sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sobre a profundidade imperceptível

Hoje me deparei com uma daquelas proposições que sabemos que nunca chegarão ao fim, mas que exatamente por isso nos dão a certeza de que para sempre nos acompanharão. Talvez ela também faça sentido para vocês e pode até ser que também os alimente por um bom tempo, ou quem sabe para sempre. Assim espero.

Para a Arquitetura, parece que temos aqui um bom tema de discussão, tema este que por ser inesgotável precisa se manter ecoando nos discursos daqueles que projetam e pensam a Arquitetura. Para mim, sem dúvida, surge um tema a perseguir com a certeza das frustrações e impossibilidades inerentes a esta busca. Mas será que existe caminho mais profícuo?

Trato aqui da profundidade imperceptível, aquela que muito poucas vezes lidamos ou aprendemos nas escolas de arquitetura, mas que é indissociável à própria idéia de arquitetura ou ação do arquiteto. Porém, parece que por não encontramos instrumentos fáceis, codificáveis ou mensuráveis para torná-la evidente, simplesmente a ignoramos. Tornamos a dificuldade óbvia em uma estranha barreira intransponível.

Nesse sentido, transcrevo aqui o fragmento do texto Corpo-gênese ou tempo-catástrofe: em torno de Tanaka Min, de Hijikata e de Artaud, do filósofo japonês Kuniichi Uno, retirado dos Cadernos da Subjetividade, de 2010. Foi nele que despertei para a necessidade evidente do eterno encontro da arquitetura com o tema da profundidade imperceptível, algo que parecia estar dormente em algum canto escondido de mim. Também não estará ele escondido em um cantinho de vocês? Assim diz Uno:

“É verdade que somos todos jogados no mundo como um corpo só e isolado. Esse corpo é isolado no mundo e ao mesmo tempo ligado ao mundo, invadido por este mundo. Esse corpo está entre outras coisas e outros corpos, na distância entre eles, medindo essa distância sem cessar. Mas a distância não cessa de variar no espaço que constitui o mundo com sua profundidade imperceptível. A forma, a grandeza, a qualidade, tudo o que é mensurável sai somente dessa profundidade. Certamente cada um pode descer a essa profundidade. Não há regra nem escala para medi-la. Os pintores que descem a essa profundidade são freqüentemente obrigados a reinventar a perspectiva ou a geometria. Penso em Turner, Michaux, De Kooning, que sempre interessaram Hijikata.”

É assim que exponho a todos nós, principalmente àqueles que pensam arquitetura, a questão de uma profundidade que se revela subliminar aos instrumentos que usualmente conhecemos e adotamos. Não se trata aqui de um discurso em defesa ao abandono das ciências exatas e dos nossos bons e velhos instrumentos de projeto, pelo contrário, sinto apenas a necessidade de ressaltar a existência de necessidades anteriores e formadoras daqueles instrumentos que utilizamos.

Não conseguiria nunca esgotar este tema, e jamais seria minha intenção aqui. Então espero, de verdade, ter trazido para nós uma eterna voz questionadora que nos force a procurar uma dimensão esquecida da nossa experiência no espaço, principalmente para aqueles que, assim como eu, encontraram na arquitetura uma forma de expressão dentro deste espaço.

3 comentários:

  1. mas será que a arquitetura carece de profundidade? não será o corpo somente a interface, a media tangível entre sujeito e arquitetura? será que não está a arquitetura mais condicionada a produção do discurso que a produção de sua proposta inicial que são abrigos? e como mensurar a experiência sensível de cada um dentro do espaços? e seria justo que nós arquitetos lançássemos mão de ferramentas de controle espacial no sentido de induzir a uma determinada experiência espacial e negando todas as outras possíveis e impedindo a própria construção do usuário da experiência que lhe convém? será que não estamos substituindo a 'máquina moderna de morar' pelo 'experimento sensorial do habitar contemporâneo'? muito boa essa sua questão levantada!!!

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  2. façamos assim, eu tb vou escrever um texto respondendo o seu sobre a questão da profundidade! é um assunto que me interessa muito! de certa forma começei a escrever algumas coisas sobre isso no blog há algum tempo:
    http://realidadeimprovavel.wordpress.com/2011/02/08/moradias-transitorias/

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  3. conrado fiz uma série de 3 posts no blog falando sobre a questão d aprofundidade imperceptivel na arquitetura sob a ótica da experiencia do espaço, com coias que eu acho bacanas e q meio são minha opinião sobre o assunto! depois vai lá ver!

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