terça-feira, 2 de agosto de 2011

ENTREVISTA com o Arq. Cid Blanco sobre as PRAÇAS DO PAC

CID BLANCO é arquiteto, formado pela faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Atualmente é diretor especial de programas de infraestrutura cultural da secretaria executiva do Ministério da Cultura.

AS PRAÇAS DE ESPORTE E CULTURA - PRAÇAS DO PAC

1PADRONIZAÇÃO VERSUS DIVERSIDADE CULTURAL

transbordarquitetura!: A recente iniciativa das praças do PAC traz consigo o enorme desafio de se construir em diferentes partes de um país de dimensões continentais equipamentos de esporte e cultura com um mesmo programa padrão. Tendo em vista a diversidade geográfica e cultural das diferentes cidades que poderão adotar o projeto, qual questão justificou a padronização adotada por vocês de três modelos arquitetônicos e programáticos a serem replicados em todo o país, com 700m², 3000m² e 7000m² cada um? Quais critérios os fizeram chegar a estas três propostas e qual grupo de trabalho exatamente as idealizou?

Cid Blanco: Padronização mesmo só existe da questão programática, na definição dos serviços que devem existir nas Praças, afinal de contas a essência do programa é unir num mesmo espaço físico (praça ou edifícação), serviços públicos de diferentes naturezas. Se abrirmos mão disso, deixaria de ser a Praça dos Esportes e da Cultura e viraria outro projeto. Já os três modelos arquitetônicos que apresentamos são projetos de referência, e portanto, podem ser adotados ou não pelos proponentes. Não é impositivo, nem nunca será. Entretanto, era imprescindível colocar no papel a proposta teórica e ter uma idéia de quanto seria o custo de cada um dos modelos. E baseados nesses projetos pudemos definir os valores que estão sendo repassados aos municípios beneficiados na primeira seleção que ocorreu em 2010.

A idealização do projeto foi realizada por uma equipe de consultores (arquitetos), em conjunto com a equipe de arquitetos dos Ministérios da Cultura, Esportes e Desenvolvimento Social e Combate à Fome, mais os analistas de infraestrutura (engenheiros) do Ministério do Planejamento. A base da criação da proposta se deu por meio da discussão do projeto de equipamentos já existentes como os SESCs, os CEUs e as Praças da Juventude, entre outros. Além disso, existem também os critérios e padrões estabelecidos pelos Ministérios para seus equipamentos, como é o caso do CRAS, das bibliotecas e das quadras.

Quando eu assumi a Diretoria, os projetos já estavam definidos e apenas pude fazer a revisão dos mesmos, focando na questão dos acessos e de padrões mínimos de funcionalidade dos equipamentos. Uma nova revisão acabou de ser feita e acredito que se tivéssemos mais tempo faríamos cada vez proposta melhores, de modo a inspirar os arquitetos locais, quando da adaptação para a realidade de cada Praça.

2INCENTIVO À ARQUITETURA COMO ECONOMIA CRIATIVA

transbordarquitetura!: Em seu discurso de posse, a Ministra da Cultura Ana de Hollanda valorizou de forma inédita a importância da arquitetura como fundamental ator da cultura brasileira e salientou seu empenho pessoal em promovê-la durante sua gestão no ministério. Em que medida, como seu diretor de infra-estrutura, você vê nas praças do PAC uma oportunidade de se incentivar o desenvolvimento da economia criativa que gira em torno da arquitetura tendo em vista que não há a obrigatoriedade de adoção dos projetos arquitetônicos sugeridos pelo MinC caso as cidades possuam outros projetos com o mesmo desempenho programático? Por que não se optou, por exemplo, pela abertura de concursos de projeto como forma de promover este incentivo?

Cid Blanco: Existe uma coisa chamada tempo de gestão na administração pública e nesse caso, temos uma questão importante: as cidades beneficiadas com a primeira seleção de 401 PECs passarão por eleições no próximo ano. A realização de concursos públicos de arquitetura para selecionar os projetos de cada uma dessas Praças, ou mesmo para eleger os melhores projetos, não permitiria que nesse momento, 362 municípios estivessem assinando contrato para dar início as suas obras. Estamos falando de recursos públicos com valor pré-estabelecido, ou seja, que não são reajustados. Sendo assim, quanto mais tempo se demora para contratar e iniciar as obras, maior a contrapartida municipal.

Sob a questão da economia criativa, infelizmente não acredito que o impacto das PECs no mundo da arquitetura será pesado, pois estamos falando de prefeituras de capitas e de cidades de médio e grande porte que costumam ter em seu quadro de funcionários, arquitetos e engenheiros. Dessa maneira, acredito que a produção arquitetônica das Praças será, em sua maioria, desenvolvida dentro das próprias Prefeituras. Sem contar, como você mesmo mencionou, que muitas prefeituras já possuem projetos próprios para equipamentos parecidos. Esse impacto mais pesado no mundo da arquitetura e engenharia está realmente ocorrendo, porém, por conta de outros programas do Governo Federal, como os investimentos em infraestrutura do PAC e o Minha Casa Minha Vida, que aqueceram o mercado da construção civil em toda sua cadeia.

Esse fato não diminui a importância que o MinC dá para a questão da arquitetura, conforme enfatizou a Ministra Ana de Holanda em seu discurso. Especialmente pelo fato de estarmos preparando nesse exato momento, um edital para lançar nas próximas semanas um Concurso Nacional de Idéias e Projetos de Espaços Culturais Multifuncionais.

3IAB E AS AÇÕES PROMOVIDAS PELO MINC

transbordarquitetura!: Nesses últimos meses, o Instituto dos Arquitetos do Brasil/RJ conseguiu intervir no processo de elaboração dos projetos olímpicos e sugerir a maior participação dos arquitetos nas suas escolhas, principalmente com a abertura de grandes concursos de âmbito nacional e internacional. Outros programas como o Rio Cidade, Favela Bairro e Morar Carioca, além dos emblemáticos casos das unidades SESC paulistanas, também têm ou tiveram grande participação dos arquitetos no desenvolvimento dos seus principais projetos. Como você analisa a potencialidade da participação dos arquitetos em obras públicas no Brasil e o que faltaria para uma parceria estratégica entre as instituições de arquitetura e os programas de ação promovidos pelo Ministério da Cultura?

Cid Blanco: Bom, não falta nada para consolidar essa parceria, pois conforme acabei de mencionar estamos nos preparando para lançar um concurso nas próximas semanas em parceria com o IAB nacional. A idéia é exatamente ampliar a discussão arquitetônica sobre a questão da qualidade dos projetos de equipamentos públicos. Acho importante destacar que os últimos concursos mencionados trataram sempre de ações pontuais e localizadas numa única cidade. O desafio de fazer essa discussão mais ampla tendo como universo um país diverso como o Brasil é um dos principais pontos que queremos tratar com nosso concurso. Aguardem mais notícias em breve.

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Gostaria de agradecer a participação do Arquiteto Cid Blanco neste breve debate, que se mostrou sempre muito solicito e gentil à todas as minhas mensagens, e terminar dizendo que fiquei muito contente com este início de discussões sobre as praças do PAC. Iremos continuar acompanhando aqui no blog os desdobramentos deste projeto tão ambicioso e importante para o país, por isso aproveito para convidar todo mundo a mandar sua críticas, sugestões e imagens das Praças que possam estar surgindo perto de vocês! Tenho certeza que podemos construir uma discussão bem bacana e que em muito pode acrescentar para esta nova experiência das Praças.

Um grande abraço!

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