mesmo programa padrão. Tendo em vista a diversidade geográfica e cultural das diferentes cidades que poderão adotar o projeto, qual questão justificou a padronização adotada por vocês de três modelos arquitetônicos e programáticos a serem replicados em todo o país, com 700m², 3000m² e 7000m² cada um? Quais critérios os fizeram chegar a estas três propostas e qual grupo de trabalho exatamente as idealizou?

Cid Blanco: Padronização mesmo só existe da questão programática, na definição dos serviços que devem existir nas Praças, afinal de contas a essência do programa é unir num mesmo espaço físico (praça ou edifícação), serviços públicos de diferentes naturezas. Se abrirmos mão disso, deixaria de ser a Praça dos Esportes e da Cultura e viraria outro projeto. Já os três modelos arquitetônicos que apresentamos são projetos de referência, e portanto, podem ser adotados ou não pelos proponentes. Não é impositivo, nem nunca será. Entretanto, era imprescindível colocar no papel a proposta teórica e ter uma idéia de quanto seria o custo de cada um dos modelos. E baseados nesses projetos pudemos definir os valores que estão sendo repassados aos municípios beneficiados na primeira seleção que ocorreu em 2010.

A idealização do projeto foi realizada por uma equipe de consultores (arquitetos), em conjunto com a equipe de arquitetos dos Ministérios da Cultura, Esportes e Desenvolvimento Social e Combate à Fome, mais os analistas de infraestrutura (engenheiros) do Ministério do Planejamento. A base da criação da proposta se deu por meio da discussão do projeto de equipamentos já existentes como os SESCs, os CEUs e as Praças da Juventude, entre outros. Além disso, existem também os critérios e padrões estabelecidos pelos Ministérios para seus equipamentos, como é o caso do CRAS, das bibliotecas e das quadras.

Quando eu assumi a Diretoria, os projetos já estavam definidos e apenas pude fazer a revisão dos mesmos, focando na questão dos acessos e de padrões mínimos de funcionalidade dos equipamentos. Uma nova revisão acabou de ser feita e acredito que se tivéssemos mais tempo faríamos cada vez proposta melhores, de modo a inspirar os arquitetos locais, quando da adaptação para a realidade de cada Praça.

2INCENTIVO À ARQUITETURA COMO ECONOMIA CRIATIVA

transbordarquitetura!: Em seu discurso de posse, a Ministra da Cultura Ana de Hollanda valorizou de forma inédita a importância da arquitetura como fundamental ator da cultura brasileira e salientou seu empenho pessoal em promovê-la durante sua gestão no ministério. Em que medida, como seu diretor de infra-estrutura, você vê nas praças do PAC uma oportunidade de se incentivar o desenvolvimento da economia criativa que gira em torno da arquitetura tendo em vista que não há a obrigatoriedade de adoção dos projetos arquitetônicos sugeridos pelo MinC caso as cidades possuam outros projetos com o mesmo desempenho programático? Por que não se optou, por exemplo, pela abertura de concursos de projeto como forma de promover este incentivo?

Cid Blanco: Existe uma coisa chamada tempo de gestão na administração pública e nesse caso, temos uma questão importante: as cidades beneficiadas com a primeira seleção de 401 PECs passarão por eleições no próximo ano. A realização de concursos públicos de arquitetura para selecionar os projetos de cada uma dessas Praças, ou mesmo para eleger os melhores projetos, não permitiria que nesse momento, 362 municípios estivessem assinando contrato para dar início as suas obras. Estamos falando de recursos públicos com valor pré-estabelecido, ou seja, que não são reajustados. Sendo assim, quanto mais tempo se demora para contratar e iniciar as obras, maior a contrapartida municipal.

Sob a questão da economia criativa, infelizmente não acredito que o impacto das PECs no mundo da arquitetura será pesado, pois estamos falando de prefeituras de capitas e de cidades de médio e grande porte que costumam ter em seu quadro de funcionários, arquitetos e engenheiros. Dessa maneira, acredito que a produção arquitetônica das Praças será, em sua maioria, desenvolvida dentro das próprias Prefeituras. Sem contar, como você mesmo mencionou, que muitas prefeituras já possuem projetos próprios para equipamentos parecidos. Esse impacto mais pesado no mundo da arquitetura e engenharia está realmente ocorrendo, porém, por conta de outros programas do Governo Federal, como os investimentos em infraestrutura do PAC e o Minha Casa Minha Vida, que aqueceram o mercado da construção civil em toda sua cadeia.

Esse fato não diminui a importância que o MinC dá para a questão da arquitetura, conforme enfatizou a Ministra Ana de Holanda em seu discurso. Especialmente pelo fato de estarmos preparando nesse exato momento, um edital para lançar nas próximas semanas um Concurso Nacional de Idéias e Projetos de Espaços Culturais Multifuncionais.

3IAB E AS AÇÕES PROMOVIDAS PELO MINC

transbordarquitetura!: Nesses últimos meses, o Instituto dos Arquitetos do Brasil/RJ conseguiu intervir no processo de elaboração dos projetos olímpicos e sugerir a maior participação dos arquitetos nas suas escolhas, principalmente com a abertura de grandes concursos de âmbito nacional e internacional. Outros programas como o Rio Cidade, Favela Bairro e Morar Carioca, além dos emblemáticos casos das unidades SESC paulistanas, também têm ou tiveram grande participação dos arquitetos no desenvolvimento dos seus principais projetos. Como você analisa a potencialidade da participação dos arquitetos em obras públicas no Brasil e o que faltaria para uma parceria estratégica entre as instituições de arquitetura e os programas de ação promovidos pelo Ministério da Cultura?

Cid Blanco: Bom, não falta nada para consolidar essa parceria, pois conforme acabei de mencionar estamos nos preparando para lançar um concurso nas próximas semanas em parceria com o IAB nacional. A idéia é exatamente ampliar a discussão arquitetônica sobre a questão da qualidade dos projetos de equipamentos públicos. Acho importante destacar que os últimos concursos mencionados trataram sempre de ações pontuais e localizadas numa única cidade. O desafio de fazer essa discussão mais ampla tendo como universo um país diverso como o Brasil é um dos principais pontos que queremos tratar com nosso concurso. Aguardem mais notícias em breve.

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Gostaria de agradecer a participação do Arquiteto Cid Blanco neste breve debate, que se mostrou sempre muito solicito e gentil à todas as minhas mensagens, e terminar dizendo que fiquei muito contente com este início de discussões sobre as praças do PAC. Iremos continuar acompanhando aqui no blog os desdobramentos deste projeto tão ambicioso e importante para o país, por isso aproveito para convidar todo mundo a mandar sua críticas, sugestões e imagens das Praças que possam estar surgindo perto de vocês! Tenho certeza que podemos construir uma discussão bem bacana e que em muito pode acrescentar para esta nova experiência das Praças.

Um grande abraço!