quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Da sombra de uma mangueira à Cidade do Samba.














Quadra de Samba da Acadêmicos da Rocinha   e  Faculdade de Arquitetura e Urbanismo USP

links das imagens

A arquitetura do samba, vamos chamar assim, está presente muito além dos seus barracões. Se vínhamos conversando aqui sobre a importância de encontrar no barracão um modelo novo de lugar que conjuga trabalho, lazer e socialização, diferente do atelier ou do estúdio, ainda nos falta pensar nas inúmeras potencialidades escondidas nos outros espaços por onde passa o samba.

É claro que trago aqui apenas um fragmento de pensamento, pois não se trata de iniciar uma pesquisa extensa sobre o assunto. Apenas gostaria de colocar em jogo e trazer para todos a possibilidade, em tempos de carnaval, de repensar o poder maravilhoso que o carnaval e o samba têm de transformar os espaços das cidades brasileiras.

Das rodas de samba embaixo de uma mangueira, onde o samba encontra o morro e a favela, passando pelos quintais do subúrbio carioca até chegar à indústria da Cidade do Samba e seu modelo turístico, uma cidade se transformou. É impossível ignorarmos que a cultura do samba também constrói, revela e transforma as cidades.

Mas será que estamos conseguindo consolidar as importantes transformações vindas daí? Ou melhor, será que estamos conseguindo nos abrir e enxergar as potencialidades surgidas com essas transformações? Acho, como vinha sustentando nas últimas postagens, que a destruição dos barracões na Zona Portuária do Rio para dar lugar a espigões de 50 andares é um exemplo de que não. Pelo contrário, acredito que estamos abrindo mão das inúmeras conquistas que a criatividade da cultura do samba trouxe para as nossas cidades.

É a poesia, a música, a dança que conseguem fazer da cidade, sua forma e experiência, o resultado de um processo libertário e verdadeiro de construção. Quando digo que o samba e o carnaval construíram uma cidade, estou falando de arquitetura. Porque arquitetura não é só feita pelas mãos dos arquitetos, ela é, antes de mais nada, feita de desejo e discurso. E também não é feita só com desenho, pode ser feita com samba, com dança ou com a liberdade de uma pipa.

E daí faz-se uma cidade.

O que dizer das quadras das escolas de samba, que não são clube nem casa de shows, reinventando antigos armazéns, estacionamentos de ônibus ou galpões abandonados? Ou dos barracões ocupando com seu trabalho e alegria uma zona portuária abandonada e esquecida? Ou ainda a reinvenção da rua como passarela, na grande festa deste país que é o nosso carnaval? Ou da maravilhosa sombra de uma mangueira que reúne, protege e abençoa as inúmeras rodas de samba espalhadas por aí. Tudo isso é, e não podemos abrir mão, a arquitetura do samba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário