Nesses últimos dias, a Prefeitura do Rio anunciou a construção de uma segunda Cidade do Samba destinada exclusivamente às escolas do Grupo B que terão seus barracões afetados pelas dilacerantes modificações do projeto Porto Maravilha. À exemplo do que já foi feito na Cidade do Samba das escolas do Grupo A, a proposta da prefeitura é construir uma estrutura de galpões, mais moderna e segura em relação aos barracões atuais, compondo um grande conjunto para servir mais adequadamente aos anseios da indústria do samba.
Junto ao anúncio da prefeitura, um incêndio atingiu o barracão de uma das escolas do grupo B, alertando para a necessidade e urgência da transformação e manutenção dessas estruturas. Sendo assim, não há como negar a real necessidade de cuidado e atenção do poder público para os barracões da zona portuária, ainda mais se pensarmos que se trata de uma área que se pretende transformar para reintroduzi-la no cotidiano da cidade.
Porém, será que a solução para os incêndios e para a boa estrutura das escolas de samba está realmente num mega-conjunto como a Cidade do Samba? E mais que isso, será que as Cidades do Samba e a transferência dos Barracões realmente representam as modificações que desejamos para a zona portuária?
Bom, essas e outras perguntas teremos que nos fazer em uma construção conjunta de toda a sociedade, pois só assim poderemos promover de forma democrática as modificações para o Porto do Rio. De antemão, começo esta discussão revalidando os barracões como inéditos lugares de socialização e cultura que não podem desaparecer, pois são o resultado da criação de um lugar com discurso próprio e alma carioca.
Explico. Estamos acostumados a replicar modelos, importando em forma a representação de certos lugares que nos parecem se adequar a determinadas funções. Para grandes shows construímos arenas, para diversão das crianças parques e playgrounds, para o trabalho imaginamos escritórios, ateliês, estúdios. Mas as estruturas do carnaval reinventaram os espaços, adaptando-os e construindo novos significados. É o caso do Barracão e é o caso também das Quadras das Escolas de Samba.
O Barracão, que é o exemplo desta postagem, resignificou o lugar do trabalho, do lazer e da socialização. É um espaço que não é um clube, não é um ateliê de trabalho e não é uma indústria. Então, o que é o Barracão? É um espaço novo, sem modelos exteriores, que com criatividade e apropriação da arquitetura industrial criou um novo modelo de lugar público. E são eles que mantêm viva a zona portuária do Rio até hoje.
Querer reintroduzir os bairros da região portuária na dinâmica da cidade do Rio é uma necessidade que todos enxergamos, mas ela não pode passar por cima daquilo que há anos mantém vivos esses bairros. Não podemos abrir mão dos barracões como modelos de espaço público que podem e devem ser apropriados por arquitetos e artistas na construção da região portuária do Rio de Janeiro que queremos.
Que belo texto!
ResponderExcluirVocê pegou o ponto. Devolver a vida ao pedaço da cidade que já tem vida? Tem algum ruído nesse discurso, não?
A questão é essa, qual o projeto que queremos? Para atender a quem?
A academia com seus estudos urbanos está muito atenta à segregação habitacional. Mas a segregação de uso do espaço (lazer, trabalho, circulação) não está recebendo a mesma atenção.
Maravilha essa postagem!
Abraços
Julia
E já que vc busca o diálogo!
ResponderExcluirAqui estamos nós!
Julia
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