segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Árvore do Museu (ou Viva Elvira de Almeida!)






          A paisagem é um acontecimento. É poça nova de um dia depois da chuva, é planta que surge da fresta de uma calçada torta, é fruta que cai de madura, é raio, é chuva, é pisada de havaiana na terra molhada, é folha seca que faz barulho pelo caminho. Na paisagem tudo é fruto de uma ação, de um ato, de uma transformação.

         Outro dia, passeando pelos Jardins do Museu da República, no Rio, me deparei com esse lindo tronco de árvore estirado no gramado. Contorcido e em pedaços, o tronco parecia chamar para a brincadeira de uma criança ou para a contemplação de um visitante curioso. Resultado do tempo, que a fez envelhecer, ou da tempestade, que a fez ruir, a árvore que ali estava já havia tomado um outro lugar naquele jardim. 





     Cara a cara com o playground de brinquedos de plástico do Museu, logo lembrei das esculturas lúdicas da Elvira de Almeida e de um dos seus trabalhos que mais gosto: A Árvore da FAU. Elvira, que foi professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, levou uma árvore inteira que havia tombado em frente à faculdade para o Parque do Ibirapuera, planejando para aquele tronco de árvore um destino mais alegre que o apodrecimento ou a lixeira.

        Assim fez um incrível brinquedo tão simples e tão lúdico como nenhum daqueles de plástico que eu estava vendo poderiam ser. Nossa alienação em relação à natureza, suas transformações e mudanças, não precisaria ser tanta se pudéssemos incluir estes pequenos acontecimentos da paisagem no nosso cotidiano. Fosse para a brincadeira de uma criança, para a criação de um playground, para a construção de uma cidade ou até mesmo para a realização de uma nova maneira de construir um planeta. Viva Elvira de Almeida! 

p.s. ARTE LÚDICA, o livro sobre a obra de Elvira editado pela EDUSP, está em falta nas livrarias. É um daqueles livros que precisam ser reeditados mais que urgentemente para continuar fazendo reverberar os incríveis trabalhos de geniais artistas como Elvira de Almeida!


E, por fim, meus bobos croquis muito mal escaneados de uma Árvore do Museu:








2 comentários:

  1. Adorei! Adorava inclusive brincar em alguns desses troncos tombados quando era criança. O museu da república sempre apresenta esse ar lúdico para todos. É como se fosse outro tempo, outra coisa diferente de cidade. Gostei do texto. Acabei conhecendo uma arquiteta que não conhecia =)e que me interessei muito pelo trabalho.

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  2. Que bom que gostou e se lembrou de momentos bons da infância, Estéfany! E que maravilhoso poder apresentar Elvira pra você. Se quiser conhecer um pouco mais sobre ela o link do livro, mesmo sem algumas páginas para visualização, é super bacana: http://books.google.com.br/books?id=WkxwHYqxUFsC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false
    Beijo!

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