sábado, 19 de fevereiro de 2011

Os negociadores do PORTO MARAVILHA e o mercado imobiliário de escritórios comerciais

“O porto é nossa maior expectativa de regularização do mercado de locação de alto padrão.”

Com esta declaração termina a matéria “Aluguel comercial: 4º mais caro do mundo”, publicada no caderno de economia do jornal O GLOBO de ontem, dia 18. Ela foi dada por Cleber Gurgel, gerente regional no Rio de uma grande consultoria imobiliária, nos encaminhando para uma boa discussão sobre um dos pontos mais sensíveis que envolvem um projeto de transformações para a região portuária do Rio de Janeiro. Afinal, não há dúvidas de que um dos grandes negociadores destas transformações será o mercado imobiliário de locação de escritórios comerciais.

Nesse sentido, começo esta postagem reforçado a necessidade do pluralismo dos negociadores e organizadores nas intervenções de transformação do cais do porto carioca. Considero relevantes as reivindicações do mercado imobiliário, já que é uma demanda irreversível, mas elas não podem nem devem ser os únicos norteadores para o projeto de transformações do Porto. Infelizmente, considero a abertura para prédios de 50 andares do plano PORTO MARAVILHA, proposto pela prefeitura do Rio, um recado de que é possível sim que haja o risco de que apenas um lado dessas negociações seja ouvido. Ou pior, que não haja nem mesmo negociações.

Mas ainda podemos acreditar no pluralismo. Afinal, um projeto compartilhado e discutido com ampla participação é o melhor para todos. Acredito sinceramente que o mercado de locação de escritórios tem muito a ganhar com a experiência de anos daqueles que estudam e refletem sobre as cidades brasileiras. Assim como as cidades têm muito a melhorar com o empenho e investimento vindos das mais diversas demandas da sociedade, pois a cidade precisa ser reflexo do seu pluralismo.


A vazia Avenida Berrini, São Paulo.

Sendo assim, trago aqui algumas questões que me pareceram importantes na leitura da matéria de ontem. Fala-se muito na falta ou limitação de espaço no Rio como causa da pouca oferta e do aumento no preço dos alugueis comerciais na cidade, tornado-a a quarta mais cara do mundo. Mas que espaço é esse? É apenas um espaço físico? Seriam os morros cariocas o grande empecilho para o equilíbrio deste mercado? Não, estamos entrando em um debate de centralidade da infra-estrutura da cidade. São Paulo e suas operações urbanas trouxeram a idéia de nova centralidade para resolver o problema, fazendo da região da Avenida Berrini um novo centro exclusivamente destinado aos negócios. O Rio precisa optar pelo mesmo caminho?

Do meu ponto de vista o modelo da Berrini não é, como escrevi no começo desta postagem, o ideal de projeto que respeita o pluralismo da cidade e dos seus negociadores. Pelo contrário, é reflexo único e exclusivamente dos anseios do mercado imobiliário de locação comercial de alto padrão. Um perda pra cidade e para o próprio mercado imobiliário. As ruas vazias do Brooklin Paulista, bairro que abriga a Avenida Berrini, são hoje a imagem da chamada nova cracolândia, com suas vias destinadas aos dependentes químicos, desumanizadas e de grandes edifícios corporativos que refletem a construção da cidade insegura, segregada e monocromática.


Protesto contra o processo da Operação Urbana

Se existe uma demanda por novas construções ou por novos espaços de cidade que abriguem escritórios comerciais, podemos pensar todos juntos em um amplo debate a respeito de um plano que abrigue essas demandas e não abra mão da cidade plural, alegre e viva. Assim ganharemos todos. Talvez esta seja a chave para voltarmos ao Rio de Janeiro da boa arquitetura, como nos ensinou e rememorou o professor Luiz Fernando Janot em seu artigo de hoje na página 7 do jornal O Globo. Oxalá!

Links!!!

Para a matéria - Aluguel comercial: 4º mais caro do mundo

Para o artigo de Luiz Fernando Janot

Para a nova Cracolândia

Das imagens

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