quarta-feira, 30 de março de 2011

Comemorando o mês de Março!

Olá, pessoal!

Apenas nesse mês de Março o transbordarquitetura! teve por volta de 600 acessos, o que me dá muitos motivos pra comemorar. Sei que comparado a outros sites ou blogs não é um número tão expressivo, mas imaginar tanta gente vindo dar uma olhadinha no blog já me parece fascinante e ao mesmo tempo assustador!

Então, obrigado a todo mundo que acompanha, visita e discute junto comigo aqui no blog. Fico muito feliz em poder compartilhar com vocês o número expressivo de visitas desses mês, o que só me dá mais motivos para acreditar no blog como uma forma importante de dividirmos pensamentos e construirmos coisas transformadoras.

Muito obrigado, gente! Continuem acompanhando!

domingo, 20 de março de 2011

“Ordem e Progresso” + Arquitetura Brasileira


Difícil sair da exposição “Ordem e Progresso: vontade construtiva na arte brasileira”, em cartaz no MAM de São Paulo, sem a incômoda sensação de que a arquitetura brasileira perdeu o bonde da História. Uma História, aliás, em que era grande protagonista e que, por motivos que ainda nos falta muito investigar, já não tem mais hoje a mesma grande atuação. Isso fica evidente na aparição do projeto de Brasília como ponto inicial de reflexão sobre a vontade construtiva brasileira e no sumiço imediato de qualquer outra referência arquitetônica na exposição. Para quem se interessa em arquitetura e nos destinos da nossa produção, talvez valha uma breve reflexão sobre a ausência da arquitetura em “Ordem e Progresso”.

Da minha parte, foi quase impossível não refletir sobre essa ausência. É claro que não se trata aqui de reivindicar um espaço para a arquitetura nessa exposição ou de se fazer crítica a sua curadoria. Pelo contrário, acho que o ponto mais interessante está em questionar porque nossa arquitetura não consegue se representar, se colocar entre as outras artes e continuar sendo produtora de discursos contemporâneos. Se Brasília pôde ser o emblema da vontade construtiva que tanto inspirou os diversos campos das artes no Brasil, atualíssima em relação aqueles movimentos de vanguarda brasileiros, qual a resposta em arquitetura que damos hoje para nossos dilemas contemporâneos?

Obra de Regina Silveira em "Ordem e Progresso"

 
“Ordem e Progresso” transcorre sobre um Brasil de sonhos, utopias e abstrações, aquele mesmo capaz de realizar Brasília, mas que se descobre caótico, disforme e real a cada dia. Um país que não dá exatamente as respostas que idealizamos, que nos surpreende com suas próprias respostas, e que não coube em todos os nossos sonhos construtivistas. Um Brasil representado por sua bandeira nacional de geometrias puras, mas que é verdadeiramente lembrado por suas favelas, camelôs, pela descontração e pelo carnaval.

Nesse sentido, perpassa pelos jogos geométricos de nossos artistas construtivistas, com trabalhos de Alexandre Wolner, Lygia Pape e Ivan Serpa, até se desdobrar em obras pautadas na realidade das ruas, como “Camelô” de Cildo Meireles e as imagens de carroceiros de João Urban. Vai da Brasília representada pelas lentes de Thomas Farkas, Orlando Brito e Mauro Restiffe, até terminar na maravilhosa instalação “Do universo do baile”, de Mauricio Dias e Walter Riedweg, em que uma travesti desdentada lê a avançadíssima constituição brasileira de 1988.

"A Pátria", de Pedro Bruno

Dentro disso, onde pode estar a arquitetura para responder a essas novas reflexões sobre o Brasil? Se Brasília pode sim estar ali, mesmo que representada pela fotografia, marcando a presença da arquitetura na formulação de perguntas e discursos sobre o seu tempo, qual trabalho de arquitetura selecionaríamos hoje para representar as questões que se colocam no nosso tempo? Fiquei alguns instantes me perguntando que obras arquitetônicas ou que arquitetos brasileiros seriam expostos ali e fariam parte do desfecho daquela exposição. No fim, achei mesmo que foram as favelas que, além de darem conta do problema habitacional que o Brasil não resolveu, também foram responsáveis por dar as respostas que a arquitetura da academia e do escritório não souberam dar.

Assim, fico pensando que talvez os anseios da arquitetura moderna em construir uma tradição tardia tenham destruído aquilo que parecia ser o mais moderno em nós: nossa vocação pela novo e pela ruptura. O caráter atemporal de Brasília parece ter gerado a ilusão de um passado construtivo milenar, quando na verdade estamos falando de uma história de menos de um século. Sendo assim, acabamos nos agarramos em nossos símbolos modernos, emblemas da consolidação da república brasileira, com a mesma carência com que a criança no quadro “A Pátria”, de Pedro Bruno, agarra a primeira bandeira nacional. E agora?

quarta-feira, 2 de março de 2011

SESC Belenzinho . Centralização ou Fragmentação?



Se a um primeiro olhar impressiona e cativa o grande número de usuários do novo SESC Belenzinho, na zona Leste da cidade de São Paulo, por outro a precariedade dos espaços públicos e privados externos ao SESC evidencia a fragilidade existente na concentração de tantas atividades de uso público em um único ponto do bairro. Afinal, as unidades SESC são conhecidas por concentrarem em um mesmo lugar piscinas, restaurantes, quadras poliesportivas, teatro, estrutura para shows, salas de exposição, salas de internet gratuita, entre tantos outros espaços de ampla utilização pública. E o que sobra para o restante do bairro? Sem dúvida, o caso do SESC Belenzinho nos retoma a discussão sobre a centralização versus a fragmentação de atividades, espaços e usos públicos no tecido urbano das nossas cidades.

Nesse sentido, retomamos um assunto que foi quase sempre exclusivo dos Shoppings Centers que, ao chegarem a um bairro, destituem a rua como o local para o comércio, para o encontro e, logo, para a socialização. Não é recente nem rara a discussão sobre os atrativos dos Shoppings, com sua estrutura climatizada, segura e com ampla concentração de lojas e atividades, como uma opção ao imaginário da rua como lugar da violência e da exposição aos humores do tempo. Porém, como vemos no caso do SESC Belenzinho, esta mesma discussão não é limitada apenas aos espaços destinados ao consumo.

É claro que é indiscutivelmente melhor ver um espaço de cultura e lazer sendo indutor da centralização de pessoas e atividades, como as Unidades SESC, a ver esse mesmo movimento acontecendo com um Shopping Center. Porém, se a disputa entre esses dois mega complexos é benéfica para a discussão da cultura em oposição ao consumo, por outro lado o impacto de ambos os espaços pode ser igualmente nocivo às configurações e usos da cidade.

No caso do SESC Belenzinho, enquanto encontramos a unidade tomada por pessoas nas mais diversas atividades, as ruas do bairro aparecem esvaziadas e silenciosas, servindo em grande parte apenas ao tráfego de veículos e de algumas poucas pessoas. Se a atratividade do SESC movimenta as ruas ao redor, trazendo moradores de outras partes da cidade, e poderia servir como revitalizador do seu entorno, infelizmente a grande concentração de atividades esgota possíveis outros usos no entorno. Apenas um pequeno e efêmero comércio espontâneo, com algumas barraquinhas de doces e sorvetes, surge bem em frente aos acessos do SESC.

O que acontece neste caso é o mesmo resultado dos grandes Shoppings Centers que, na maioria das vezes, não conseguem transferir para a rua o seu potencial atrativo pela renovação do fluxo de pessoas. Pelo contrário, por esgotarem potenciais para empreendimentos, tornam a rua simples passagem para o acesso a esses espaços de uso público restrito e alimentam sua imagem de insegura e sem atrativos. Não é raro ver ao redor do SESC Belenzinho a presença de moradores de rua e o abandono de praças e estruturas urbanas.




Dentro disso, não é a toa que cada vez as Unidades SESC se pareçam mais com Shoppings Centers. Elementos como escadas rolantes, pisos de pedra polida e climatização artificial já fazem parte do repertório dos novos SESCs. No caso do SESC Belenzinho o Átrio central também lembra muito os grandes átrios dos shoppings. Além disso, a relação com a rua é sempre limitada e nunca generosa, predominando muros e grades com poucos espaços ambíguos. Por que precisamos repetir nos SESCs o modelo fracassado (em termos urbanos) dos Shoppings? Apenas para atrair o mesmo público já acostumado com essas estruturas? Não existem pontos importantes para repensarmos as próximas unidades a serem construídas?

Para mim, a boa vontade em oferecer o maior número possível de atividades e serviços, reservando apenas ao SESC os esforços para fazer importantes oferecimentos de lazer e cultura à população, impede a importante divisão desta tarefa entre os diversos setores da sociedade. Nesse sentido, pensar um limite sustentável para as próximas unidades pode ser uma boa forma de transformá-las em indutores de melhorias para seu entorno e respeitar as obrigações dos outros setores. A pracinha merece uma boa quadra, a esquina merece um belo bar, o bairro precisa da iniciativa de um bom clube e as unidades SESC podem servir de âncora e grande padrinho para essas transformações.