Bom, acho que já deu pra perceber que este blog veio pra falar um pouco do processo de construção do projeto VII que estou fazendo em grupo na FAUUSP. Espero que acompanhem, critiquem, me ajudem e (vou torcer muito pra isso) gostem do que vai estar em processo aqui. Enquanto não monto a primeira prancha e divulgo pra vocês, vou escrevendo e conversando sobre as referências que tenho encontrado. É tão incrível quando parece que tudo se encaixa e quanto mais se procura menos se perde e mais se acha. Estou empolgado!rs
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As fotos aí em cima são uma nova aquisição. A segunda eu descobri em um site muito bacana chamado SãoPauloAbandonada.com, vale uma visita. Já a primeira foi encontrada a esmo numa busca quase sem rumo pelo google. Acho que as duas se encontram e vão muito no sentido daquilo escrito na última postagem sobre a infiltração do MAMSP na Marquise do Ibirapuera.
Para quem não conhece as fotos, a primeira é uma imagem da Favela do Esqueleto na década de 60, antes de desaparecer por completo e dar lugar ao conjunto de edifícios da UERJ, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
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Vindo de São Paulo para o Rio, neste feriadão, eu passei por uma favela na Avenida Brasil, na altura de Bunsucesso, Zona Norte do Rio, que se emaranhava e crescia junto ao esqueleto de um edifício que não foi concluido. Cheguei em casa e resolvi procurar pela favela no google mas, sorte a minha, me deparei com a história da favela do esqueleto. As duas se parecem muito, pois nos dois casos o terreno abandonado e o abrigo proporcionado pela antiga estrutura do edifício incompleto respaldaram o surgimento de pequenos casebres autoconstruidos. O mesmo aconteceu com o MAM de São Paulo que se abrigou provisoriamente embaixo da Marquise do Ibirapuera até se incorporar à ele por completo. O bonito dos dois casos, e o que mais me atrai neles é que, embora diferentes em suas origens, ambos tiveram uma trajetória parecida de mutação do espaço construido abaixo das estruturas que os abrigam. O MAM começou como um prisma simples e depois de duas intervenções, a última feita pela Lina Bo Bardi, está como é hoje - consolidado (ou não). As duas favelas, como já é próprio delas, também permanecem em constante modificação e acréscimos abaixo do esqueleto que as alberga.
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Acho que o ímpeto para o projeto passa por aí. Pensar nessas nossas cidades de prédios incompletos, de abandonos, de tempos que se sobrepõe. Uma construção nova não se acaba e parece em pouco tempo mais velha que um edifício construido muitos anos antes dela. Quais são nossas ruínas? Quantos tempos distintos existem na cidade? Construir é garantia de permanência no tempo? O que é um prédio incompleto? Ou melhor, o que é uma arquitetura completa?
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Talvez o primeiro passo ou a primeira vontade seja de construir uma arquitetura incompleta, uma arquitetura abandonada. É possível? Uma arquitetura esqueleto, esquelética em que outras possam se abrigar e se infiltrar como congumelos e plantas que se albergam num tronco morto no meio da mata. Quantos tempos distintos existem num tronco desses? Nasce um fungo, cresce uma planta, morre um inseto e camadas de vidas se sobrepõe ao mesmo passo em que camadas distintas do tempo se cruzam. Quantos tempos pode abrigar uma mesma arquitetura?
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