quarta-feira, 4 de maio de 2011

PETER ZUMTHOR Serpentine Pavillion



    


     Já faz algum tempo que foram divulgadas as imagens do novo pavilhão de Peter Zumthor para a Serpentine Gallery (1), em Londres, e desde então tenho lido e ouvido muitas críticas desfavoráveis ao projeto, particularmente de estudantes de arquitetura. Na verdade as críticas vão em direção às imagens renderizadas, expostas aqui acima, que são nossa única e principal fonte de conhecimento do projeto. Mesmo sabendo que "renders" não são o forte do escritório de Zumthor e que não conseguem ser suficientemente válidos para uma análise de um projeto seu, senti a necessidade de compartilhar com vocês no blog minha apreensão do pouco que entendi e espero a respeito deste pavilhão.

 
     Antes disso, não conseguiria deixar de associar a decepção de grande parte dos estudantes sobre o pavilhão de Zumthor com a decepção que também vi terem sobre a escolha do novo prêmio Pritzker (2), o português Eduardo Souto de Moura. Não à toa o juri que laureou Souto de Moura em 2011 foi o mesmo exato que concedeu o mesmo prêmio dois anos antes à Zumthor. Entendo que se crie uma expectativa a respeito do novo pavilhão se baseando em seus antecessores e se estabelecendo uma comparação óbvia com o último trabalho exposto, no caso de Zumthor tivemos ano passado um pavilhão do arquiteto francês Jean Nouvel. O mesmo vale para o prêmio Pritzker, que também revela na lista de premiados uma linha de raciocínio e uma expectativa para o grande público a respeito do próximo a ser laureado. Contudo, vejo que há sempre uma predisposição dos jovens arquitetos e estudantes a gostar daquela arquitetura que explode aos olhos e comove em segundos, como em uma fotografia, coisa que o pavilhão todo vermelho de Nouvel faz maravilhosamente, a exemplo do que também acontece na obra "Quarto vermelho" do artista brasileiro Cildo Meireles.





 
     Nesse sentido, acho que tanto Zumthor quanto Souto de Moura nos falam de uma outra experiência de arquitetura que não é a mesma de Nouvel ou Zaha Hadid. Suas heranças com a tectônica da arquitetura, com sua materialidade e com sua relação com o tempo e a nossa existência são totalmente diversas de uma arquitetura que nos salta aos olhos como uma fotografia colorida que nos faz parar em uma das diversas páginas de uma revista. Faço esta comparação exatamente pelo fato de que a maioria das críticas sobre o novo projeto de pavilhão de Zumthor se deve as imagens expostas pela mídia e não a respeito da experiência de se vivenciar essa arquitetura.

 
     Sendo assim, quando vejo o novo pavilhão de Zumthor para o Serpentine, de cara também não gosto das imagens. Elas certamente não me saltam aos olhos! Justamente por isso, e por admirar muito Zumthor, tento pensar em seu processo e em sua arquitetura, tentando retomar seus passos anteriores até chegar ao projeto do pavilhão e a essas imagens.

 
     Fazendo isso, tento me aproximar do princípio da proposta que lhe foi dada, àquele momento vazio e branco em que não se tem absolutamente nada e que se precisa buscar, como arquiteto, algum encaminhamento e alguma motivação para o projeto que foi solicitado. Nesse momento, me parece que uma das primeiras questões que surgem, e que tentando pensar como Zumthor talvez lhe tenha surgido também, é a respeito do que é este pavilhão em seu aspecto mais essencial.

 
     Então, o que vem primeiro a minha cabeça é que estamos tratando de um pavilhão temporário, a ser construído e exposto no verão, por um arquiteto escolhido no inverno e que no outono será desmontado para que em um próximo ano o ciclo recomece com a escolha de um outro arquiteto no inverno seguinte. No que isso nos leva? Certamente a algo muito diferente do que estamos acostumados a ver na obra de Zumthor, que tem como forte característica uma arquitetura que evoca a permanência e abusa de pedras e materiais de grande durabilidade no tempo.

     Pois como então ele se aproximaria dessas questões que aqui expomos? No momento dessa pergunta, fica claro para mim a escolha de se construir um jardim só de flores, como vimos nas imagens do projeto. Afinal, que outra coisa viria a nossa cabeça depois de pensarmos em algo que é exuberante no verão, que no inverno era só plano e que no outono nos abandona?

 
     Voltando às imagens do projeto acabo enxergando-o de uma outra maneira. Quase consigo estar naquela arquitetura e sentir a atmosfera criada pelo cheiro daquelas muitas flores. Quase consigo tocar nas paredes pretas de pedra e sentir o calor vindo de um sol tão raro e tão esperado em terras inglesas. Pedras essas que certamente rolarão para outro lugar no final da estação, como numa grande transformação da natureza. O mesmo espero dessas flores, que morrerão dia-a-dia até o pavilhão estar vazio, quase que anunciando o final do verão.


Notas:
(1) O Serpentine Pavillion é um evento anual da inglesa Serpentine Gallery que convoca renomados arquitetos de prestígio internacional para projetarem um pavilhão em um parque londrino. O nosso Oscar Niemeyer já teve um pavilhão lá, assim como o português Souto de Moura.
(2) O prêmio Pritzker é a maior premiação da arquitetura mundial, elegendo anualmente um arquiteto que possua uma obra representativa a ser laureado. www.pritzkerprize.com

Links das fotos:
Pavilhão Nouvel
Quarto Vermelho do Cildo

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