segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O encontro dos rios Solimões e Negro, que forma o grande rio Amazonas, está correndo sério risco de ser desfigurado pela construção de um novo terminal portuário para a Zona Franca de Manaus.

Tombamento de 2010 do IPHAN, que avaliou a fundamental importância do encontro dos rios como patrimônio de todos os brasileiros, foi revogado pela justiça do Amazonas nesse início de Agosto e aponta ameaça sobre a preservação paisagística do monumento natural.



         A proteção e estudo da paisagem é, sem dúvida, um dos campos de investigação da arquitetura. Quando formados, depois de um mínimo de 5 anos de estudo na faculdade, podemos nos habilitar também como paisagistas ou arquitetos da paisagem. Porém, desde os assustadores debates no Congresso sobre o Novo Código Florestal Brasileiro, no começo desde ano de 2011, não me restam dúvidas de que nós arquitetos, assim como nossas instituições, estamos falhando em uma batalha que só se anuncia em um novo milênio de grandes demandas ambientais e paisagísticas, principalmente em um contexto de grande desenvolvimento em nosso país. Não estamos fazendo jus a nossa formação como paisagistas!

        Quando o Congresso chegou à beira de ratificar um Novo Código Florestal que desvirtuava décadas de luta pela preservação dos nossos ecossistemas e pelo patrimônio paisagístico brasileiro, influenciado quase que exclusivamente pelo setor agropecuário, enviei para a ABAP (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas) e publiquei aqui no blog uma carta que pedia uma manifestação pública da instituição sobre sua posição a respeito da desastrosa movimentação do nosso Congresso. Nada me responderam e não soube de nenhuma manifestação pública sobre o novo código. (Para reler a carta, o link é http://transbordarquitetura.blogspot.com/2011/04/mensagem-para-abap-sobre-o-novo-codigo.html ).

        Felizmente outras forças, principalmente representadas por ambientalistas e estudiosos das biologias, conseguiram estender o prazo da votação, com ajuda do Governo, adiando um pouco mais a turbulenta discussão. Enquanto não voltamos ativamente à briga sobre as alterações do novo código, outra grande demanda ambiental e paisagística aparece de forma urgente pela ameaça da preservação do encontro dos rios Solimões e Negro por conta da iniciativa da construção de um novo terminal portuária para a Zona Franca de Manaus. O IPHAN, tendo em vista a ameaça possível, tombou em 2010 o monumento natural. Contudo, neste mês de Agosto, a justiça do Amazonas revogou o tombamento alegando falta de audiências públicas. Segundo o IPHAN o tombamento não carece deste tipo de consulta popular, porém parece que temos aqui uma questão de notória necessidade do posicionamento das instituições da sociedade civil sobre sua avaliação a respeito da construção deste porto e a possível desfiguração do encontro dos rios, como fator de legitimação da ação do IPHAN.



        Assim, me parece que ABAP, IABs e outras instituições de arquitetura, como nossas escolas, deveriam se posicionar e promover uma carta pública sobre seu apoio à preservação do encontro dos rios e ao tombamento promovido pelo IPHAN. O conselho do instituto, que toma as decisões de tombamento, já é formado por membros do IAB, mas isso não impede manifestações públicas isoladas de cada instituição a fim de aproximar a sociedade e os arquitetos das decisões tomadas nos salões dos palácios, fazendo do posicionamento da instituição um ato de apoio a promoção de discussões dentro da sociedade. Senão as decisões viram atos isolados, distantes da realidade profissional de cada um, nos afastando destas importantes discussões que, sem dúvida, queremos participar.

        Não sou contra a construção de infra-estrutura para o desenvolvimento industrial da região do Amazonas, porém não acredito nesse desenvolvimento predatório que aniquila os verdadeiros valores que precisamos preservar e que verdadeiramente podem fazer deste um país com maior grau de desenvolvimento social. Precisamos encontrar um caminho seguro de construção de um terminal portuário que respeite a paisagem e afete o menos possível o ecossistema amazônico. Manaus é um grande campo de pesquisa para arquitetos, engenheiros e toda sorte de profissionais que queiram pensar no desenvolvimento das cidades dentro de um contexto de preservação dos ecossistemas naturais. Espero que a necessidade deste novo porto consiga servir de estopim para uma nova maneira de pensarmos o desenvolvimento de nossas cidades amazônicas, unindo todos aqueles que querem promover o desenvolvimento com responsabilidade e ganhos sociais e ambientais para estas cidades.

        Não podemos abrir mão da preservação total do encontro dos rios Solimões e Negro! Como disse em entrevista à folha o presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, você permitira que construíssem arranha-céus na Urca transformando a paisagem do Pão de Açúcar? Nosso grande Lúcio Costa se manifestou em carta pública sobre a construção de um edifício que até hoje afeta a paisagem do grande monumento natural, porém agora ele está tombado e preservado. O que será do encontro dos rios no Amazonas?

Link para a Entrevista de Luiz Fernando de Almeida, presidente do IPHAN: http://www.culturaemercado.com.br/gestao/presidente-do-iphan-fala-sobre-polemica-do-encontro-das-aguas/

Link para a carta protesto de Lucio Costa sobre o edifício alto no Pão de Açúcar: http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/4075



2 comentários:

  1. muito interessante! Só uma observação: acho que o link para a carta de Lucio Costa está quebrado.

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  2. Olá, Sr. Anônimo!
    Que bom que achou interessante a crítica sobre o que está acontecendo lá no Amazonas e obrigado pelo elogio. Quando ao link, engraçado, daqui não estou tendo problemas. De qualquer forma obrigado pelo aviso! Caso ainda queira conhecer a carta de Lucio para o jornal, ela é fácil de ser encontrada em uma pesquisa rápida pela internet. Vale a pena! Grande abraço.

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