Imagem da intervenção de Nelson Leirner na FAU, 1970.
Em obscuros anos de 1970, Nelson Leirner ocupou o mais monumental e democrático espaço da FAUUSP, o Salão Caramelo, com uma incisiva instalação de imensos plásticos pretos e estruturas tubulares metálicas. Numa comunicação direta com a arquitetura e com aquela instituição que no momento parecia ser a melhor interlocutora do seu trabalho e pensamento político, Leirner propôs um “impedimento simbólico” que podia ser visto por todo o edifício e que se pretendia participativo e propositivo. Significativamente, no dia seguinte à montagem da instalação, todo o trabalho foi encontrado destruído, segundo o site do artista, por ação de alunos, professores e funcionários da FAU.
Esta obra, entre tantas outras geniais e provocativas ações, pode ser conhecida na retrospectiva Nelson Leirner 2011 – 1961 = 50 anos, em exposição na generosa galeria de arte do SESI, na Avenida Paulista, em São Paulo. Se todo o trabalho de Leirner vale uma profunda reflexão sobre a cômica ambivalência das coisas no mundo, principalmente nossas ações e valores, no que diz respeito especialmente à arquitetura sua intervenção na FAU traz grande contribuição. Leirner e sua ocupação de sacos pretos reativaram o caráter de praça pública do Salão Caramelo, palco de discussões e debate de idéias, fato que não é menos significativo em um Estado de exceção como o daqueles tempos. Se o trabalho de Leirner foi capaz de evocar o valor do discurso da arquitetura presente no edifício da FAU, inserindo-se nela para fazê-la reencontrar-se com sua intenção de projeto, e até gerando reações furiosas, não se pode negar a notória importância da comunicação entre arquitetura e as outras artes, como acontece neste caso.
Imagem do trabalho destruído.
No catálogo sobre este trabalho de Leirner na FAU, de mais de quarenta anos trás e presente nesta exposição, Paulo Mendes da Rocha salienta a importância de se reconhecer a potência que existe na profícua troca entre os diversos campos das artes e a arquitetura. Fica aqui a vontade de ver a FAU como um espaço não apenas lembrado por sua arquitetura genial, mas também como palco para intervenções e ações como esta que estamos rememorando aqui no blog. Fecundar é uma palavra muito usada por Agnaldo Farias, professor da FAU e curador da exposição Nelson Leirner 2011 – 1961 = 50 anos, para se referir ao trabalho de Leirner, mas poderia também ser aquela palavra que mais se aproxima da vocação da arquitetura: um receptáculo para as ações e humores da vida.
Quem sabe não possamos fazer da FAU um espaço de discussão oficial para os diálogos entre arte e arquitetura, propondo uma curadoria e a inserção dela no circuito de cultura da cidade e do campus? Seria lindo ver como artistas contemporâneos conversam com o edifício de Vilanova Artigas, como Lucia Koch, Ernesto Neto e tantos outros que já fazem um trabalho relacional com a arquitetura. Quem sabe esta não seja, como vimos com a obra de Leirner, uma vocação do edifício da FAU? Quem sabe?
Essa questão da relação entre Arte e Arquitetura sempre polêmica! Seria interessantíssimo poder ter visto essa instalação de Leirner no prédio da FAU. Uma experiência curiosa aconteceu no prédio da faculdade UNISEB, em Ribeirão Preto, na época do 3º ano (Fernando), e do 1º ano (Larissa). Havia esse trabalho da disciplina de Plástica que consistia numa instalação no edifício, em que várias bolas de plástico presas por fios que esticam eram espalhadas pelos corredores do edifício. Era fantástico..no intervalo das aulas todos reagiram à instalação, e praticamente a faculdade inteira brincou com as bolas. Como o fio esticava, as bolas se tornaram gigantescos io-ios. Os alunos gostaram tanto das bolas, que no final daquela manhã todas elas haviam sido roubadas! A instalação durou apenas algumas horas, mas foi muito legal!
ResponderExcluirOlha, que relato bacana, Fernando e Larissa. Viajei imaginando aqui esses ioios gigantes!
ResponderExcluirAcho que cada vez mais as fronteiras entre a arquitetura e as artes plásticas, ou visuais, se desmantelam e não se sustentam. Me parece que estamos vivendo um momento decisivo sobre isso, ainda mais se considerarmos as técnicas digitais que praticamente transformam o que era mera representação visual em objeto arquitetônico, vide o parametrismo. O mesmo parece acontecer com as artes plásticas, num esgotamento total dos seus suportes encontra na arquitetura e na cidade o foco de sua atenção. Acho bárbaro tudo isso, mas sinto que nossas instituições e arquitetos estão deixando isso passar desapercebido! Pena!
Nas artes
Com certeza Conrado. Há quem diga que o escultor Richard Serra, por exemplo, é mais arquitetônico que muitos arquitetos.
ResponderExcluirCONCORDO!!!!
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