No início desta semana chegou ao fim a 9ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, maior evento de arquitetura do país que esteve aberto ao público no pavilhão da OCA entre os dias 2 de Novembro e 4 de Dezembro. Marcada por controvérsias e dificuldades, que vão desde a impossibilidade de continuar realizando o evento no Pavilhão da Bienal (1) até a divulgação de uma polêmica carta-protesto de importantes escritórios de arquitetura (2), a NonaBia, como assim foi carinhosamente chamada pelos seus organizadores, termina com as atenções já voltadas para a próxima Bienal, a ser realizada em 2013. Afinal, daqui a dois anos a Bienal de Arquitetura de São Paulo completará dez edições do evento e terá que enfrentar o desafio de comemorar esta data retomando o seu prestígio e público perdidos.
Nesse sentido, não há momento mais significativo do que este para se fazer um balanço das edições anteriores e se pensar o futuro das próximas bienais. No modelo atual da Bienal de Arquitetura, como vimos claramente neste ano, predominam os stands das representações de países estrangeiros e as mostras com trabalhos de arquitetura enviados de todo o país, apresentados principalmente através de maquetes e pranchas. No caso das representações estrangeiras suas instituições e colegiados de arquitetura são chamados a contribuir com a Bienal brasileira enviando seus stands e também cuidando da sua manutenção durante todo o evento. Além disso, dependendo do perfil de cada ano, ainda podemos encontrar stands de governos e da iniciativa privada.
Na NonaBia houve um avanço importante, porém ainda discreto, especialmente no que diz respeito ao modelo de apresentação dos trabalhos. Ao lado de cavaletes com materiais impressos e suas respectivas maquetes, computadores disponibilizavam para os visitantes um banco digital de projetos com um número maior do que aqueles que se encontravam ali no papel. Se por um lado houve reclamações por parte daqueles arquitetos que tiveram suas obras expostas apenas nas telinhas, por outro a possibilidade de se abarcar o maior número possível de projetos parece ser a maneira mais inteligente de divulgar e trocar informações. Hoje em dia, com toda a facilidade que temos na circulação de imagens e informações de projetos de arquitetura por meios virtuais, se torna quase injustificável a função inicial da Bienal de servir apenas como plataforma para conhecermos projetos novos. Sendo assim, mais do que selecionar e apresentar projetos de arquitetura, a Bienal precisa assumir cada vez mais seu papel mediador e se afastar do modelo desgastado de exposição de trabalhos que na maioria das vezes já são amplamente conhecidos.
Neste ponto, tratando da capacidade do evento de mobilizar arquitetos de todo o mundo e chamá-los para um encontro comum de diálogo, a Bienal de Arquitetura de São Paulo, mesmo com a baixa freqüência do último evento, continua demonstrando grande vitalidade, tanto que nenhum outro evento de arquitetura no país conseguiu substituí-la. Pensando assim, talvez valha à pena avaliarmos, jogando os olhos pro passado e repensando o que queremos para as próximas edições do evento, o quanto não se estava abrindo mão de um foco mais robusto na característica brasileira de promover eventos em que o principal é a pessoa, o encontro e a festa. Mesmo que a homenageada especial seja a arquitetura!
À exemplo da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, em que a literatura é posta em festa, com bate-papos, música e saraus, talvez seja uma vocação da Bienal de Arquitetura e da própria cidade de São Paulo agregar pessoas de diferentes partes do país e do mundo para dialogarem juntas sobre arquitetura com um olhar mais leve em que haja mais espaço para o intercâmbio do que para os produtos em si da arquitetura. Desta maneira, como já acontecem em outras bienais espalhadas pelo mundo que possuem características tão emblemáticas, como a de Veneza, consolidaríamos um caráter próprio para a Bienal de Arquitetura de São Paulo e valorizaríamos algo que há anos já se mostra mais forte e mais significativo de todas as mostras: o valor do encontro.
Sendo assim, diferente do que possa parecer, não seria necessário abrir mão de características do modelo tradicional para se chegar a uma nova Bienal. Pelo contrário, seria apenas necessário um movimento de valorizar o que está dando certo e buscar novas soluções para o que já parece desgastado e sem sentido. Um exemplo bacana vem da exposição BAUKULTUR “Made in Germany”, em que os trabalhos da representação alemã na Bienal de Arquitetura foram expostos fora da OCA em mostra paralela no Centro Cultural São Paulo. Ficou clara a possibilidade de se fragmentar mais pelos espaços da cidade aqueles stands das representações estrangeiras e aproximar o evento de todas as instituições culturais de São Paulo. Afinal, não há como realizar eventos como a Bienal abrindo mão de instituições tão fortes de intercâmbio cultural e expressão em suas ações na cidade de São Paulo como a Fundação Japão ou o Instituto Cervantes. No caso da BAUKULTUR, diretamente envolvido com o Instituto Goethe, isso fica evidente.
Desta maneira, a Bienal se aproximaria em grande parte do modelo da MIRA – Mostra Internacional Rio Arquitetura, em que as exposições ficavam espalhadas por museus e instituições da cidade do Rio de Janeiro. Esse pode ser um caminho mais interessante de democratizar a discussão da arquitetura com todos, tema da NonaBia, do que apenas passear com o material da Bienal pelos SESCs do Estado de São Paulo ou utilizar estações de metrô para exposições, como vimos este ano. Outras exposições itinerantes mundiais, aliás, que muitas vezes não vemos expostas no Brasil, como a de Rogelio Salmona, poderiam ser planejadas para acontecer paralelamente à Bienal de Arquitetura como um evento a ser agregado definitivamente pelo calendário de eventos da cidade. E isso envolveria inclusive um apoio mais vigoroso da prefeitura de São Paulo, que sempre apresenta seu stand neste evento.
Enfim, é claro que não faltam outros modelos para estudarmos e trabalharmos juntos na conclusão do que nos parece mais interessante para o futuro da Bienal de Arquitetura de São Paulo. Fato é que terminada a 9º edição do evento já é hora de se pensar na próxima, pois não podemos abrir mão de um valioso tempo que foi determinante para que o evento deste ano ficasse tão aquém do que gostaríamos. É preciso que todos possam participar desta discussão e que ela não fique apenas restrita ao IAB, com realização de fóruns e discussões com as instituições de arquitetura, faculdades, estudantes, profissionais e todos aqueles que já participaram e possam contribuir com o futuro da Bienal de Arquitetura. Esse desejo ficou claro na carta dos escritórios de arquitetura e parece ser justo para a construção da Bienal que queremos. Vamos começar esta discussão conjunta?