sexta-feira, 30 de julho de 2010

Por que temos medo de viver na floresta? – Um píer e dois museus.












Sei que estou um pouco atrasado ao boom de notícias e comentários sobre a aparição do projeto do Calatrava para o Museu do Amanhã e também sobre a série de prometidas e vangloriadas transformações para a zona portuária do Rio de Janeiro, mas hoje vou me redimir. Como o Rio é a minha cidade, todas essas mudanças mexem muito comigo, principalmente porque vejo que a cidade esta enfim trazendo de volta o debate da arquitetura e as suas questões próprias para junto da população, o que traz também enormes e importantes potencialidades. Sendo assim, por mais que eu tenha demorado a escrever alguma coisa sobre o assunto, é certo que a cada nova notícia ou imagem fico mais curioso e com mais vontade de participar dessas discussões todas e, é claro, trazê-las para este blog e dividi-las com vocês.
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Desde que vi o projeto do Museu do Amanhã, a partir dos registros no youtube da palestra de Calatrava no Rio e do seu vídeo de apresentação (links no final da postagem), não consigo parar de pensar naquele outro projeto que um dia foi pensado para ser o baluarte das transformações dos bairros portuários cariocas e que saiu da jogada a partir de uma grande mobilização social e política. Estou falando do projeto do Guggenheim Rio, aquela polêmica empreitada patrocinada pela prefeitura do Rio que contratou o arquiteto Jean Nouvel para projetar a primeira filial do museu ao sul da linha do Equador. É evidente que concordo que pelos seus altos custos de implantação e manutenção com o uso de recursos públicos o Guggenheim se torna inviável, porém, não posso deixar de pensar que estamos hoje construindo uma outra arquitetura no mesmo lugar do extinto projeto e que estamos trazendo um novo discurso para a cidade.
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Sendo assim, gosto de pensar na força que existe nessas camadas de projetos que se fizeram para o Píer Mauá, primeiro o Guggenheim, depois um parque público e agora o Museu do Amanhã. Isso me faz acreditar numa coisa que valorizo muito, que é pensar que a idéia e o projeto, mesmo quando não são construídos e concretizados, como gostamos de falar, possuem uma força tamanha que também se afirma no espaço. Nesse caso, não consigo imaginar o novo Museu do Amanhã sem pensar em seus antecessores e, acredito eu, não conseguirei vivenciar esse espaço sem trazer um pedaço daqueles outros projetos que ficaram para trás.
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Digo isso porque o projeto de Nouvel teve grande impacto pra mim e para pensar a minha arquitetura e o meu jeito de entender arquitetura. Lembro muito bem o meu primeiro impacto ao ver a imagem do Guggenheim divulgada na primeira página do jornal O GLOBO, um adolescente bobalhão que sempre quis ser arquiteto chorando porque não havia entendido aquilo que se estava propondo para o porto. Naquela época eu nem estava na faculdade ainda, logo depois já havia me conquistado pelo projeto por conta d exposição que havia visto no Centro de Arquitetura e Urbanismo sobre o novo museu, mas só agora, anos mais tarde e já fazendo faculdade, me aproximei de verdade de verdade daquela arquitetura e da sua força.
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Dentro disso tudo, li outro dia aqui pela internet um comentário que comparava o projeto do Calatrava com o do Nouvel, focando especialmente no entendimento das obras com relação à paisagem carioca e, para meu desespero, desvalorizando o projeto do Nouvel. O moço dizia que o projeto do Guggenheim não compreendia a paisagem carioca, diferente do Museu do Amanhã que deixava claro que seu arquiteto havia entendido o que é o Rio. Para o rapaz, a prova maior disso era a floresta que o Nouvel havia planejado para o Guggenheim, uma prova de que não entende nada do Rio e que estaria reproduzindo uma imagem estereotipada do Brasil como um lugar de araras e banana. Adoro banana.
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Bom, ele não usou essas exatas palavras, pois eu já nem me lembro com muita exatidão daquilo que ele escreveu, fato é que imediatamente respondi aquele discurso todo e aquela minha resposta ficou ecoando na minha cabeça por um tempão até chegar aqui! Para mim a diferença entre os dois projetos, e nisso posso incluir o projeto intermediário a eles, o do parque público, falam muito dos destinos possíveis para as transformações da zona portuária, pois cada um dele traz consigo discursos distintos. Eu sei que isso é evidente, afinal são projetos diferentes, mas acho que, mais que isso, a diferença desses projetos pode trazer também uma importante discussão sobre o amanhã da nossa arquitetura, já que estamos falando aqui da construção efetiva de um museu que trata do amanhã. Por que não começamos agora?
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Para mim, quando Nouvel traz aquilo que quase sempre emoldura a paisagem carioca e está distante da realidade vivida pelas pessoas da cidade (com raras exceções), que é a floresta, traz também uma importante pergunta para que nós possamos discutir nossa cidade e sua relação com as pessoas e a arquitetura. Afinal, se estamos falando de um museu que pretendia ser mais visitado que o Cristo Redentor e que teria um acervo fabuloso, entre eles o do maior museu do mundo, o Hermitage da Rússia, qual o impacto de levar uma floresta para dentro dele? O que isso pode revelar da nossa experiência de cidade?
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Munido dessas perguntas, trago aqui a rica exposição ARQUITETURA BRASILEIRA Viver na Floresta, que esteve em cartaz no Tomie Ohtake de São Paulo até o final de julho, para alimentar a questão da nossa relação com o viver na floresta. Talvez eu nem me fizesse essa pergunta em relação ao Guggenheim não tivesse visto esta exposição, que traz um recorte histórico dos projetos de arquitetura brasileira que se relacionam com a nossa mata e o nosso ideal de floresta. Faço uma nova pergunta para se somar às outras: Como é o nosso viver na floresta?
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Juntando tudo isso, me encaminho para pensar que a floresta do Guggenheim trazia uma bela provocação para pensarmos na nossa relação em viver numa cidade como o Rio de Janeiro que possui a maior floresta urbana do mundo mas que, mesmo assim, mantém uma relação distanciada dela. Junto com isso me parece que Nouvel queria mais que um edifício de museu para o Guggenheim, nas próprias palavras do arquiteto para a Revista Época, ele "Queria também integrar a geografia e o relevo, que são excepcionais, a essa noção histórica. As promenades ao longo da água refletem a alma carioca, e meu projeto tem isso. Finalmente, ele se encaixa no contexto do porto, dialoga com as ilhas, com os barcos. O que propus foi um pequeno bairro portuário, com cinco ou seis unidades arquitetônicas que se parecem." (íntegra da entrevista no link no final da postagem).
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Assim, em sua proposta para um pequeno bairro portuário, da mesma forma como insere a experiência da floresta no museu, Nouvel parece estar interessado na vivência da atmosfera da zona portuária, do espírito carioca e de uma cidade apaixonada por sua grande floresta. Ou seja, para além de um grande ícone estilístico e um marco na paisagem, Nouvel estava interessado na experiência. Dessa forma, acho que o Guggenheim se opõe ao projeto do Museu do Amanhã, já que este, pelas próprias características do Calatrava, reivindica um lugar de destaque na paisagem e reafirma a assinatura do arquiteto.
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Saindo de um mérito sobre bom ou ruim, essas duas formas de pensar o maior ícone arquitetônico das transformações na zona portuária do Rio, sem dúvidas, nos indica como estamos pensando nossas relações com a arquitetura e qual norte estamos dando para essas transformações na cidade. Acho que o museu do amanhã, diferente do parquinho que estavam construindo, destrói definitivamente as chances do Guggenheim sair do papel. Isso é um fato, porém, pela existência e potência do projeto de Nouvel acredito que suas grandes qualidades de reivindicar uma arquitetura possível para o Rio devam reverberar em outros projetos para o porto e para a cidade como um todo. Não acredito, para finalizar, em mais um ícone postal de grande apelo para o olhar e nem mesmo em mais um museu sem acervo onde tudo passa pela imagem e a virtualização. Também não acredito numa plataforma espelho d’água sobre a baía de Guanabara, apenas essa for uma forma de mostrar o quanto queremos fugir da sua poluição das nossas águas e não lutamos contra ela. Não acredito, e agora sim termino, numa relação recreativa com a floresta pois acho que, assim como na provocação de Nouvel no Guggenheim, é possível pensar uma cidade em que a floresta está dentro do museu, dentro do estádio, dentro da casa de cada um, participando ativamente das nossas vidas. Por que temos tanto medo de viver na floresta?

Link vídeo de aprentação calatrava http://www.youtube.com/watch?v=pU2A9Fq3XQs












segunda-feira, 19 de julho de 2010

SESC Butantã. Respondendo ao comentário do Beto do último post!!!



















Bom, eu já estava até desanimado com o blog mas seu comentário na última postagem, Beto, me animou de novo! Eba! Esse blog foi criado com a intenção, antes de qualquer coisa, de que o projeto apresentado aqui pudesse sofrer infiltrações de pessoas de fora durante a construção dele. Nada feito! Porém, fiquei muito animado com a sua intervenção sobre o projeto, Beto, e lembrei que as infiltrações que vem de fora e que formam e interferem na arquitetura não acabam nunca. Obrigado por isso.
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Pois bem, li seu comentário e fiquei impressionado com tudo o que falou porque quase tudo fez parte de verdade da reflexão sobre a elaboração deste projeto. Inclusive a sua crítica mais discordante! Explico: quando falou do estranhamento em relação ao volume do teatro e a referência clara ao moderno carioca, você visualizou exatamente o que queríamos no projeto e praticamente descreveu tudo daquilo que desejávamos pra essa arquitetura.
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A nossa idéia foi copiar de forma idêntica o Teatro Popular do Reidy, em Marechal Hermes, no Rio, e replicá-lo ou colá-lo em um contexto novo. Neste caso no bairro do Butantã, em São Paulo, um bairro também períferico de um grande cidade brasileira. Dessa forma, estaríamos trabalhando mais uma vez nossas questões em relação à elementos exteriores que se infiltram em novos contextos, já que estávamos colando um outro projeto no nosso, como também traríamos mais uma vez a discussão em relação ao tempo, tão importante para nós. Afinal, qual seria o impacto de repdroduzir aquele teatro do século XX neste novo contexto? É cabível? Ele ainda é atual ou é facilmente reconhecível como algo ultrapassado? Enfim, muitas perguntas podem sair desse ato e nossa idéia era exatamente essa, num esforço não só de rememorar o teatro de Marechal Hermes como também de acusar seu esquecimento e degradação.
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Então, respondendo sua colocações, exatamente por isso ele está posicionado de forma tão alien no projeto, assim como as quadras abertas também estão, dando essa idéia de algo que veio de fora e se instalou e se apropriou cabendo do jeito que fosse. Acho que dá pra ver melhor nas planta e no corte que eu trouxe para o blog. Dá pra ver inclusive a praça do teatro, que se abre formando uma praça maior junto daquele espaço intermediário que você falou, o nosso centro de convivência. Aproveitei e trouxe aqui também o nosso organograma do programa obrigatório, nos baseamos nos ruídos emitidos por cada uma das necessidades de programa e colocamos cada um deles num espaço do terreno compatível com o índice de ruído do lugar. Tentamos fugir, assim, da divisão do programa entre esporte e cultura, como quase todos estávam seguindo, para pensar a partir da experiência sensorial que tivemos ao visitar o terreno.
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Bom, é isso. Espero ter trazido coisas novas para o blog e ter continuado um pouco as questões que você trouxe para cá. Obrigado mais uma vez pelo comentário, ele realmente me reativou a vontade de prosseguir com o blog e colocar aqui mais desejos, pensamentos e projetos. Espero sua visita e seus comentários sempre, são muito bem vindos. Assim como o de todos que quiserem participar nessa discussão! Ficarei muito feliz em responder e continuá-las!
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Um grande abraço para todos! Comentários sobre a planta, o corte e o organograma?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

SESC Butantã. Av.Vital Brasil, Butantã. São Paulo.











SESC Butantã. Av. Vital Brasil, Butantã. São Paulo.




Projeto VII Conrado Vivacqua e Flavia Santana. Orientador. Marcos Acayaba.








Bom, aí está o resultado em maquete do projeto. Não consegui, definitivamente, colocar aqui as plantas. Quem sabe depois?
Abraços!