Se a um primeiro olhar impressiona e cativa o grande número de usuários do novo SESC Belenzinho, na zona Leste da cidade de São Paulo, por outro a precariedade dos espaços públicos e privados externos ao SESC evidencia a fragilidade existente na concentração de tantas atividades de uso público em um único ponto do bairro. Afinal, as unidades SESC são conhecidas por concentrarem em um mesmo lugar piscinas, restaurantes, quadras poliesportivas, teatro, estrutura para shows, salas de exposição, salas de internet gratuita, entre tantos outros espaços de ampla utilização pública. E o que sobra para o restante do bairro? Sem dúvida, o caso do SESC Belenzinho nos retoma a discussão sobre a centralização versus a fragmentação de atividades, espaços e usos públicos no tecido urbano das nossas cidades.
Nesse sentido, retomamos um assunto que foi quase sempre exclusivo dos Shoppings Centers que, ao chegarem a um bairro, destituem a rua como o local para o comércio, para o encontro e, logo, para a socialização. Não é recente nem rara a discussão sobre os atrativos dos Shoppings, com sua estrutura climatizada, segura e com ampla concentração de lojas e atividades, como uma opção ao imaginário da rua como lugar da violência e da exposição aos humores do tempo. Porém, como vemos no caso do SESC Belenzinho, esta mesma discussão não é limitada apenas aos espaços destinados ao consumo.
É claro que é indiscutivelmente melhor ver um espaço de cultura e lazer sendo indutor da centralização de pessoas e atividades, como as Unidades SESC, a ver esse mesmo movimento acontecendo com um Shopping Center. Porém, se a disputa entre esses dois mega complexos é benéfica para a discussão da cultura em oposição ao consumo, por outro lado o impacto de ambos os espaços pode ser igualmente nocivo às configurações e usos da cidade.
No caso do SESC Belenzinho, enquanto encontramos a unidade tomada por pessoas nas mais diversas atividades, as ruas do bairro aparecem esvaziadas e silenciosas, servindo em grande parte apenas ao tráfego de veículos e de algumas poucas pessoas. Se a atratividade do SESC movimenta as ruas ao redor, trazendo moradores de outras partes da cidade, e poderia servir como revitalizador do seu entorno, infelizmente a grande concentração de atividades esgota possíveis outros usos no entorno. Apenas um pequeno e efêmero comércio espontâneo, com algumas barraquinhas de doces e sorvetes, surge bem em frente aos acessos do SESC.
O que acontece neste caso é o mesmo resultado dos grandes Shoppings Centers que, na maioria das vezes, não conseguem transferir para a rua o seu potencial atrativo pela renovação do fluxo de pessoas. Pelo contrário, por esgotarem potenciais para empreendimentos, tornam a rua simples passagem para o acesso a esses espaços de uso público restrito e alimentam sua imagem de insegura e sem atrativos. Não é raro ver ao redor do SESC Belenzinho a presença de moradores de rua e o abandono de praças e estruturas urbanas.
Dentro disso, não é a toa que cada vez as Unidades SESC se pareçam mais com Shoppings Centers. Elementos como escadas rolantes, pisos de pedra polida e climatização artificial já fazem parte do repertório dos novos SESCs. No caso do SESC Belenzinho o Átrio central também lembra muito os grandes átrios dos shoppings. Além disso, a relação com a rua é sempre limitada e nunca generosa, predominando muros e grades com poucos espaços ambíguos. Por que precisamos repetir nos SESCs o modelo fracassado (em termos urbanos) dos Shoppings? Apenas para atrair o mesmo público já acostumado com essas estruturas? Não existem pontos importantes para repensarmos as próximas unidades a serem construídas?
Para mim, a boa vontade em oferecer o maior número possível de atividades e serviços, reservando apenas ao SESC os esforços para fazer importantes oferecimentos de lazer e cultura à população, impede a importante divisão desta tarefa entre os diversos setores da sociedade. Nesse sentido, pensar um limite sustentável para as próximas unidades pode ser uma boa forma de transformá-las em indutores de melhorias para seu entorno e respeitar as obrigações dos outros setores. A pracinha merece uma boa quadra, a esquina merece um belo bar, o bairro precisa da iniciativa de um bom clube e as unidades SESC podem servir de âncora e grande padrinho para essas transformações.
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