sexta-feira, 23 de setembro de 2011

ZANINE CALDAS - Arquitetura de Morar

     Daqui a aproximadamente três meses, no próximo dia 20 de Dezembro, se completarão 10 anos da morte do grande arquiteto José Zanine Caldas (1919-2001). Para começarmos a pensar nessa data em que perdemos o extraordinário mestre da madeira, humanista e principal personagem da arquitetura brasileira no que diz respeito ao pensamento sustentável e à defesa ambiental, nada mais significativo do que compartilharmos aqui no blog, no primeiro dia da primavera, o curta-metragem Arquitetura de Morar (1975) sobre sua obra. É um das raras oportunidades de nos encontrarmos com a delicadeza do seu trabalho em um registro cinematográfico tão precioso como o de Antônio Carlos Fontoura. Vale à pena conferir!



Para conhecer outras obras de Antônio Carlos Fontoura sobre personalidades como Gal Costa e Heitor dos Prazeres, recomendo: http://vimeo.com/cantoclaro

terça-feira, 20 de setembro de 2011

NELSON LEIRNER – Intervenção na FAU e Retrospectiva no SESI

Imagem da intervenção de Nelson Leirner na FAU, 1970.
    
     Em obscuros anos de 1970, Nelson Leirner ocupou o mais monumental e democrático espaço da FAUUSP, o Salão Caramelo, com uma incisiva instalação de imensos plásticos pretos e estruturas tubulares metálicas. Numa comunicação direta com a arquitetura e com aquela instituição que no momento parecia ser a melhor interlocutora do seu trabalho e pensamento político, Leirner propôs um “impedimento simbólico” que podia ser visto por todo o edifício e que se pretendia participativo e propositivo. Significativamente, no dia seguinte à montagem da instalação, todo o trabalho foi encontrado destruído, segundo o site do artista, por ação de alunos, professores e funcionários da FAU.

     Esta obra, entre tantas outras geniais e provocativas ações, pode ser conhecida na retrospectiva Nelson Leirner 2011 – 1961 = 50 anos, em exposição na generosa galeria de arte do SESI, na Avenida Paulista, em São Paulo. Se todo o trabalho de Leirner vale uma profunda reflexão sobre a cômica ambivalência das coisas no mundo, principalmente nossas ações e valores, no que diz respeito especialmente à arquitetura sua intervenção na FAU traz grande contribuição. Leirner e sua ocupação de sacos pretos reativaram o caráter de praça pública do Salão Caramelo, palco de discussões e debate de idéias, fato que não é menos significativo em um Estado de exceção como o daqueles tempos. Se o trabalho de Leirner foi capaz de evocar o valor do discurso da arquitetura presente no edifício da FAU, inserindo-se nela para fazê-la reencontrar-se com sua intenção de projeto, e até gerando reações furiosas, não se pode negar a notória importância da comunicação entre arquitetura e as outras artes, como acontece neste caso.


Imagem do trabalho destruído.

     No catálogo sobre este trabalho de Leirner na FAU, de mais de quarenta anos trás e presente nesta exposição, Paulo Mendes da Rocha salienta a importância de se reconhecer a potência que existe na profícua troca entre os diversos campos das artes e a arquitetura. Fica aqui a vontade de ver a FAU como um espaço não apenas lembrado por sua arquitetura genial, mas também como palco para intervenções e ações como esta que estamos rememorando aqui no blog. Fecundar é uma palavra muito usada por Agnaldo Farias, professor da FAU e curador da exposição Nelson Leirner 2011 – 1961 = 50 anos, para se referir ao trabalho de Leirner, mas poderia também ser aquela palavra que mais se aproxima da vocação da arquitetura: um receptáculo para as ações e humores da vida.

     Quem sabe não possamos fazer da FAU um espaço de discussão oficial para os diálogos entre arte e arquitetura, propondo uma curadoria e a inserção dela no circuito de cultura da cidade e do campus? Seria lindo ver como artistas contemporâneos conversam com o edifício de Vilanova Artigas, como Lucia Koch, Ernesto Neto e tantos outros que já fazem um trabalho relacional com a arquitetura. Quem sabe esta não seja, como vimos com a obra de Leirner, uma vocação do edifício da FAU? Quem sabe?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

NOVA GALERIA LEME de PAULO MENDES DA ROCHA (?)

     Em julho, noticiamos aqui no transbordarquitetura! a demolição da galeria Leme, projeto recente de Paulo Mendes da Rocha com o escritório Metro, em São Paulo. O objetivo da demolição seria dar lugar a mais um grande projeto imobiliário na marginal do rio Pinheiros e, como especulado na época, a compensação apresentada pela Odebrecht (empresa construtora responsável pelo novo edifício que ocupará o lugar da galeria) seria reconstruir o projeto da edificação demolida em um terreno próximo ao original. Dito e feito. Já estão avançadas as obras da Nova Galeria Leme e em breve, quando estiver concluída a nova edificação, o antigo projeto será destruído.



Imagens da nova obra retiradas há pouco mais de uma semana atrás. Mais ao alto, o novo anexo, e logo acima, os fundos do novo edifício principal da galeria. Pode-se notar as aberturas que serão conectadas pela nossa passarela.

     Se há alguns meses nós já discutíamos aqui os desdobramentos de se copiar um projeto em outro terreno e em outra situação com a cidade, como é o caso da Nova Galeria Leme, agora, com a obra em andamento e o novo edifício levantado, fica mais evidente o impacto das diferenças dos dois projetos. Embora tenha sido feito um esforço grande para associar a demolição da Galeria Leme com a construção de um uma cópia sua no mesmo bairro, reduzindo assim as possíveis polêmicas sobre a destruição de um projeto daquele que é reconhecido como um dos maiores arquitetos brasileiros e prêmio Pritzker, Paulo Mendes da Rocha, o que vemos ali é um projeto novo. 

     É claro que há algo da antiga galeria que foi respeitado, pois não se abandonou seu feitio original, porém, por conta da nova implantação de esquina, do novo edifício anexo e de algumas significativas pequenas alterações, não há como negar que não se trata de uma simples cópia ou reconstrução do desenho que havia sido feito pra Galeria que logo logo será destruída. Se antes tínhamos uma tímida edificação que, por entre sisudas e altas paredes de concreto, abria pequenos recortes para a cidade, agora temos duas grandes massas edificadas, relacionadas com grande perspectiva para a cidade e que apresentam como grande ícone a nova ponte projetada para ligar a galeria e o seu anexo. Ou seja, um projeto diferente do original que, além de tudo, tem sua orientação solar modificada.




Imagens do novo projeto para a Galeria Leme.

     Assim, conhecido o novo projeto e sabendo-se das diferenças notórias que apresenta com o desenho original, fica a dúvida do porque se propagar a estranhíssima idéia de que haveria replicação do projeto que será demolido. Se alguém acreditava mesmo que esta seria uma forma positiva de se compensar a perda que a cidade terá em destruir um trabalho de um dos maiores arquitetos brasileiros para dar lugar a banais torres de escritórios, o que vemos é uma total transformação do que parecia ter sido proposto. Se era para fazer um novo projeto, por que não partir realmente para uma edificação nova projetada desde o seu início, respeitando-se o novo terreno e a nova implantação? O próprio Paulo Mendes deveria ser convidado para isso, e o escritório Metro junto com ele, para aí sim começarmos a pensar em uma compensação real para a cidade com a demolição da Galeria Leme original.

     Estamos abrindo espaço mais uma vez para uma promiscuidade sem fim de interesses que desrespeitam as nossas cidades e que passam por cima da nossa cultura e arquitetura brasileiras. A demolição da Galeria Leme é um caso esquizóide de tentativa de compensação através da cópia, que acabou não se revelando tão idêntica assim, e que em nada contribui verdadeiramente para pensarmos na cidade em transformação. Paulo Mendes comentou para o Diário de São Paulo a respeito do caso que “a modernidade está fazendo com que imóveis virem móveis”, porém, mais que isso, me parece que neste caso há um total desrespeito com o trabalho de um dos nossos mais geniais arquitetos e uma visão estranhíssima sobre a memória na arquitetura e sua permanência na cidade. Mais uma vez uma brutal incongruência entre aqueles que pensam e respeitam a cidade, com os interesses obscuros de um capital de transformação da cidade que tem muito pouco a nos acrescentar em termos de beleza e qualidade de vida.

Para conhecer nossa primeira postagem sobre a demolição da Galeria Leme, acesse:

Imagem da edificação que será demolida.


RENZO PIANO transborda!

    
     Ontem encontrei um pequeno fragmento de um texto do Renzo Piano que tem tudo a ver com o espírito que tentamos dar a este blog e, como não poderia deixar de ser, venho aqui para compartilhar ele com vocês! Renzo consegue em poucas e objetivas palavras sobre sua experiência profissional traduzir um pouco do que tentamos construir aqui, um caminho em que a arquitetura testa seus limites e em certa medida se confunde com aqueles outros campos de conhecimento que a subsidiam ou com os quais está em permanente contato e troca. Nessas intersecções, para usar um termo geométrico tão caro à arquitetura, estou cada vez mais convicto que se revelam a riqueza e a potência de uma arquitetura plural e humanista. As palavras de Renzo, que cito aqui abaixo, são bastante excitantes e animadoras para quem acredita nisso:

“Pertenço a uma geração de pessoas que manteve uma abordagem experimental durante toda a vida, explorando campos diversos, profanando limites entre disciplinas, misturando papéis, assumindo riscos e cometendo erros. E isso em vários terrenos. Do teatro à pintura, do cinema à literatura e à música.”

Emocionante, não? Sem dúvida, a arquitetura de Renzo Piano transborda. Profanar limites entre disciplinas...  transbordarquitetura!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

COLEÇÃO FOLHA GRANDES ARQUITETOS – Percepções e primeiros comentários

     Ontem, no Domingo, chegaram às bancas os dois primeiros livros da Coleção FOLHA Grandes Arquitetos e, é claro, corri logo cedo para conhecer o material que nós havíamos divulgado aqui em uma postagem da semana passada. Incrivelmente, pois eu não esperava, esta é uma das nossas discussões mais acessadas do blog nesses últimos tempos e, justamente por isso, parece ser aquela em que melhor podemos contribuir para um debate que faça jus ao nome desta plataforma virtual: transbordarquitetura! Afinal, o grande número de pessoas interessadas sobre a coleção que visitaram o blog e que, como pude verificar na minha banca de jornal, compraram os seus primeiros volumes, nos mostra um interessante movimento que rompe com a solidez de um campo tão auto-centrado e distante dos outros interlocutores da cultura, inclusive no que diz respeito à mídia geral, como é a arquitetura. Um caminho fértil então para discutirmos algumas possibilidades de comunicação e troca entre arquitetos e não-arquitetos.

     Frank Lloyd Wright e Renzo Piano foram os grandes nomes escolhidos para a estréia da coleção e, nesse sentido, acredito que começarmos a pensar as intenções envolvidas na escolha desta dupla como estratégia para a compra da coleção pode, em muito, contribuir para entendermos melhor como se dá o alcance da arquitetura com o público geral. Afinal, não sem porque esta dupla foi escolhida para atrair leitores-consumidores, cada um deles apresenta um perfil distinto que, considerando a presença temporal e a inserção de suas obras, pode atingir distintos públicos. Ao que me parece, e gostaria de colocar isso como uma hipótese a ser discutida com vocês, Wright foi escolhido por ser um nome bastante conhecido de todos e que atrairia aquela parcela do público que conhece o que é notório da arquitetura, seus antigos e grandes arquitetos, enquanto Piano reforça a qualidade do time de arquitetos contemporâneos e chama aqueles que já conhecem bastante da arquitetura, como estudantes, para a compra dos livros.

     Não à toa também, Oscar Niemeyer foi escolhido para ser o grande chamariz da primeira edição a ser vendida com o preço original, R$16,90 por volume, a sair na semana que vem, uma escolha que revela a notoriedade do arquiteto brasileiro entre aqueles que podem se interessar tanto por Wright quanto por Piano como também por aqueles que perderam os primeiros livros e que encontram no nome mais conhecido de arquitetura no Brasil a oportunidade para começar a coleção. Nesse caminho, fica pra mim a vontade de conhecer realmente daqueles que trabalharam na estratégia de vendas da coleção as intenções por trás da escolha de cada nome elegido para dar cara a cada número da coleção, pois poderíamos ter informações que nos alimentariam para outros vários caminhos de discussão. Assim como seria muito interessante ter os números de vendas e saber quais foram aqueles arquitetos mais procurados, o que também daria para nós um perfil interessante do público que procurou os livros.

     Enfim, acho que temos muito ainda o que garimpar dos primeiros resultados e daqueles que ainda virão com a venda desta coleção de livros pelo jornal de maior circulação do país, a Folha de São Paulo. É uma oportunidade muito boa para enfim aproximarmos arquitetos das discussões da sociedade, da mídia não especializada em arquitetura e do cotidiano cultural dos brasileiros. Li no jornal que a procura por livros da Clarice Lispector aumentou consideravelmente depois que uma personagem da novela Malhação, da Rede Globo, começou a ler seus livros, e me senti surpreso (olha que tonto!) em ver que a mídia tem cumprido um papel que sempre foi da escola. É ainda distante o sonho de ver arquitetura sendo pensada e discutida nas escolas do nosso país, pois não alcança nem as rodas de papo da maior parte da nossa elite cultural, mas quem sabe possamos aproveitar esta porta que se abriu com a divulgação desta coleção de livros para alcançar vôos maiores? Parece, pelo menos foi o que me disse meu jornaleiro, que a coleção que antecedeu a dos Grandes Arquitetos, sobre ópera, teve uma imensa procura principalmente de um público bem jovem. Vamos aproveitar isso?

E vocês, compraram os livros? Ainda vão comprar? O que acharam dos primeiros volumes?

sábado, 10 de setembro de 2011

ARQUITETURA: Competição ou Cooperação?

     Continuando a alimentar a ponte que começamos a estabelecer entre o transbordarquitetura! e o ComoVer, gostaria de dividir aqui algumas questões que há algum tempo pairam sobre a minha cabeça e que a respeito delas me interessa conhecer a opinião dos meus amigos de “blogagem”. Nesta semana visitei a exposição de trabalhos que concorreram aos concursos do parque olímpico do Rio de Janeiro e do Porto Olímpico, todos expostos na sede carioca do Instituto dos Arquitetos do Brasil. A exposição acaba de deixar o IAB-RJ mas traz para mim uma velha questão sobre a solidificação de uma cultura de concursos de arquitetura no Brasil que, embora importantíssima do ponto de vista de estímulo ao fortalecimento e atuação dos escritórios e arquitetos brasileiros, me parece fazer parte da construção de uma arquitetura de viés mais competitivo do que cooperativo.

     Explico. É claro que não tenho dúvidas sobre os benefícios de uma cultura de concursos de idéias de arquitetura que, além de promoverem publicamente os objetos de concurso e a própria arquitetura, estimulam a troca de idéias e fazem escritórios e arquitetos conhecerem seus pares. Porém, vejo nessa construção de um ideário de concursos públicos a replicação de um padrão internacional de disputas que não respeita outros aspectos da arquitetura como o tempo, a aprendizagem ao longo do trabalho ou a cooperação. Se não caio na provocativa dicotomia insinuada no título desta postagem, pois não acho que se deva optar por competição ou cooperação, também não concordo que nos esqueçamos de construir junto à uma cultura forte e bacana de concursos públicos de arquitetura um espaço rico de cooperação entre arquitetos e projetos de arquitetura.

     Digo isso porque vejo que a competição de projetos, assim como a competição entre cidades sedes de olimpíadas ou por aquelas com mais turistas ou com o melhor branding de sucesso, parece fazer parte de um mundo corporativo que se constrói pela ocupação do espaço de um no lugar do outro. Não acredito sinceramente que os concursos sejam um espaço de democratização da arquitetura só porque permitem que todos participem com igual capacidade de vitória. Pelo contrário, pela necessidade de um padrão único e rápido de apresentação e divulgação da idéia, já que em concursos a beleza fácil e a publicização do trabalho são tão fundamentais quanto aspectos mais filosóficos da arquitetura, me parece que na maioria das vezes eles nos servem para engessas aspectos e criar fetiches estéticos, permitindo que só hajam alguns vencedores óbvios. Há um diferença clara e que todos reconhecem entre se fazer um projeto para vencer um concurso e um projeto para ser excepcional e doador de qualidade para a cidade.

     Frank Lloyd Wright já dizia que os vencedores de concurso não eram nem os melhores nem os piores, mas sempre os medianos, e que por isso não fazia questão de ganhar nada. Outros tantos arquitetos argumentam isso e não é de hoje a visão de que concursos e competições de arquitetura são um estímulo ingênuo à boa arquitetura e ao fomento da criatividade de arquitetos. No mesmo caminho têm rumado as discussões sobre editais de cultura que promovem a competição entre projetos culturais e ações artísticas, pois há uma percepção geral de que elescerceiam a capacidade criativa ao padronizarem exigências e prazos. A arquitetura compartilha nesse sentido dos mesmos dilemas que as outras artes.

     Então, que outros caminhos são possíveis para se conseguir os mesmos resultados esperados pelos concursos? Se são louváveis as iniciativas de instituições de arquitetura em promoverem concursos para tentar fortalecer o trabalho dos arquitetos e tentar trazer qualidade aos novos empreendimentos a serem divulgados e trabalhados, como ir além da mera competição quando o assunto é pensar uma boa arquitetura? Não tenho as respostas e talvez seja um tanto tola esta minha questão, mas sinto que falta ainda um caminho cooperativo em que arquitetos possam se ajudar mutuamente e compartilhar as questões que envolvem seus trabalhos diários. Escritórios parecem viver isolados na cidade e apenas têm a oportunidade de se encontrarem ou se olharem quando estão em competição plena para ver quem apresenta o melhor resultado. A academia e os trabalhos de faculdade estão seguindo o mesmo caminho , pois se baseiam no mercado e no que acontece com os grandes escritórios, reproduzindo em sala de aula a competição e a escolha pelo melhor trabalho.

     Não acredito em melhores trabalhos assim e ia adorar que os próprios selecionados em concursos pudessem votar pelo trabalho que mais gostaram ou pelo arquiteto que acharam mais bem sucedidos na competição. Isso ao menos forçaria que todos tivessem uma troca mais efetiva e generosa. Um exemplo maravilhoso da nossa arquitetura brasileira e que eu acho que tem tudo a ver com esta discussão é o Palácio Gustavo Capanema, o prédio do MESP do Rio de Janeiro, grande baluarte da arquitetura moderna. Se a competição e o concurso promovidos para a escolha do projeto foram implodidos, esquecendo-se o vencedor Arquimedes Memória e dando lugar ao grandioso Lucio Costa pela amizade que tinha com membros do ministério, Lúcio nos deu uma lição sobre cooperação ao chamar vários dos seus colegas modernos de concurso para trabalharem no novo projeto. Foi assim nasceu Niemeyer, assim encontramos com Corbusier e assim formamos o Brasil, com misturas e danças de roda. Precisamos encontrar mais espaços de cooperação na arquitetura e, nesse sentido, faço desta vontade uma forma de agradecer aos meus amigos do blog ComoVer por estarem compartilhando aqui comigo suas visões e vontades sobre arquitetura.

     Deixo então a pergunta, meus amigos: isso tudo faz algum sentido para vocês?

Para visitar o ComoVer sempre: http://www.comover-arq.blogspot.com/

domingo, 4 de setembro de 2011

Coleção de livros FOLHA GRANDES ARQUITETOS chega às bancas, a partir do dia 11, com edições especiais sobre as obras de grandes figuras da arquitetura mundial.

Com presença flutuante sobre os assuntos que interessam ao mundo da arquitetura, inclusive no que diz respeito aos seus cadernos culturais, coleção de livros apresenta uma vigorosa investida de aproximação da mídia impressa não especializada em arquitetura com a produção e discussão dos trabalhos de grandes arquitetos de várias gerações.




     Desde a última sexta-feira, dia 5, começou a circular na TV a bacaninha peça publicitária de divulgação da coleção de livros FOLHA Grandes Arquitetos, do jornal Folha de São Paulo, que trará todo domingo uma edição especial sobre a obra de um grande arquiteto mundial. Idealizada pela agência África, a propaganda brinca com a influência da coleção na vida de um menininho que, ao ser instigado na praia pelo seu pai a fazer um castelinho, refaz a Sagrada Familia de Gaudí em areia. Ao desespero dos já surpresos pais quando uma onda chega e destrói todo o trabalho do menininho, ele os despreocupa e diz que recomeçará tudo fazendo desta vez o congresso de Brasília do Niemeyer.

     Para além do bom resultado da propaganda, não é nenhuma surpresa o desprestígio da arquitetura quando se trata da sua presença em veículos de grande comunicação em massa e na bagagem cultural dos brasileiros. Diferente da música, das artes visuais e do teatro, por exemplo, que por menor espaço que tenham já conseguem alcançar um variado público e tem seus grandes artistas no imaginário coletivo do país, a arquitetura ainda é pouco conhecida e muito pouco representada por grande parte da nossa mídia impressa e audiovisual. No imaginário das crianças então é desprestigiadíssima.



     Nesse sentido, talvez seja possível reconhecer na nova coleção que chega às bancas um precioso passo para a aproximação do público geral com o trabalho de grandes nomes da arquitetura que vão além do consagrado Niemeyer. Só as imagens publicitárias que estão sendo difundidas já são um estímulo incrível de encontro do público com o melhor da arquitetura, que se ainda não encontrou um espaço forte de discussão dentro dos cadernos de cultura e com a periodicidade devida, terá grande destaque nos próximos meses com o material vendido junto à Folha de São Paulo.

     Desta maneira, quem sabe, aqueles que ainda não conheciam os nomes e as obras de arquitetos contemporâneos como Renzo Piano, Jean Nouvel, Norman Foster, Steven Holl ou até mesmo dos consagrados Frank Lloyd Wright e Alvar Aalto, se vejam defrontados todo domingo com a imagenzinha deles na banca de jornal ou no capacho da porta dos seus apartamentos. Uma oportunidade para que professores e pessoas interessadas em arte e arquitetura, que nunca tiveram uma chance tão oportuna e fácil de aproximação, se vejam instigados a conhecer mais da produção arquitetônica mundial. Também será uma ótima oportunidade para que bibliotecas possam adquirir com facilidade livros sobre arquitetura que pouco chegam às escolas ou espaços culturais, despertando talvez a curiosidade de alguém que não teria outra chance de conhecer uma obra como a Sagrada Família de Gaudí. E quem sabe esse alguém possa vir a ser um pequeno menino que queira, agora sim na realidade, brincar de fazer mais do que castelinhos nas areias da praia.

     Se a nova coleção servir para estimular crianças sobre o universo da arquitetura e formar novos arquitetos no futuro, ótimo! Porém, mais importante que isso, é possível ver na difusão da arquitetura com a nova coleção da Folha um estímulo importante à construção de uma cultura arquitetônica forte em nosso país que permita que nossas cidades sejam mais do que meros cenários para a especulação imobiliária e a reprodução burra de estereótipos estrangeiros. E isso só será possível com a presença da arquitetura no cotidiano de todos nós, arquitetos ou não.

sábado, 3 de setembro de 2011

SAUL STEINBERG na Pinacoteca do Estado de São Paulo - de 3/9 a 6/11

Depois de passar pelo Instituto Moreira Salles do Rio, a exposição SAUL STEINBERG - AS AVENTURAS DA LINHA começa hoje temporada paulistana na Pinacoteca.

     Uma oportunidade única para se conhecer de perto o desenho crítico e irônico do grande cartunista da New Yorker que, como comentado aqui no blog por ocasião da temporada carioca, levou consigo muito da sua formação como arquiteto e é personagem chave quando se trata de pensar as fronteiras criativas da arquitetura. Sem dúvida uma exposição que transborda os conceitos conhecidos da arquitetura, se valendo deles a todo o tempo para reorientá-los, e amplia as possibilidades de pensamentos sobre a cidade e sobre muito daquilo que ela é constituída: suas coisas, seus personagens, fluxos e ações.

Imperdível!


     Para conhecer nossos comentários e pensamentos sobre a exposição quando esteve no Rio de Janeiro, o link para o post SAUL STEINBERG - CRÔNICAS DA LINHA DE UM ARQUITETO é http://transbordarquitetura.blogspot.com/2011/08/saul-steinberg-cronicas-da-linha-de-um.html

Bom final de semana!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Exercícios de liberdade – diálogos com o blog ComoVer Arq

     As investigações do tema da liberdade na arquitetura são, sem dúvida, daquelas que mais me impulsionam e me sensibilizam. Quando Fernando Gobbo e Larissa França, do blog ComoVer Arq, comentaram na última postagem sobre a minha colocação da Casa de Vidro do Morumbi como um exercício de liberdade, discordando dela, me deixaram bem animado em poder construir junto com eles um debate sobre este tema que tanto me fascina. Aqui no blog, no primeiro semestre, tentamos iniciar alguns caminhos de diálogo com este tema através da entrevista com o professor Wilson Jorge sobre o exercício de projeto na arquitetura prisional.

     Pois bem, ao argumento de Fernando e Larissa sobre a planta da Casa de Vidro manter um desenho espacial que reproduz o discurso da “Casa Grande e Senzala” quando, nas divisões internas, reproduz a hierarquia social dos seus cômodos, resolvi logo recorrer a uma nova olhada no desenho de planta do projeto de Lina Bo. Sem dúvida, para quem analisa esta planta, fica muito evidente a forte divisão que há entre o espaço dos empregados e a área dos donos da casa, sendo a cozinha a responsável pela intermediação entre esses dois blocos da residência. Ao constatar isso e concordar com meus colegas de blog, duas idéias me vêm à mente: a primeira diz respeito às contradições que me parecem residir no casal Bardi e que sempre me causaram difícil entendimento. A casa de vidro é a casa da nossa maravilhosa Lina, mas também é, mesmo que diferente das outras, uma casa da elite branca da cidade de São Paulo da década de 50.



     O outro ponto que me surge é um possível paralelo entre o discurso de liberdade presente na Casa de Vidro do Morumbi com aquele proferido pelas formas de Brasília. Se entendermos a liberdade formal na arquitetura como a possibilidade de dar plenos direitos de movimentação e visão aos homens, pilotis e fachadas de vidro são os elementos que mais diretamente podem trazer para a forma o ideal de liberdade. Nesse sentido Brasília e a Casa de Vidro são notórias experiências de liberdade. Porém, quando pensamos em Brasília, logo nos chega a imagem de uma cidade dupla: uma de palácios e cartões postais, onde é possível correr e andar sem interrupções por debaixo dos pilotis livremente; e outra de precariedade e falta de planejamento, representada pela pobreza da maioria das cidades satélites ao plano piloto. Ou seja, para além do sonho projetivo de Lúcio e Oscar, Brasília é uma cidade como qualquer uma das outras cidades do nosso país: essencialmente desigual, uma reprodução da nossa estrutura social e política. Brasília é uma cidade, quer se queira ou não, brasileira.

     Então, como pode haver liberdade formal se há uma estrutura social aprisionadora? A forma dá conta de expressar o que pleiteamos como liberdade? Se a Casa de Vidro do Morumbi fosse um Loft e nela não houvesse paredes e alas de empregados, a experiência projetiva ali poderia ser considerada mais libertária no que diz respeito à forma? Mesmo que já existisse Paraisópolis, a maior comunidade pobre próxima ao bairro em que fica a Casa de Vidro, o Morumbi, para sustentar, da mesma forma que acontece em Brasília, a dicotomia desigual da sociedade brasileira?

     A necessidade faz o ladrão, como diz o ditado, e a dispensa de mantimentos sumiu da planta das casas brasileiras quando os supermercados se tornaram mais comuns. Assim como talvez um dia sumam os quartos de empregada, mas talvez não seja um sinal de grandes mudanças sociais. A forma esconde e não é invencível. Ambientes abertos e fluxos fluidos não revelam em si movimentos libertários. Somos tão arquitetos quanto agentes políticos e a arquitetura da liberdade só encontrará lugar quando uma profunda transformação de hábitos e lugares sociais acontecer.

Para conhecer meus amigos do ComoVer Arq visite: http://comover-arq.blogspot.com/
Para ver a entrevista sobre arquitetura prisional com o prof. Wilson Jorge: http://transbordarquitetura.blogspot.com/2011/04/entrevista-com-o-prof-wilson-jorge.html

Nunca nos encontramos tanto!

Olá, pessoal!

Terminar um mês de agosto como o último que passou, com mais de 1000 acessos no mês, é motivo de grande comemoração aqui no transbordarquitetura!. No ano passado, neste mesmo Agosto, foram pouco mais de 100 acessos, uma mudança assustadora mas que me deixa muito alegre e confiante sobre a potencialidade desse nosso espaço de discussão. Só posso agradecer a todos vocês pela troca que temos tido, sempre muito animadora e verdadeira, que faz do blog a cada dia uma plataforma mais vigorosa para debatermos sobre arquiteturas.

Obrigado pelo carinho, pelas mensagens e visitas ao blog.
Continuem acompanhando e vindo comigo nessa empreitada!
Viva!
Um grande e afetuoso abraço a todos!